Siderúrgicas investem em meio à guerra exterior
Parque industrial instalado no País, apesar de moderno, está ocioso
Os dados da área siderúrgica até indicam um cenário favorável. As principais empresas do setor projetam investimentos na casa dos US$ 9 bilhões para os próximos anos. O parque tecnológico nacional é moderno e comparável aos melhores do mundo, após maciças modernizações nos últimos seis anos, que atingiram quase US$ 27 bilhões. O nível de emprego também está estável.
O problema surge, entretanto, principalmente quando se olha o contexto internacional. Diante de fatores externos, como a guerra comercial entre China e Estados Unidos e o excesso de demanda mundial, as 29 siderúrgicas que atuam no cenário brasileiro passam por momentos de incerteza. O mercado interno também não colabora. Segundo os empresários do segmento, o ambiente tributário conturbado tem prejudicado as vendas.
Tudo colocado na balança, a saída vem sendo tentar exportar, para que os fornos não sejam desligados. Mesmo que as operações não registrem lucro. “Em primeiro lugar, existe um excesso de capacidade em nível mundial, o que faz ser muito alta a oferta de produtos”, diz o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. “Isso causa um clima conturbado, no mundo todo, além de uma escalada protecionista, com cada país procurando proteger seu mercado”, afirma.
Especificamente no Brasil, a realidade tributária do setor é classificada como um “manicômio” por Lopes, estimulada ainda mais pelas alterações constantes no Reintegra, programa federal para devolver às empresas, todo ou em parte, o resíduo tributário remanescente na cadeia de produção dos bens exportados. Criado em 2011, o programa sofre mudanças constantes nas alíquotas de crédito devolvido às companhias, gerando falta de previsibilidade.
Para que esse panorama comece a melhorar para as companhias brasileiras, a necessidade absoluta é exportar, defende o executivo. Hoje, o destino de 30% da produção é o exterior.
“O mercado internacional é difícil, altamente competitivo”, diz Lopes. “Temos um parque moderno e se entrarmos nessa guerra em igualdade de condições, sem ter o peso dos impostos escondidos, teríamos chances muito maiores de incrementar as exportações”, afirma o dirigente do Instituto Aço Brasil. Segundo ele, o setor metalúrgico-siderúrgico trabalha atualmente com 67% da capacidade instalada. “Para chegar aos 85% nas operações, as empresas teriam que aumentar a produção atual em 9,3 milhões de toneladas.”
Lopes afirma que as companhias, no entanto, seguem acreditando no mercado interno. “Caso contrário, não estariam planejados investimentos.” Muitos dos recursos são aplicados em pesquisas. Nas áreas de melhorias dos mix de produtos, na ambiental e em inovações tecnológicas.
Os três setores que mais consomem aço no País são o automotivo, o de máquinas e equipamentos e o da construção civil. Nesse terceiro segmento é que as siderúrgicas mais apostam atualmente para que dias melhores surjam.
Outra das boas chances no radar para impulsionar a cadeia do aço, de acordo com Lopes, está no setor de óleo e gás.
Mercado reforçado e novos campos para o nióbio
Empresa aposta em pesquisas e desenvolvimento tecnológico, que podem abrir mercados importantes
A Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), destaque no setor Metalurgia e Siderurgia do ranking Estadão Empresas Mais, orgulha-se de se colocar na vanguarda como maior fabricante mundial de ligas do “material do futuro”, o nióbio, em diversas formas.
Com sede em Araxá (MG), a companhia, que atua desde 1965 beneficiando e industrializando o minério, comemora a demanda mundial de 120 mil toneladas/ano por produtos de nióbio, com espaço para crescimento muito maior. Por isso, o grupo estuda fazer investimentos de R$ 3 bilhões para aumentar sua capacidade produtiva a 150 mil toneladas por ano, de olho no mercado chinês, que deverá consumir essa quantidade de minério em 2020. Atualmente, 96% da produção é exportada, e a empresa é a única no mundo que tem um portfólio completo de produtos industrializados de nióbio.
As reservas atuais, em Minas Gerais, são suficientes para 200 anos de exploração.
Hoje, 90% da receita vem da área de siderurgia, setor que reúne as principais clientes da CBMM. O crescimento constante da empresa é resultado de um trabalho realizado desde a década de 1970, sempre com o DNA da inovação, em conjunto com universidades e institutos de pesquisa no País e no exterior.
Essas parcerias estratégicas, segundo Eduardo Ribeiro, presidente da empresa de mineração, foram essenciais no desenvolvimento de um aço de qualidade, mais resistente e uniforme, obtido por meio da adição de ferronióbio ou deste com outros elementos no processo siderúrgico.
“O mercado ainda é pequeno em relação à oferta de produtos de nióbio no mundo” Eduardo Ribeiro, Presidente
Em 2018, a empresa conseguiu alcançar um crescimento nas vendas de 26% em relação a 2017, além de melhorar o preço do produto diante do cenário mundial da siderurgia. O que provocou também uma maior demanda pelo produto. “Isso teve um impacto muito positivo na nossa receita”, afirma Ribeiro. “Também vínhamos havia alguns anos trabalhando muito forte em produtividade e despesas. Conseguimos aumentar receitas e diminuir custos.”
O Brasil é o grande produtor de nióbio no mundo. Segundo números do setor, 90% de todo o minério comercializado no mercado global sai do solo brasileiro. Hoje, existem nove produtores mundiais do minério e a CBMM é a mais relevante deles, com market share (participação de mercado) de 78%.
“Apesar disso, o mercado ainda é pequeno em relação à oferta de produtos de nióbio no mundo”, explica Ribeiro, ressaltando que a capacidade produtiva é muito maior do que a demanda mundial atual. “Nosso objetivo número um é aumentar a capacidade do mercado e por isso nós investimos muito em tecnologia.” Segundo ele, no futuro, a demanda deve dobrar de tamanho e ser atendida com mais países produzindo nióbio.
Nos investimentos em pesquisas realizados pela CBMM, os produtos especiais de nióbio aparecem como potenciais geradores de novos mercados. Atualmente, esses produtos representam uma produção mundial de 6 mil toneladas.
“Em outro projeto que iniciamos há mais de 10 anos, vimos oportunidades em outras áreas para produtos como o nióbio na forma de óxido ou óxido hidratado, como vidros inteligentes”, diz Ribeiro. Esses vidros vêm com películas de óxido de nióbio, podendo ficar transparentes ou bloquear a luz, dependendo da passagem de corrente elétrica. Existem produtores no Japão disponibilizando esse vidro. Além de inovador, o produto é alinhado com a ideia de conservação de energia.
Outra das áreas de pesquisa que pode abrir grande campo potencial de negócios é utilizar o óxido como componente de eletrodos de baterias, principalmente automotivas. A empresa estuda o assunto em laboratórios próprios, em parceria com instituições como o Senai e outros grupos estrangeiros. “Se conseguirmos provar que essas baterias têm mais densidade energética ou ser carregadas mais rapidamente do que outras alternativas, poderemos abrir um mercado importante para esse produto”, analisa o executivo.