Bom momento para captar recursos no exterior

Envelhecimento da população cria cada vez mais demanda

Na contramão do atual cenário macroeconômico brasileiro, o setor de saúde encontra-se em franca expansão. Grandes empresas vêm fazendo suas captações internacionais de recursos e ofertas públicas de ações (IPOs), em um movimento que recomeçou em 2018. O sucesso das operações sustenta o financiamento da expansão do setor.

A inovação também é peça-chave desse panorama. O Grupo Fleury, que apareceu com destaque no ranking Estadão Empresas Mais, investiu R$ 30 milhões em um espaço de inovação para pesquisas e iniciativas acadêmicas e startups, em São Paulo. O também destaque Instituto Butantã, de São Paulo, finaliza os testes de sua vacina contra a dengue, a primeira desenvolvida no Brasil.

De acordo com informações da Hospitalar, maior evento brasileiro do setor, o País está consolidado como o oitavo maior mercado de saúde do mundo, dispondo de 6 mil hospitais e 2 milhões de profissionais de saúde, entre médicos, auxiliares, técnicos e enfermeiros.

Existem mais números grandiosos sobre o mercado nacional. O Brasil ocupa o nono lugar mundial em gastos com saúde, com 9,1% do PIB ou US$ 1.109 per capita (mais de R$ 300 bilhões por ano, segundo o Sebrae). A quarta população médica do mundo, com 2,18 profissionais em mil habitantes, é a brasileira.

“Estamos em um momento muito positivo. E o que se espera é a melhora da condição econômica, que vai reforçar também as contratações no setor privado, fazendo com que as pessoas passem a receber planos de saúde das empresas ou procurem a saúde privada”, afirma Francisco Balestrin, presidente da Federação Mundial de Hospitais (IHF, em inglês) e também do Colégio Brasileiro de Executivos de Saúde (CBEXs). O mercado de seguros de saúde no Brasil tem 47 milhões de pessoas, mas já chegou a atingir 50 milhões de vidas.

Segundo Balestrin, a busca pelo aumento na qualidade de vida e a chamada “transição demográfica” vão incentivar a demanda cada vez mais crescente por serviços de saúde nos próximos anos. “Em 2030, teremos quase 20% da população brasileira acima dos 60 anos de idade. Essa população vai precisar de cuidados médico-hospitalares, exames, medicamentos.”

O tamanho e a complexidade do sistema de saúde brasileiro acabam sendo responsáveis também por várias iniciativas de inovação. Área em que o Brasil vem se destacando nos últimos anos com projetos de qualidade e muitas startups, analisa Marcos Valadares, CEO da Pluricell Biotech, uma das empresas aceleradas no Cietec, centro de inovação da USP.

“Entre as principais desenvolvedoras dessas inovações, estão não só as startups que trabalham diretamente com tecnologia, mas aquelas que ajudam no cotidiano do paciente, com soluções que vão da marcação de consultas até compras de remédio”, explica.

Segundo Valadares, há muita tecnologia também na área de diagnósticos por imagem e biotecnologia. “É um ambiente bem aquecido, o que mostra o interesse em investir em desenvolvimento de longo prazo”, diz o empreendedor.

Grupo é responsável por 44 hospitais que, juntos, somam 7 mil leitos

Alta tecnologia garante sucesso de  desempenho

Maior rede de hospitais privados do País  alia inovação ao treinamento profissional

Com o objetivo de atingir eficiência administrativa máxima e direcionar todos os esforços ao grande foco do negócio, que é atender os pacientes, a Rede D’Or São Luiz resolveu também trabalhar firme em um processo de centralização de todas as atividades consideradas não prioritárias pelo grupo da área de saúde.

Segundo Rodrigo Gavina, vice-presidente da Rede D’Or São Luiz, empresa vencedora da categoria Saúde do ranking Estadão Empresas Mais, a criação de uma central corporativa é um dos grandes segredos do bom desempenho recente da companhia.

O grupo, que forma a maior rede de hospitais privados do Brasil, é responsável por 44 hospitais com 7 mil leitos (com expectativa de chegar a 8,1 mil em cinco anos), 447 mil internações por ano e por mais de 4 milhões de atendimentos emergenciais a cada 12 meses. Fundada em 1977, a empresa está presente em sete Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Pernambuco, Bahia, Sergipe e Maranhão).

Rede de saúde conta com 48 mil colaboradores espalhados pelo Brasil

“Todos os setores que ficam espalhados na maioria dos hospitais e que não têm a ver com nossa atividade principal, como as áreas de recursos humanos, departamentos pessoal, jurídico e financeiro nós trouxemos para uma central, o que abriu caminho para darmos ênfase ao treinamento de pessoal e investirmos em tecnologia para quem está de fato próximo aos pacientes”, explica. “E temos hospitais que atendem da classe A à classe D, democratizando a saúde de qualidade.” No total, são 48 mil colaboradores.

Os passos desse desempenho consistente, e nos últimos sete anos a Rede D’Or São Luiz cresceu 25% ao ano, com receita líquida de R$ 11 bilhões em 2018 (22,5% de aumento no lucro líquido, em relação a 2017), e também em direção à modernidade passam pela transformação digital, como o pioneirismo na área de cirurgias robóticas no Brasil.

“Hoje, temos 14 robôs executando esse trabalho em nossos hospitais, sendo a empresa que mais investiu nesse campo”, afirma Gavina. Quatro mil procedimentos pela via robótica foram feitos. A tecnologia está presente em outras rotinas dos hospitais do grupo. Por meio de videoconferências semanais com outras instituições de renome mundial, os profissionais da área de oncologia trocam informações sobre diagnósticos, auxiliados por inteligência artificial. No campo da anatomia patológica, equipamentos permitem o envio de biópsias e peças cirúrgicas a outros especialistas, para difusão de experiências.

“No ano passado, investimos R$ 20 milhões em um único programa, certificando profissionais em robótica” Rodrigo Gavina, Vice-presidente

Para o futuro, diz Gavina, o horizonte passa por desenvolver localmente tecnologias que possam melhorar a vida do paciente. A empresa vem trabalhando em um sistema sem cabos para monitoramento de pacientes, que permitirá muito mais liberdade nas UTIs, dando maior conforto ao internado e às equipes médicas. São realidades tecnológicas já presentes no ambiente hospitalar os comandos de voz nos quartos e as chamadas da enfermagem por meio de tablets.

Os profissionais da área médica também vêm tendo atenção especial do grupo. Eles recebem treinamentos constantes sobre as novas ferramentas digitais. São 88,7 mil médicos cadastrados, entre os que trabalham na rede ou visitantes dos hospitais. “No ano passado, investimos R$ 20 milhões em um único programa, certificando profissionais em robótica”, revela Gavina. A instituição vem apostando ainda em iniciativas de pesquisa e ensino, inclusive ensino a distância, além da aceleração de startups, por meio do programa de inovação Open D’Or.

Ferramentas de inteligência para melhora da performance dos negócios continuarão a ser aprimoradas. “Há muitos anos, trabalhamos com gerenciamento de dados de pacientes internados em determinado lugar e informações sobre há quanto tempo um pessoa ocupa um leito normal ou de UTI. O mais importante é identificar lacunas e onde é possível melhorar. Aí conseguimos diminuir o tempo de internação do paciente, para que ele fique no leito apenas o necessário, sem desperdício. E com isso aumentamos nossa capacidade”, avalia Gavina.