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Reportagem

“Foi o maior desafio da nossa história”

Diretor executivo da Fundação Butantan, Dimas Covas avalia o papel da instituição no combate à pandemia de covid-19

Quais as principais conquistas do Butantan em 2022, depois de um ano tão marcante como 2021?

Além de fazer a Coronavac chegar ao braço da população no Brasil inteiro, o Butantan não deixou de entregar 80 milhões de doses de vacinas da influenza, 6,5 milhões de doses de vacina de HPV e de nenhuma outra vacina. Ou seja, além de se comprometer e realizar as entregas que já são colossais e fundamentais para o Plano Nacional de Imunizações, conseguiu entregar mais de 100 milhões de doses de vacina contra a covid-19.

Em relação à Butanvac, vacina contra a covid totalmente fabricada no Brasil, foi preciso redesenhar o estudo devido ao rápido avanço da vacinação. Não tínhamos como fazer um ensaio clínico tradicional, com pessoas vacinadas e outras não, impedindo os voluntários de se imunizarem. Houve progresso e a Anvisa acaba de aprovar a fase II de ensaios clínicos. A vacina da dengue continua no curso planejado e o imunizante contra chikungunya teve seu ensaio clínico de fase III em adolescentes iniciado este ano, também conforme o esperado. 

Conseguimos dar andamento ao acordo com a farmacêutica Sandoz para a transferência de tecnologia para produção de anticorpos monoclonais, um biofármaco de fronteira no tratamento de doenças que será produzido integralmente em fábricas do Butantan. Outro destaque foi a inauguração dos Núcleos de Terapias Avançadas em São Paulo e Ribeirão Preto. Estes centros poderão realizar 300 tratamentos contra linfomas e leucemias usando a tecnologia CAR-T, considerada o futuro do tratamento para cânceres. Por fim, o Parque da Ciência, nosso complexo de museus, lazer, cultura e atividades educativas, foi reaberto e bateu recorde de visitação. Isso é um reconhecimento da população sobre nossa atuação durante a pandemia. 

Como foi o desafio da covid-19 sob o ponto de vista da gestão?

A Fundação Butantan é o motor central das atividades do Instituto Butantan. Por ser uma entidade de caráter jurídico privado e sem fins lucrativos, todos os recursos capitaneados e recebidos pela Fundação são direcionados para suprir as necessidades do Instituto. Um exemplo muito simples é que, com a pandemia, o Butantan precisou aumentar seus recursos humanos, pois o volume de trabalho aumentou em todos os níveis de atuação do Instituto. A Fundação Butantan permitiu que processos seletivos de contratação pudessem ser realizados rapidamente, tal qual na iniciativa privada, para que o Butantan não parasse na pandemia. 

Várias ações foram desenvolvidas para acelerar pesquisas, diagnósticos, monitoramento de variantes e desenvolvimento de vacinas. Um exemplo foi o projeto S, que ajudou a determinar a efetividade da vacina Coronavac em uma população inteira de uma cidade durante a pandemia. Foi um estudo pioneiro que transformou Serrana, interior de São Paulo, em um “laboratório a céu aberto”, permitindo compreender e estudar o comportamento do vírus durante a pandemia.

De onde vem a renda da Fundação Butantan?

A maior parte da receita da Fundação Butantan é proveniente do fornecimento de soros e vacinas ao Ministério da Saúde. A pandemia de covid-19 reforçou a importância da ciência e resultou em um esforço coletivo da população, não só dos cientistas, para combater o vírus. Isso se refletiu em doações a diversas universidades e instituições de pesquisa, como o Instituto Butantan, por meio de sua Fundação. 

Conforme apontado em relatórios disponíveis no site, a Fundação recebeu um total de R$ 106,5 milhões em doações em 2020 e 2021. Também recebeu apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Ministério Público do Trabalho, totalizando R$ 38,3 milhões. O dinheiro foi destinado a ações de combate ao coronavírus, como estudos clínicos, construção do Centro de Produção Multipropósito de Vacinas (CPMV), aquisição de equipamentos para produção de vacina contra o SARS-CoV-2 e de testes de diagnóstico. As doações foram de extrema importância para acelerar as pesquisas e mitigar os efeitos da pandemia no Brasil.

A pandemia de covid-19 foi o maior desafio dos 120 anos de existência do Instituto Butantan?

Uma instituição com tantas décadas de existência já enfrentou muitos desafios, sem dúvida. Aqui houve, ao longo desses anos todos, muitas descobertas e muita inovação. Se considerarmos os conhecimentos da ciência no começo do século passado, não é difícil imaginar o tamanho dos desafios enfrentados. Mas, mesmo com tudo o que conhecemos hoje em termos científicos e tecnológicos, essa pandemia foi, com certeza, o maior desafio que enfrentamos no Butantan. E não só aqui. Foi o maior desafio enfrentado pela humanidade nos últimos 120 anos, que tiveram guerras e muitas adversidades, mas nenhuma que tenha atingido toda a humanidade de forma simultânea como essa pandemia.

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