PIB do Agronegócio travou em 2018
Safra de grãos e exportação de carne para a China são boas apostas do mercado para 2019
Com a economia ainda tentando se reerguer, o setor que quase sempre alavanca os números positivos do Brasil também teve pouco o que comemorar em 2018. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio ficou estável no ano passado, com recuo de 0,01%, na comparação com o do ano anterior. Nesse importante segmento, SLC Agrícola, C. Vale e Integrada Cooperativa se destacaram no Estadão Empresas Mais.
Neste ano, o setor tem mostrado que ainda busca recuperação. Em julho, o PIB do agronegócio teve alta de 0,38%. No acumulado do ano (janeiro a julho), o desempenho foi ligeiramente negativo, de menos 0,85%.
Para Argemiro Luís Brum, professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí) e especialista em mercado nacional e internacional agrícola, o País deve fechar este ano com um desempenho um pouco melhor de seu PIB do agronegócio com relação a 2018 por dois motivos: uma boa safra de grãos e as exportações de carne para a China. “Tivemos uma boa safra de grãos, com uma pequena quebra do arroz, mas que não deve influenciar o bom desempenho do milho e da soja”, afirma o analista. No caso da pecuária, afirma Brum, o produto nacional foi beneficiado por uma conjuntura externa. “A pecuária teve uma reação a partir do segundo trimestre, por causa do litígio comercial entre os EUA e a China”, explica.
Brum comenta que culturas como a de suínos, por exemplo, acabaram ganhando outra ajuda de fora, que foi a peste suína africana, que atingiu a Ásia. “Pelas informações disponíveis, deverá demorar de dois a três anos para que a produção dos países atingidos, incluindo a China, se recupere”, afirma. Até junho, quase 4 milhões de suínos tinham sido eliminados por causa do vírus, que atinge países como China, Laos e Vietnã. O professor da Unijuí afirma que o País será, até o fim deste ano, o maior produtor de soja do mundo, ultrapassando os EUA. Conforme relatório de junho do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), o Brasil tem potencial de produzir 123 milhões de toneladas, enquanto os americanos podem chegar a 112 milhões de toneladas colhidas. “Os preços, no entanto, devem se manter nos níveis atuais”, afirma.
De acordo com Bianca Moura, do setor de commodities da Terra Investimentos, para o ano que vem, o cenário que se apresenta é mais positivo, pois se espera um aumento de 3,6% na safra de grãos. Segundo Bianca, o milho deve ser favorecido por uma expectativa de aumento da demanda interna para uso de ração. Já a soja deve ter preços melhores por causa de uma redução de áreas plantadas nos EUA. A consultora também diz que novos mercados estão na mira do setor. “A China é o maior importador de soja brasileira, mas ainda não exportamos milho para lá”.
No entanto, Bianca afirma que influências externas ainda geram incertezas. Uma delas é o dólar alto, pois isso interfere na compra de insumos. Há ainda os resquícios da crise ambiental. “Há a preocupação com possíveis embargos após as queimadas na Amazônia”, afirma Bianca.
Eficiência operacional leva SLC Agrícola ao topo do ranking
Desde que abriu o capital em 2007, grupo passou por importantes transformações com maior eficiência
De quarto lugar no ranking do Estadão Empresas Mais para a ponta da tabela, a SLC Agrícola tem passado por mudanças importantes desde 2007, quando o capital da empresa foi aberto, após um período de crescimento robusto, como conta o gerente de RI e Planejamento Estratégico da empresa, Frederico Logemann.
“Um dos pilares da estratégia atual, que chamamos de ‘fase 3’, veio do diagnóstico de que tínhamos espaço para grandes melhorias de eficiência operacional”, afirma Logemann, explicando que a empresa passou por uma série de ajustes em várias frentes, desde uma redistribuição do portfólio de fazendas, passando pela melhoria de capacidade de plantio e colheita e até a redução significativa de turnover de pessoal. “Essas iniciativas todas começaram a gerar frutos. Temos atingido níveis de produtividade inéditos e nossos resultados têm refletido isso”, considera.
Investimentos em tecnologia, também melhoraram a eficiência operacional da empresa. “Como estamos em um negócio de commodities, do ponto de vista de tecnologia, as principais iniciativas são voltadas para ganhos de eficiência operacional, no aumento de produtividade e redução de custos”, afirma o executivo. De acordo com o gerente, a visão da SLC Agrícola é a de que as novas tecnologias que estão vindo para o agro vão revolucionar o setor, dando enormes vantagens competitivas aos produtores que estiverem atualizados. “Existem diversos tipos de tecnologia, que atendem diferentes áreas do negócio, e o nosso desafio é orquestrar o uso rápido de tudo isso. Nossa empresa está se estruturando para o futuro tendo em vista esse cenário”, revela Logemann.
Hoje, a SLC Agrícola é referência internacional em boas práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), ressalta o gerente. “Nosso ‘sonho grande’ é o de impactar positivamente gerações futuras, sendo líder mundial em eficiência no negócio agrícola, com respeito ao planeta”, afirma. De acordo com Logemann, alguns dos principais selos de boas práticas da empresa são as certificações, que vão desde a ISO – a empresa foi uma das primeiras na operação agrícola a obter esse certificado –, passando pelo BCI (Better Cotton Initiative), que é uma certificação de algodão sustentável, e pela RTRS para a soja – esta certificação garante que o grão, na forma de matéria-prima ou subproduto, seja originário de um processo ambientalmente correto, socialmente adequado e economicamente viável. “Por trás dessas certificações, desenvolvemos uma série de novos processos, iniciativas e treinamentos correspondentes”, afirma o gerente.
“Um dos pilares da estratégia atual, que chamamos de ‘fase 3’, veio do diagnóstico de que tínhamos espaço para grandes melhorias de eficiência operacional” Frederico Logemann, Gerente de RI e Planejamento Estratégico da empresa
Segundo Logemann, para progredir ainda mais, o País precisa avançar muito em infraestrutura. “Por questão de foco, gostamos de frisar que essa é a pauta número 1 e a pauta número 2 para o setor, pela sua relevância”, afirma. “Temos enormes espaços para avanços em diversos modais e uma melhoria estrutural adicionaria muita competitividade para a agricultura brasileira”, ressalta o executivo.
A SLC Agrícola foi fundada em 1977 pelo Grupo SLC e é uma das maiores produtoras mundiais de grãos e fibras, principalmente algodão, soja e milho. A empresa foi uma das primeiras do segmento a negociar ações na Bolsa de Valores no mundo, tornando-se uma referência no seu setor. Com matriz em Porto Alegre (RS), o grupo tem hoje 16 unidades de produção localizadas em seis Estados, que totalizaram 457.700 hectares no ano-safra 2018/19 – sendo 123.721 de algodão, 234.149 de soja, 88.918 de milho e 1.912 de outras culturas.
As exportações dos grãos produzidos pela empresa são indiretas, pois são repassadas para tradings, que exportam os produtos. No algodão, a companhia vende em torno de 1/3 da produção diretamente para a indústria têxtil internacional – os principais compradores são Indonésia, Tailândia, China, Vietnã e Bangladesh.