Setor da construção ensaia retomada
Segundo semestre registrou alta de 11,8% em relação ao mesmo período de 2018
A construção civil iniciou, ainda que timidamente, um processo de recuperação após ser fortemente afetada pela crise econômica que elevou os distratos – devolução de unidades compradas – e levou a uma queda forte dos lançamentos e das vendas. Este ano, aponta a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic), houve uma aceleração no desempenho do setor. No segundo trimestre de 2019, os lançamentos apresentaram um aumento de 11,8% em relação ao mesmo trimestre de 2018.
No ranking Estadão Empresas Mais, empresas de diferentes segmentos da construção se destacaram.
Líder pelo segundo ano consecutivo, a Berneck é especializada em painéis MDP, MDF e HDF, além de pinus e teca serrados, destinados à construção civil e à indústria moveleira tanto no Brasil quanto no exterior. O grupo, que tem suas unidades no sul do País, sente entretanto os reflexos do setor. Nos últimos anos, o desempenho da construção civil registra dados ruins.
A crise no segmento afetou de forma diferente as construtoras. Quem atuava no segmento econômico conseguiu ser mais resiliente à queda nas vendas. Como ocorreu com a Tenda, que em 2011 decidiu reformular sua linha de atuação. “O segmento de imóveis econômicos passou por uma fase de seleção, em que sobressaíram as empresas que desenvolveram um modelo de negócio focado nesse público. Foi o caso da Tenda, que se adaptou para atender o público com imóveis de qualidade, entregues no prazo, com preços mais atrativos do que os da concorrência e bons resultados financeiros”, comenta Renan Sanches, diretor financeiro e de Relações com Investidores da Tenda.
Este ano, até junho, a receita líquida da empresa chegou aos R$ 898,4 milhões, alta de 17,4% na comparação com o resultado do mesmo período de 2018, com avanço de 13,5% nos lançamentos. O desempenho em 2018 já havia sido muito positivo: alta de 23,8% na receita, de 16% em unidades lançadas e de 14% em valor de venda. Sanches está animado em relação ao restante de 2019. “A nova Lei de Distratos deve trazer maior previsibilidade para o setor produtivo. As novas linhas de financiamento propostas pela Caixa, indexadas à inflação, podem destravar o crédito e impulsionar o mercado daqui para a frente”, comenta o executivo do grupo.
Para Flavio Silva, presidente da centenária Atlas Schindler, empresa que fornece elevadores e escadas rolantes para a construção, uma melhora mais acentuada no seu ramo de atividade ainda vai demorar um pouco. “Quando o mercado imobiliário melhora e os lançamentos voltam, o nosso segmento só é impactado entre 6 e 15 meses depois, o que é natural”, informa Silva.
A Atlas Schindler, que completou 100 anos no Brasil em 2018, registrou uma receita líquida de R$ 2 bilhões no ano passado, praticamente estável em relação a 2017, mas em linha com a expectativa da companhia. A Atlas fez alguns movimentos importantes, destaca seu presidente. “O Schindler Ahead [sistema remoto de monitoramento de elevador e escada] é uma realidade. Estamos tecnologicamente em pé de igualdade com qualquer país.”
Práticas sustentáveis para ganhar mercado
Toda madeira processada e comercializada pelo grupo é de florestas plantadas
A adoção de práticas de sustentabilidade ambiental, como utilização de árvores de áreas reflorestadas, o reaproveitamento de sobras do processo produtivo e a geração da própria energia são a marca da atuação da Berneck. A empresa fabricante de painéis MDP, MDF e HDF e de madeira serrada de pinus, com sede em Araucária, no Paraná, atende desde a indústria da construção civil até fabricantes de móveis e embalagens, tanto no Brasil quanto em países do exterior.
Eleita pelo segundo ano consecutivo líder no setor da construção, no Estadão Empresas Mais, a Berneck tem números e uma pluralidade de iniciativas que reforçam seu compromisso ambiental. São 124 mil hectares de terras destinadas ao cultivo florestal de pinus no Paraná e em Santa Catarina. Toda a madeira processada e comercializada pela Berneck é proveniente de florestas plantadas. A proteção dos mananciais e a restauração das matas ciliares fazem parte dos programas florestais da companhia.
Outras iniciativas incluem tratamento de efluentes, controle de poluição, gerenciamento de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, além de as unidades industriais terem sido planejadas para realizar a captação da água da chuva para os processos industriais.
Nas unidades industriais Araucária e Curitibanos, resíduos do processo de produção – a casca do pinus e o pó da madeira gerado nos processos de classificação, moagem e lixamento – que seriam descartados no meio ambiente produzem calor e vapor por meio da queima de biomassa. Essa energia corresponde a aproximadamente 50% da utilizada nos processos industriais.
A Berneck não forneceu números sobre o desempenho financeiro da empresa, mas reforçou em comunicado que a demanda por painéis no Brasil continua muito retraída. “Se for considerar o crescimento médio de 5% ao ano, tínhamos crescimento de mais de 10% ao ano antes da crise. O mercado está mais de 30% defasado”, aponta o texto. O que ajuda a empresa a manter um bom desempenho, acrescenta a nota, é a “estrutura enxuta e decisões muito ágeis para mudar o rumo com rapidez, caso necessário”.
Em 2013, segundo os dados do grupo, tudo o que foi produzido no País foi vendido. Todas as fábricas estavam trabalhando a pleno vapor naquela época, mas a crise fez o mercado despencar e fechar no ano passado ainda 5,5% abaixo do volume que havia sido vendido em 2013. No entanto, qualquer movimento de melhora na economia, por mais leve que seja, trará uma explosão na demanda.
Os dados usados pela líder do ranking no setor da construção civil são do instituto Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), associação responsável pela representação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas. Além da unidade de painéis de madeira, a Berneck opera outra divisão, voltada para a exportação. A empresa produz madeira serrada de pinus e, embora o Brasil seja um grande consumidor do produto, a participação da empresa no mercado doméstico é muito pequena. Isso ocorre, segundo a companhia, porque o produto produzido é para fim nobre – madeira classificada, seca em estufa, com dimensões bem precisas. É uma madeira para ser usada para fins estruturais na construção civil e no segmento moveleiro, segundo informa a Berneck, que exporta 90% da produção.
O desempenho da Berneck está inserido em um setor em que os números sobre o desempenho de 2019 estão melhores. No acumulado de janeiro a junho, os lançamentos imobiliários cresceram 15,4% em relação ao mesmo período do ano passado.
Números do setor
Líderes somam bom desempenho