Saída é vender para a China

Desde 2016, gigante asiático é o país que mais consome celulose do Brasil

A indústria de papel e celulose ainda sofre os efeitos de uma economia que parece andar de lado. Se o setor de árvores cultivadas para fins industriais viu sua demanda aumentar, o mercado interno não ajuda esse segmento da economia nacional, em que se destacaram no Estadão Empresas Mais deste ano a Eldorado Brasil, a Cenibra e a Klabin.

Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), todo o segmento, que inclui pisos e painéis de madeira, papel, celulose solúvel, celulose, madeira serrada e carvão vegetal, cresceu 13,1% em relação a 2017, gerando uma receita de R$ 86,6 bilhões. “Comparando com grandes setores, como a indústria e a agropecuária, o segmento de árvores cultivadas para fins industriais cresceu muito mais”, diz Paulo Hartung, presidente da Ibá. No caso do papel, diz o executivo, a ainda tímida recuperação da economia não é suficiente para aquecer o consumo a ponto de provocar o crescimento da demanda.

“O papel-cartão, que é utilizado principalmente para embalagens, e o tissue, basicamente destinado para higiene pessoal, têm demonstrado crescimento, mas ainda sem escala para alterar o resultado do setor”, explica. Hoje, todo o segmento da Indústria de Árvores tem uma participação de 1,3% do PIB e 6,9% do PIB industrial.

Conforme a entidade, a celulose teve recorde de produção em 2018, com 21,1 milhões de toneladas fabricadas. Desse total, 14,7 milhões de toneladas foram destinadas para exportação, totalizando US$ 8,4 bilhões. Principal destino foi a China, responsável pela aquisição de mais de 40% de toda a produção.

Se no mercado interno as coisas não estão muito animadoras, a exportação tem sido a saída para escoar a produção nacional de papel e celulose. Um exemplo que chama a atenção é o continente africano, que apresentou uma alta de 51,9% nas exportações brasileiras, o que gerou uma receita de US$ 41 milhões no primeiro semestre deste ano. Contudo, a China é o principal destino da celulose nacional, adquirindo US$ 1,9 bilhão do produto, uma alta de 8,2% no primeiro semestre, demonstrando que esse mercado segue firme, comenta Hartung. O presidente da Ibá informa que os chineses passaram a liderar o ranking de países que mais compram a celulose nacional em 2016 e, desde então, vêm aumentando as aquisições.

Em 2018, o Brasil faturou US$ 3,5 bilhões com a exportação dos produtos para os chineses, aumento de 37,7% em relação ao ano anterior. No primeiro semestre de 2019, foram comercializados US$ 1,9 bilhão com os asiáticos. “A expectativa é de que as exportações continuem evoluindo, porque a demanda continua aquecida”, comenta Hartung.

Segundo ele, o mercado aponta para um aumento na demanda de embalagem com papel-cartão. “Podemos apontar a origem sustentável como um dos atributos que têm elevado a utilização do material, além de ser reciclável e, em muitos casos, biodegradável. O papel-cartão, inclusive, contribui para a agenda do clima, com a qual o Brasil tem compromissos a cumprir, como no Acordo de Paris”, afirma o presidente da Ibá.

Produção da Eldorado é feita a partir de 230 mil hectares de florestas plantadas

Sustentabilidade é uma obsessão

Investimento em inovação envolve câmera que monitora o fogo e algoritmo antierosão

A exportações de papel e celulose têm alavancado a mais bem ranqueada empresa do ranking Estadão Empresas Mais, a Eldorado Brasil. Segundo Rodrigo Libaber, diretor comercial e de Logística e Relações com Investidores, 2017 e 2018 foram marcados por uma demanda crescente de papel e celulose no mundo. Muito desse processo foi fortemente influenciado por fechamentos de fábricas com capacidades obsoletas, poluentes e não competitivas na China.

“Esses fatores combinados, dentro de um ambiente econômico de crescimento sólido na Ásia e na América, além de um crescimento moderado na zona do euro, permitiram que a demanda por papel e celulose superasse de longe a oferta, fazendo com que os preços disparassem desde fins de 2016 até fins de 2018”, diz o diretor da Eldorado Brasil.

Segundo Libaber, 2019 tem sido um ano de ajustes para a indústria nacional, uma vez que os principais mercados consumidores, Ásia e Europa, estão passando por desafios macroeconômicos, inibindo o crescimento de demanda por papel e celulose. “Naturalmente o balanço entre oferta e demanda sai do equilíbrio e os estoques aumentam na cadeia, pressionando os preços como um todo”.

De acordo com Libaber, o continente africano tem apresentado crescimento na compra de produtos, mas ainda sobre uma base muito pequena. “Nossa estratégia envolve focar em mercados desenvolvidos e/ou de crescimento acelerado, mas o grande vetor de crescimento continuará sendo a Ásia. Aproximadamente metade das vendas da Eldorado Brasil é para o mercado asiático”, explica o diretor.

Segundo Libaber, o setor florestal brasileiro tem um modelo de produção baseado na exploração de florestas plantadas e na preservação de florestas nativas. “Na Eldorado, por exemplo, temos 230 mil hectares de florestas plantadas 100% certificadas para a produção e preservamos outros 104 mil hectares. A sustentabilidade é mais do que uma estratégia, é uma obsessão para nós. Não há outro jeito de produzir”, afirma.

Para ele, é papel das empresas fazer com que o mundo conheça mais esse modelo único que temos no Brasil. “Nossas condições e nossa tecnologia nos permitem ter alta produtividade sem explorar áreas desmatadas nem florestas nativas, o que não é algo trivial de ser atingido. Creio que temos ainda uma grande oportunidade de contribuir para o debate mostrando ao mundo como a produção florestal brasileira é sustentável”, afirma.

“Nossa estratégia envolve focar em mercados desenvolvidos e em crescimento acelerado, mas o grande vetor de crescimento continuará sendo a Ásia” Rodrigo Libaber, Diretor comercial e de Logística e Relações com Investidores

Segundo o diretor da Eldorado Brasil, há ainda muito espaço para inovar no setor florestal e a Eldorado investe em inovação e capacitação de seus funcionários para melhorar continuamente seus processos. “Temos o Sistema Íris, que implantamos para combater incêndios florestais. Esse sistema é composto por 11 câmeras, instaladas em torres de 65 metros de altura, com alcance de 50 quilômetros cada. As torres também contam com estações meteorológicas que nos ajudam a prever o risco de incêndio”, relata.

Na sede da empresa, em Três Lagoas, explica Libaber, a central do sistema é monitorada constantemente por funcionários que acionam as brigadas de incêndio caso haja alguma suspeita de fogo.

“Com a instalação do Sistema Íris, conseguimos reduzir a área afetada por incêndios em 96%, de 642 hectares em 2016 para 28 hectares em 2018”, afirma. A Eldorado também desenvolveu um algoritmo próprio para definir o melhor layout para o plantio dos eucaliptos em suas áreas produtivas. A partir de fotos tiradas por drones, o software prevê como a água da chuva escoa no terreno e define o traçado do plantio de forma a evitar a erosão do terreno.

Para o presidente da Eldorado Brasil, Aguinaldo Gomes Ramos Filho, o prêmio dado ao grupo “é um reconhecimento pelo trabalho de mais de 4.000 funcionários e mostra que devemos continuar seguindo o caminho da excelência operacional, da inovação, da sustentabilidade e da valorização das pessoas”.