Empresas de base ensaiam recuperação
Mudanças na legislação, leilões e segurança jurídica dão fôlego ao segmento
Os sinais da recuperação econômica ainda não tiveram reflexo nos negócios dos setores-base da economia nacional, como os de petróleo, minério e cimento, mas mudanças na legislação, novos leilões e segurança jurídica trazem ânimo para essas áreas, que já vislumbram expansão para os próximos anos. “O ano passado foi muito bom, porque depois de sete anos sem leilões retomamos as concessões e partilhas, com muita disputa e resultado acima das expectativas”, destaca Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie) ao lembrar que empresas como a ExxonMobil voltaram a investir no Brasil. O trio formado pelas empresas Vale, Shell Brasil e Petrogal Brasil é líder na categoria Mineração, Cimento e Petróleo do ranking Estadão Empresas Mais.
A produção total de petróleo em 2018 foi de 944,1 milhões de barris, uma redução de 1% em relação ao ano anterior. A produção total de gás em 2018 atingiu o montante de 40,8 bilhões de metros cúbicos. Na comparação com 2017, foi verificado um aumento de 1%. A definição dos preços ainda é um ponto de preocupação para o setor. Desde a entrada do governo Michel Temer, em 2016, empresas voltaram a ter autonomia para fixar valores de petróleo e diesel. No entanto, com a greve dos caminhoneiros em maio do ano passado, o governo voltou a interferir na política de preços, o que causou impacto para o setor. A privatização da BR Distribuidora e o megaleilão do pré-sal, que deve render cerca de R$ 106 bilhões para os cofres públicos, estão animando os players desse mercado. “Teremos neste ano o maior leilão da história em uma área do pré-sal cobiçada pelas petroleiras”, diz Pires.
Há 106 anos no Brasil, a Shell atingiu em agosto recorde de produção, com 400 mil barris por dia. Em 2018, a companhia tinha produção diária de 360 mil barris. “Participamos desde os primeiros leilões e estamos olhando para os leilões que vão ocorrer neste ano”, diz Gustavo Bursztyn, diretor financeiro da Shell Brasil.
A Petrogal informa que, neste ano, vai manter o foco na execução rigorosa dos projetos que tem no Brasil. Segundo a empresa, ela continua analisando oportunidades de forma seletiva para reforçar a presença dela no País.
A alta de preços das principais commodities minerais no mercado internacional (cobre, ouro e minério de ferro) contribuiu para o setor de mineração atingir bons resultados em 2018, com expectativa de alta para este ano. “Além do fato de que o setor de mineração atende tanto o mercado interno quanto o mercado internacional e, assim, mantém suas vendas como fornecedor de matéria-prima aos diversos segmentos industriais”, afirma o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Flávio Ottoni Penido.
Em 2018, o setor de mineração teve faturamento de US$ 34 bilhões com previsão de, em 2019, faturar cerca de US$ 35 bilhões. O setor de cimento, por sua vez, amarga perdas ao longo dos últimos anos. Apenas em 2018, o segmento apresentou queda de 1,7% no faturamento. Para este ano, a projeção do setor é atingir um crescimento de 3%.
Empresa cria primeira mina com caminhões autônomos
Direção reafirma compromisso de remediar os danos causados pela tragédia de Brumadinho
Líder no ranking Estadão Empresas Mais na categoria Mineração, Cimento e Petróleo, a Vale tem a inovação como um dos seus pilares e está desenvolvendo a primeira mina que opera somente com caminhões autônomos no Brasil. São 13 caminhões fora de estrada controlados apenas por sistemas de computador, GPS, radares e inteligência artificial em Brucutu (MG).
Em relação ao modelo convencional de transporte, a produtividade do sistema de operações autônomas é superior e, com base em dados de mercado da tecnologia, a Vale espera conseguir aumento da vida útil de equipamentos da ordem de 15%. Estima-se ainda que o consumo de combustível e os custos de manutenção sejam reduzidos em 10%, além de aumento da velocidade média dos veículos. Também está no radar da empresa o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento, inclusive em parceria com instituições acadêmicas, por meio do Instituto Tecnológico Vale, utilizando o conceito de inovação aberta. Todas essas ações adotadas pela companhia ajudaram a compor o lucro líquido de R$ 25,7 bilhões registrado no ano passado, que ficou R$ 8 bilhões acima do resultado de 2017 devido, principalmente, à maior geração de caixa medida pelo Ebitda, da ordem de R$ 12,1 bilhões. No ano passado, a empresa concluiu o processo de desalavancagem e atingiu a meta de dívida líquida de US$ 10 bilhões. A Vale foi capaz de notar os benefícios de ter um endividamento menor com a redução de juros brutos, que diminuíram em 31%, de US$ 1,697 bilhão em 2017 para US$ 1,185 bilhão em 2018.
“Nosso desempenho em 2018 foi ofuscado pelo trágico evento em Brumadinho (MG) em janeiro de 2019”, diz a empresa. O rompimento de uma barragem na cidade foi considerado um dos maiores desastres socioambientais da história do Brasil, com a morte de 249 pessoas e outras 21 ainda desaparecidas. “Sabemos que há muito a ser feito para endereçar os efeitos do rompimento da barragem de rejeitos na mina do Córrego do Feijão. Estamos empenhados em remediar os danos causados à cidade e às comunidades vizinhas.
“Segurança, pessoas e reparação continuam sendo as prioridades para a Vale e norteiam a nossa atuação” Luciano Siani Pires, Diretor executivo de Finanças e Relações com Investidores
Administraremos os passivos decorrentes desse evento e estamos comprometidos em aprender e compartilhar as lições do rompimento da barragem.” Entre os compromissos assumidos pela companhia, estão: manter pessoas e comunidades seguras e restaurar a confiança das partes interessadas; disciplina de capital; manter nossa abordagem de margem sobre volume para o segmento de minério de ferro; transformar o segmento de metais básicos em um gerador de caixa significativo; concluir a preparação para começar as nossas operações de carvão; e aprimorar a governança corporativa.
Em relação aos investimentos, a companhia destaca que no ano passado permaneceram em linha com 2017, totalizando US$ 3,784 bilhões. Nesse montante, houve aumento dos aportes em gestão de barragens. Esses investimentos devem atingir R$ 256 milhões em 2019, segundo orçamento aprovado pela companhia em 2018, um crescimento de cerca de 180% em relação aos R$ 92 milhões investidos em 2015. A empresa afirma que as aplicações de recursos em gestão de barragens foram reforçadas desde o rompimento da barragem de Fundão da Samarco em 2015. “Segurança, pessoas e reparação continuam sendo as prioridades para a Vale e norteiam a nossa atuação. Seguimos empenhados em garantir a segurança das nossas operações e das pessoas em nossas comunidades, assim como reparar de forma justa e rápida os impactos causados pelo rompimento da barragem em Brumadinho. Para isso, a empresa precisa estar saudável, de tal forma que possa gerar os recursos que o esforço de reparação e resposta exige”, destaca Luciano Siani Pires, diretor executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale.