Economia quase estagnada preocupa varejistas

Depois de as vendas crescerem 1% em 2018, projeção para este ano é de 0,8%

A tão esperada retomada econômica ainda está passando longe dos corredores do varejo brasileiro. O tímido crescimento do ano passado, no entanto, deixou o setor esperançoso de que 2019 poderia ser um ano diferente, mas na prática não é isso que está ocorrendo. “Andamos de lado no ano passado e o mesmo está acontecendo este ano. O consumo está correlacionado ao PIB (Produto Interno Bruto), que é quase zero atualmente”, diz Marcelo Silva, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). Depois de amargar queda no faturamento de 3,5% em 2016, o setor viu as vendas aumentarem 1% nos últimos dois anos. Para 2019, a projeção é de expansão de apenas 0,8%.

“Ano passado, tivemos o efeito Copa do Mundo, que é bom para determinados setores, como eletrodomésticos, mas a greve afetou muito em maio e junho para alguns setores”, comenta Silva. Também houve perdas com a alta inadimplência entre os trabalhadores brasileiros. De acordo com a Serasa Experian, foram contabilizados 62,5 milhões de brasileiros com dívidas em atraso, um aumento de 3,5% comparando com os dados do ano anterior.

“O desemprego continua alto, assim como o endividamento, mas a expectativa é de que as pessoas consigam pagar as dívidas com a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e recuperem o crédito. Isso seria muito bom para o consumo”, considera o representante do instituto.

Além do FGTS, medidas como a reforma da Previdência, maior austeridade fiscal, redução do compulsório dos bancos e mudança no indexador do financiamento imobiliário pela Caixa contribuem para melhorar o ambiente de negócios. “São várias medidas que tendem a restabelecer a confiança do consumidor. Estamos torcendo para que o último trimestre deste ano seja melhor, porque precisamos sair deste ciclo”, avalia Silva.

Reinventar-se diante das adversidades foi a estratégia usada pelos grupos que lideram o ranking Estadão Empresas Mais do setor de Varejo: Assaí Atacadista, Magazine Luiza e Raia Drogasil.

Com um mix de 44 mil modelos de produtos em seu site, a medalha de ouro na categoria Varejo, Magazine Luiza, se destaca também por sua atuação no mercado virtual. Atualmente, a empresa conta com mais de 740 lojas, nove centros de distribuição e três escritórios, espalhados por 16 Estados brasileiros. De acordo com relatório de administração divulgado no fim do ano passado, o grupo registra mais de 17 milhões de clientes ativos. O que representa 13% do mercado consumidor do País.

Na terceira colocação, a Raia Drogasil atende cerca de 700 mil clientes diariamente nas quase 2 mil lojas espalhadas por 20 Estados brasileiros. No ano passado, a companhia atingiu a marca de R$ 15,5 bilhões de faturamento, alta de 12% na comparação com o ano anterior. Para o presidente da rede, Marcilio Pousada, um dos diferenciais da empresa é o atendimento. “Temos um atendimento profissionalizado e próximo ao cliente. Nos últimos 20 anos, não contratamos ninguém de fora para o cargo de gerência. Todos os 2 mil gerentes entraram em outras funções e foram treinados para assumir o cargo”, diz o executivo.

Atacadista conta com 150 lojas em funcionamento no País e tem outras 18 em construção

Plano vencedor atinge pequeno comerciante e consumidor final

Grupo planeja faturar R$ 30 bilhões este ano e, até 2021, abrir lojas em todos os Estados brasileiros

Chamado de atacarejo, por congregar vendas tanto no atacado quanto no varejo, o Assaí Atacadista encabeça o ranking Estadão Empresas Mais na categoria Varejo. Criada a princípio para atender o pequeno comerciante, a empresa, ao oferecer preços baixos, atraiu também o consumidor final e desde 2011 passou a vender em menores quantidades, mas com valores normalmente mais atraentes do que no varejo tradicional. “Com isso, os consumidores podem comprar com preço de atacado, mas em quantidade menor”, diz Belmiro Gomes, presidente do Assaí Atacadista.

De acordo com ele, os produtos custam perto de 15% menos do que no varejo, chegando a 20% de economia em alguns casos. Em 2008, quando o GPA (Grupo Pão de Açúcar) adquiriu 60% do Assaí, o atacadista faturava R$ 1,4 bilhão. Em 2010, o GPA adquiriu o restante das ações do Assaí. No ano passado, o faturamento atingiu a marca de R$ 24,9 bilhões, alta de 22% na comparação com 2017, e a meta para 2019 é chegar a R$ 30 bilhões. A empresa tem 150 lojas abertas e outras 18 em construção, todas com gestão própria. A rede está presente em 19 Estados brasileiros e o objetivo é estar em todas as unidades da Federação até 2021.

Vale destacar que a greve dos caminhoneiros em maio do ano passado, que praticamente parou o País, teve impacto significativo no setor varejista, levando ao desabastecimento de vários produtos. “Mas entre setembro e outubro o impacto da paralisação tinha sido superado. No fim, o impacto total ficou entre 1,5% e 2%. Durante o período da greve, foi bem significativo, mas no fim o impacto total não foi tão grande”, destaca o representante da rede atacadista.

“Investimos cerca de R$ 1 bilhão em expansão e temos 304 mil metros quadrados em construção” Belmiro Gomes, Presidente

Um dos motivos para o crescimento constante da rede, na avaliação do executivo, é a conquista de novos clientes. “Investimos cerca de R$ 1 bilhão em expansão e temos 304 mil metros quadrados em construção”, enfatiza Gomes. De acordo com ele, o investimento na reformulação das lojas, que começou em 2011, tem contribuído para atrair um novo público comprador. As lojas deixam de ser apenas para as classes econômicas mais baixas e passam a atender também clientes com maior poder aquisitivo. Dezoito novas unidades contam com ar-condicionado, iluminação diferenciada, ampliação do sortimento de produtos e adequação regional.

Mudança de perfil

Nas lojas do grupo é comum estarem disponíveis mais de 7 mil itens. “No ano passado, atendemos 2,5 milhões de domicílios e foram realizados 16 milhões de transações no período. E já é a maior bandeira dentro do grupo Casino no mundo.”

Outro ponto que o executivo destaca é a mudança no perfil das vendas das lojas. Tradicionalmente, as chamadas redes de atacarejo registram crescimento no faturamento durante os períodos de crise econômica, quando os trabalhadores buscam alternativas para reduzir as despesas, mas costumam amargar quedas nas vendas quando as dificuldades financeiras passam.

Esse fenômeno, no entanto, está mudando com a expansão constante do setor, mesmo em períodos de crescimento da economia. Para o executivo da companhia, a rede está se consolidando como uma opção para que o cliente gaste menos nas suas compras. O que tem chegado, também, aos consumidores do topo da pirâmide social.

Desde 2014, algumas lojas Assaí passaram a destinar seus resíduos orgânicos para a compostagem. Com o objetivo de minimizar os impactos ambientais, a ação resulta no reaproveitamento de 40% dos resíduos das lojas que, em vez de irem para aterros, são utilizados para a produção de adubo.

Agora, a empresa começa a trabalhar com a experiência da automação das vendas. Com isso, não existe papel sendo usado nas transações dos produtos. “A sustentabilidade é uma preocupação constante da companhia”, afirma Gomes.