Gigantismo contrasta com redução na produção

Afetado por uma série de fatores externos no primeiro semestre, segmento espera se recuperar até o fim do ano e manter crescimento

Cerca de 9 bilhões de peças são confeccionadas anualmente pela indústria têxtil e de confecção no País, o que gerou mais de R$ 52,5 bilhões de faturamento só no ano passado. Apesar dos números grandiosos, em 2018, o setor amargou queda de 2,9% na produção e redução de 1,3% nas vendas. Em 2017, o segmento apresentou alta de 4,3% na produção e de 7,6% nas vendas. A meta era manter uma expansão semelhante no ano passado, mas uma série de fatores levou ao tombo verificado em 2018. “Iniciamos 2018 muito bem, cumprindo nossas metas, mas veio a greve dos caminhoneiros, Copa do Mundo, que levou ao esvaziamento das lojas e a outro tipo de comércio, como bandeiras, e por fim as eleições com toda a polarização”, diz Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). “Entre 2015 e 2016, houve uma catástrofe, com uma recessão, que levou à queda de 17% na indústria e no varejo. Foram 100 mil empregos diretos perdidos”, destaca Pimentel. De acordo com o ranking

Estadão Empresas Mais, o destaque do setor é o trio de companhias formado por Beira Rio, Alpargatas e Grendene.

Dona das marcas Havaianas, Osklen, Mizuno e Dupé, a Alpargatas é um ponto fora da curva dentro do setor e comemora os resultados de 2018, com receita líquida de R$ 3,9 bilhões, registrando aumento de 4,9% na comparação com a de 2017. “A Alpargatas tem trabalhado cada vez mais para se tornar uma companhia global, digital, inovadora e sustentável. No Brasil, tivemos ganho de market share em todos os canais. As vendas de Havaianas e Osklen no conceito direct to consumer (DTC:  mesmas lojas + e-commerce) apresentaram respectivamente crescimento de 17% e 21%”, exemplifica Roberto Funari, presidente da Alpargatas. “A Alpargatas encerrou o segundo trimestre do ano com alta de 73% no lucro líquido consolidado, totalizando R$ 31,6 milhões ante os R$ 18,3 milhões do mesmo período em 2018.”

A Grendene, dona de marcas como Melissa, Rider e Ipanema, produziu no ano passado 170 milhões de pares, pequena redução na comparação com o ano anterior, quando saíram da linha de produção das 11 unidades fabris da companhia 171 milhões de unidades, mas bem atrás do pico de 2013, quando a empresa atingiu a marca de 216 milhões de pares. “A expectativa é de que a economia prospere e o desemprego caia. Este não será um ano de grande crescimento. Esperamos uma grande aceleração para o ano que vem”, diz Francisco Schmidt, CFO da Grendene.

O cenário de estagnação da economia levou o setor a revisar as projeções para este ano. No fim do ano passado, a expectativa era de expansão de 3% a 3,5% no setor, com a geração de 10 mil vagas de trabalho. “Reformulamos as projeções para este ano e hoje trabalhamos com alta de 0,8% na produção e de 1% a 1,5% no varejo. O saldo de emprego deve ficar neutro”, avalia o representante do setor. Segundo Pimentel, a turbulência política de 2019 e o risco em relação às reformas podem reduzir a expectativa favorável sobre a agenda econômica nacional, que tem sido bastante influenciada pela agenda política.

Beira Rio opera 11 unidades fabris localizadas no Estado do Rio Grande do Sul

Reinvenção a partir da aposta em inovação

Transformação estratégica contínua gera grande melhora no faturamento

Algumas empresas têm o poder de se reinventar diante de cenários desafiadores. A Beira Rio, campeã do ranking Estadão Empresas Mais na categoria Têxtil e Vestuário, apostou em inovações e viu seu faturamento saltar de R$ 1,7 bilhão em 2013 para R$ 3,5 bilhões no ano passado.

Na comparação com 2017, o ano passado registrou alta de 12%. “No biênio 2018/2019, o mercado vem se mostrando mais retraído. Mas essa retração nos impulsiona a desenvolver novos processos. Injetamos muito mais inovação nos produtos e também nos pontos de venda”, diz Maribel Silva, diretora comercial e de Marketing da calçados Beira Rio.

Em novembro de 2018, a companhia de vestuário lançou a marca Actvitta, que traz linhas para mulheres e homens e é destinada a atender o consumo wellness.

De acordo com a executiva, o resultado do ano passado foi possível graças ao balizamento de preços mercado a mercado, com pesquisa contínua e que engloba o comportamento de consumo atrelado aos múltiplos cenários econômicos. “Dessa forma, cadenciamos o mix de produtos ofertados, deixando-os alinhados com a realidade e o potencial de vendas de cada região.”

Para 2019, a companhia projeta crescimento de 5% no faturamento. “As dificuldades continuam neste ano e procuramos enfrentar sempre com soluções para o mercado e para os clientes”, afirma a executiva. “Muito mais do que uma mudança, a companhia já traz no seu core business uma cultura de transformação estratégica continuada, absorvendo e aplicando rapidamente o dinamismo que o varejo e o consumo demandam”, complementa Maribel.

“Faz parte do nosso plano estratégico atuar de forma coerente e obter mais espaço no cenário global, com a valorização do nosso produto nacional” Maribel Silva, Diretora comercial e de Marketing 

Além da Beira Rio, a fabricante tem ainda as marcas Moleca, Vizzano, Molekinha, Molekinho, Modare Ultraconforto e Actvitta, que juntas contabilizaram 107,8 milhões de pares de calçados em 2018, alta de 11,2% em relação à produção do ano anterior. Para se ter uma ideia do crescimento nos últimos anos, em 2013, a empresa produziu 58,6 milhões de pares. “Temos um mix de produtos atemporais e lançamentos constantes seguindo as tendências mundiais”, conta Maribel, que considera o investimento em moda uma forma de inserção social. A projeção da empresa é chegar a 120 milhões de pares neste ano. “Hoje estamos com uma produção diária de 490 mil pares de sapatos”, diz a executiva.

Sustentabilidade

Uma preocupação constante da companhia brasileira é em relação à sustentabilidade. Nesse sentido, a Beira Rio usa, por exemplo, resíduos de cana-de-açúcar e fibra de coco para a confecção dos solados das suas linhas de calçados. “Temos buscado estratégias e adotado práticas sustentáveis e os produtos começam a chegar com essa identidade”, comenta Maribel.

Segundo a executiva, a empresa, que tem 44 anos de atuação no mercado, iniciou suas operações preparando o mercado, passou depois pela fidelização, pela formação da equipe, por uma preparação ambiental e agora trafega sempre com a sustentabilidade em seu radar.

“Faz parte do nosso plano estratégico atuar de forma coerente e obter mais espaço no cenário global, com a valorização do nosso produto nacional”, detalha a representante da empresa. Segundo Maribel, o grupo tem como objetivo oferecer marcas que se identifiquem com a realidade do mercado e que levem ao consumidor uma mensagem de conforto, mas também de responsabilidade social e de sustentabilidade.

A companhia conta com 9.863 colaboradores em 11 unidades fabris localizadas no Estado do Rio Grande do Sul. “Em muitas das cidades em que temos fábricas, somos os principais empregadores”, diz. A empresa também optou por não ter lojas próprias e atuar em parceria com varejistas. “Nos dedicamos para ter uma ampla variedade de produtos e para que os consumidores encontrem nossos itens em todo o varejo”, afirma a representante da companhia.