Novos produtos oxigenam o setor

Grandes indústrias se modernizam e defendem ambiente mais favorável à pesquisa

O desempenho da indústria farmacêutica deve fechar o ano com um crescimento expressivo, como o que vem alcançando ano após ano, porém ligeiramente pior do que o registrado em períodos anteriores. Mesmo assim, grandes companhias como Aché Laboratórios, Eurofarma e Roche, que apareceram em destaque no ranking Estadão Empresas Mais, continuam apostando alto em novos produtos, o grande oxigênio do setor.

As linhas de trabalho, além da adoção de tecnologias de transformação digital, big data, inteligência artificial e indústria 4.0 nas fábricas, seguem pelo caminho do aumento na parceria de grandes empresas com startups, trazendo maior inovação ao ambiente farmacêutico.

Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), aponta que o setor é sempre um dos últimos a sentir os efeitos da queda na economia, e deve fechar 2019 com 9% de aumento no faturamento, após já ter registrado 11% a 12% em anos anteriores. O emprego se mantém estável, com 100 mil vagas diretas e aproximadamente 600 mil postos indiretos.

Mussolini diz que desburocratizar processos de desenvolvimento, teste e aprovação dos novos medicamentos, simplificar as regras tributárias e aprovar a reforma da Previdência é o que a indústria espera para continuar aumentando sua participação no mercado brasileiro. “A [reforma] da Previdência é importante para reduzir o déficit fiscal e atrair para cá capital e investimentos, já que o Brasil oferece um cenário altamente favorável para a pesquisa clínica de medicamentos. A [reforma] tributária é necessária para oferecer produtos mais baratos, movendo os impostos dos preços e colocando-os nos dividendos das companhias”, afirma.

Pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, aliás, são áreas em que as empresas não mexem, mesmo nos momentos de crise, explica Mussolini. E assim vem ocorrendo no Brasil nos últimos meses.

Para Kerly Pasqualoto, sócia-fundadora da Pluricell Biotech, startup de pesquisa química computacional no desenvolvimento de novas moléculas, há um campo muito rico de intercâmbio de pesquisas com as farmacêuticas do País. “A indústria hoje está incubando projetos de inovação radical de produtos, em conjunto com pesquisadores que saem da universidade para montar negócios”, afirma, apontando que essas novas drogas, inteligentes, devem chegar ao mercado em 12 a 15 anos.

Existem, porém, barreiras a superar. “Temos preços controlados pela Cmed [Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos]”, diz Mussolini, do Sindusfarma. “Na hora de fazer a precificação, a Cmed não computa o custo de pesquisa e desenvolvimento. Isso traz prejuízos porque as empresas deixam de trazer produtos para o País: as internacionais só lançam fora e as nacionais ficam com braços amarrados sem poder fazer isso. Acaba evitando que a indústria instalada no Brasil possa fazer mais inovação.”

Mudar esse panorama é uma das interlocuções que estão em curso atualmente com as autoridades, mas ainda há muita burocracia. “O Brasil precisa se desenvolver como um país olhando a inovação.”

Grupo com sede em Guarulhos (SP) prepara centro de distribuição no Nordeste

Foco em nova fábrica e inteligência na distribuição

Empresa consolida portfólio de 320 marcas e espera lançar mais 30 produtos neste ano

Em meio ao ambiente de transformação pelo qual passa a indústria farmacêutica, com a chegada de novas tecnologias e produtos, além da transformação digital das fábricas, colocar o foco nessa inovação e buscar continuamente a excelência operacional, em todas as frentes da companhia, é a linha de trabalho que o Aché Laboratórios Farmacêuticos vem adotando para assegurar seu crescimento.

Com 53 anos no mercado, e presente em 26 países, a companhia com sede em Guarulhos (SP) ocupa lugar de destaque entre as maiores do setor, contando hoje com 320 marcas, 734 apresentações e 131 classes terapêuticas. A empresa vencedora da categoria Farmacêutica do Estadão Empresas Mais obteve, em 2018, crescimento de 7,3% na receita líquida, totalizando R$ 3,2 bilhões. Além disso, alcançou Ebitda de R$ 939,2 milhões. Rentabilidade que garantiu um círculo virtuoso de investimentos. Essencial para garantir uma forte presença em um cenário extremamente competitivo do segmento e ainda bastante incerto em termos econômicos.

“Investimos mais de R$ 80 milhões em inovação e demos continuidade à construção de nossa nova planta fabril na região de Suape (PE). Um projeto que consumirá R$ 650 milhões de investimento voltado para o aumento de nossa capacidade de produção e para a implantação do novo centro de distribuição na Região Norte e Nordeste, a segunda maior do mercado farmacêutico no País”, segundo Vânia Nogueira de Alcântara Machado, presidente do Aché.

“Demos continuidade à construção de nossa nova planta fabril na região de Suape (PE), um projeto que consumirá R$ 650 milhões de investimento” Vânia Nogueira de Alcântara Machado, Presidente do Aché

Essa preocupação com a inovação, diz Vânia, é histórica na empresa, tanto que 10% do Ebitda (geração operacional de caixa da companhia), em média, é aplicado a cada 12 meses para viabilizar o lançamento de produtos. Só em 2018, 17 deles foram lançados. O Aché também investiu na consolidação de outros 30 itens que chegaram ao mercado em 2017. Serão mais 30 novidades até o fim deste ano, com meta de consolidar a liderança nos medicamentos com prescrição médica.

A visão de inovação, somada ao direcionamento de recursos para a promoção das marcas dos produtos em geral, foi responsável pelo investimento de R$ 800 milhões por parte do Aché. Com a intenção de promover um estreitamento de relações com médicos, farmácias, distribuidores e instituições públicas, compartilhando informações que gerem valor para os negócios de “todos os lados”, diz a presidente. “Fomos adiante na forma de promover nossos medicamentos e compartilhar conhecimento científico com a classe médica. Além da visitação presencial, ampliamos a nossa visitação virtual”, explica a executiva.

Inovação radical

Apostar no País e no próprio potencial de crescimento é o pilar da empresa. Nesse contexto, um total de 153 projetos está no radar do setor de planejamento do grupo, com previsão de execução até 2023, “sendo 23 deles de inovação radical”, de acordo com Vânia.

“Acreditamos no potencial de crescimento do mercado farmacêutico brasileiro, seja por meio do maior acesso da população aos medicamentos, como também da ampliação da oferta de novas drogas para satisfazer necessidades ainda não atendidas.”

A presença da tecnologia no dia a dia da companhia vai aumentar com a inauguração de um novo centro de distribuição automatizado na unidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, garantindo maior agilidade no abastecimento dos pontos de venda. “Estamos também implementando vários sistemas que nos permitirão automatizar processos industriais, logísticos, comerciais e administrativos, visando maior segurança, agilidade e eficiência das operações.”

O maior beneficiado por todos esses investimentos e inovações, segundo a companhia, é o paciente. Por causa disso, a empresa ampliou o programa de benefícios Cuidados pela Vida, oferecendo acesso a medicamentos de uso contínuo. Em 2018, o Aché contabilizou 12,7 milhões de novos cadastros.