Mercado educacional sente recuo da economia

Contra a corrente, empresas abertas do segmento cresceram 38% entre 2013 e 2017

O setor de educação tem sofrido com a montanha-russa da economia. Até 2017, o País viu o crescimento do número e do acesso dos estudantes a estabelecimentos desse setor. Depois disso, a economia começou a dar sinais de recuo e o segmento veio junto.

Divulgado em junho deste ano, levantamento do Cadastro Central de Empresas (Cempre), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra o quanto o mercado de educação crescia. De 2013 a 2017, houve uma alta de 38% no total de empresas abertas no segmento, passando de 1,3 milhão para 1,8 milhão.

Como exemplo da relevância do aumento, o movimento do setor seguia na contramão do registrado no País no mesmo período. Em 2017, o Brasil encerrou o ano com pouco mais de 5 milhões de empresas ativas, 6,7% menos que em 2013. No setor de educação, as mais bem ranqueadas no Estadão Empresas Mais deste ano foram a EDE (Cogna), Uninove e Mackenzie.

A Educação a Distância (EAD) é o que tem segurado o faturamento das escolas. Segundo Rodrigo Capelato, diretor executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), 2018 foi difícil para o setor, com queda de até 5% no total de novos alunos para os cursos presenciais. “São alunos mais novos e com mensalidade média de mais de R$ 1 mil”, afirmou. No entanto, o EAD apresentou números surpreendentes, com aumento de 20% no total de novos alunos –hoje, há por volta de 1,8 milhão de estudantes em cursos a distância.

Segundo o diretor executivo do Semesp, o ensino a distância apresentou ainda um aumento de 200% no total de polos que oferecem esse tipo de curso. “Vale lembrar que o EAD tem um tíquete mais barato e uma evasão menor também”, ressalta.

Capelato lembra que a redução nos contratos de financiamento estudantil desde 2015 afetou muito o mercado da educação. “Em 2014, tivemos 730 mil contratos de financiamento. Em 2015, esse número caiu para menos de 300 mil e, no ano passado, ficou por volta de 100 mil. Isso é um grande dificultador, pois as pessoas que estão mais excluídas do ensino superior são aquelas de baixa renda”, diz o diretor.

Para este ano, ele diz acreditar em até novas quedas no ensino presencial para uma perspectiva de melhora somente em 2020. “Imaginamos [para 2020] um aumento entre 3% e 5% no total de matrículas de alunos no ensino presencial, o que não é muito animador, pois estamos vindo de sucessivas quedas desde 2015”, relata.

Segundo Daniel Infante, CEO da Educa Insights, a principal ferramenta do ensino superior no País é a tecnologia, que no mundo real pode ser traduzida como o ensino a distância. Ele afirma que hoje de 60 milhões a 65 milhões de pessoas poderiam entrar em uma faculdade. “Desse montante, 55% podem investir R$ 450 em uma mensalidade e a maneira de conseguir atrair esses alunos é o ensino a distância”, diz.

Infante relata que o modelo que tem ganho espaço é o semipresencial. “É uma nova tendência, a de que o aluno compareça em algumas aulas no seu polo e não apenas quando tiver que fazer uma prova”.

Grupo Cogna vai abrir mais 71 unidades próprias pelo Brasil

Má qualidade do ensino básico afeta faculdades privadas

Campeã do setor continua investindo em novas unidades e em polos de educação a distância

Líder no setor de educação privada e dona das marcas Anhanguera, Fama, Unopar, Unic, Uniderp, Pitágoras, Unime e LFG, a Cogna considera que só investimentos maciços na rede pública podem alavancar o segmento no País. “O investimento na educação básica pública é uma das principais formas de destravar um gargalo importante que temos no Brasil, tanto no que diz respeito à produtividade quanto em relação ao nível de preparo e conhecimento dos jovens adultos”, afirma Carlos Lazar, diretor de Relações com Investidores da Cogna.

Segundo ele, o dinheiro investido nas escolas do governo traz dois efeitos.  “[O primeiro é] o impacto social de você diminuir a desigualdade e o segundo é você avançar para um maior nível de penetração desses jovens no ensino superior”.

De acordo com Lazar, hoje, um dos maiores desafios das faculdades privadas “é a dificuldade de acompanhamento do conteúdo acadêmico por parte dos alunos oriundos do ensino básico público, que respondem por boa parte da evasão verificada no setor”.

Segundo o executivo, quanto mais alta a qualidade do ensino público maior será a chance de esse aluno entrar no ensino superior e prosperar financeiramente. Para o diretor da Cogna, programas de financiamento públicos são extremamente importantes em experiências internacionais. “Seria crucial para que o Brasil consiga atingir as metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação”.

Lazar diz que projetos na educação básica e a eventual criação de um programa como o ProUni ou a ideia dos vouchers também “seriam bastante interessantes dado o sucesso do programa no ensino superior, que tem funcionado muito bem para todos os partícipes (população, governo e instituições privadas) e teria o potencial de trazer ainda mais investimento privado para a educação básica”.

O investimento na educação básica pública é uma das principais formas de destravar um gargalo importante que temos no Brasil, tanto no que diz respeito à produtividade quanto em relação ao nível de preparo e conhecimento dos jovens adultos” Carlos Lazar Diretor de Relações com Investidores 

O diretor da Cogna afirma que o setor passou por mudanças de quatro anos para cá. “Tivemos, após 2015, uma mudança significativa na dinâmica desse mercado com a redução de programas governamentais, como o Fies, e uma deterioração dos indicadores socioeconômicos, mas isso não teve impacto imediato no mercado educacional que continuou investindo na consolidação e abertura de novas unidades”, explica Lazar.

De acordo com o diretor, desde então, o desenvolvimento das operações de Ensino a Distância (EAD) permitiu a ampliação da oferta de serviços educacionais nos lugares mais remotos do nosso país, contribuindo positivamente para esse indicador.

Expansão

Lazar afirma que a Cogna tem investido na expansão da sua operação com a abertura de 71 novas unidades próprias e mais de 500 novos polos de EAD. “Isso representa um crescimento significativo da capacidade instalada e evidencia o comprometimento da empresa em aumentar a penetração no ensino superior”, afirma.

Conforme o diretor da Cogna, essas novas unidades têm um prazo natural de maturação, mas serão decisivas para o crescimento do número de alunos nos próximos anos. A companhia, afirma Lazar, tem também agido em outra frente, que é o combate à evasão. “A Cogna desenvolveu nos últimos anos um projeto chamado Programa Permanência, que inclui a criação de times de retenção em todas as unidades.”

Para combater a inadimplência, explica o diretor, a Cogna foi pioneira na oferta de um programa de financiamento próprio que permite o alongamento do prazo de pagamento por parte dos alunos, possibilitando um menor comprometimento da renda destinada à educação. “A Cogna, por ser a maior empresa de educação do Brasil, tem sempre o desafio de continuar entregando uma educação de qualidade, inclusiva e disponível nas mais diversas regiões do País”, analisa Lazar.