Alteração do mix de produtos como solução contra a crise

Produção de energia a partir do bagaço de cana ganha cada vez mais relevância

O ano de 2018, assim como o primeiro semestre de 2019, foi repleto de desafios para o setor sucroalcooleiro. Com os preços do açúcar despencando desde 2017, além de dificuldades climáticas que afetaram a produção e a moagem de cana-de-açúcar, a solução foi alterar o mix produzido nas usinas, com avanço do etanol. A produção de energia a partir do bagaço de cana também tem sido cada vez mais relevante, compensando em parte as dificuldades enfrentadas. No Centro-Sul, maior região produtora de açúcar e álcool do País, a produção de cana na safra 2018/2019 caiu 3,90% ante 2017/2018, a de açúcar recuou 26,48%, enquanto a de etanol cresceu 18,65%, sempre na mesma base de comparação. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), a participação do etanol na matriz energética chegou a 32% no ano passado, quase 10 pontos porcentuais acima do registrado dois anos antes, em 2016.

O desempenho da empresa líder no ranking Estadão Empresas Mais seguiu a tônica do setor. A Adecoagro registrou, no ano passado, uma receita líquida de R$ 1,6 bilhão, pequena alta de 2% sobre 2017.

O desempenho da segunda e da terceira colocadas no ranking do setor, respectivamente Biosev e SJC Bioenergia, segue na mesma direção, com avanço da produção de etanol e corte na de açúcar. A receita líquida da Biosev, na safra 2018/2019, chegou a R$ 6,3 bilhões sobre 2017/2018, um recuo de 13,2%. O dado, informa a empresa, exclui os efeitos contábeis (não caixa) da estratégia de proteção (hedge accounting) da dívida em moeda estrangeira. “Essa performance decorreu principalmente dos menores volumes e preços de açúcar. Esses efeitos foram parcialmente compensados pelos maiores volumes e preços médios de etanol e geração de energia”, comenta Juan José Blanchard, presidente da Biosev. As vendas externas de açúcar geraram R$ 1,4 bilhão em receita líquida, redução significativa de 49,4% ante a safra anterior, resultado explicado pelos menores volumes vendidos e preços médios mais baixos. O etanol continua ganhando espaço e elevou sua participação em 12,6 pontos porcentuais, chegando a 65,1% da produção da Biosev.

Joint venture entre a Cargill e o grupo São João, a SJC Bioenergia também registrou redução na receita de açúcar por causa do menor volume comercializado (queda de 16%). Por outro lado, a venda de etanol cresceu 7%. A produção agrícola, segundo a SJC, foi menor na safra 2018/2019 em consequência de um “clima atípico e desfavorável no centro-sul do País, com menor volume de cana processada em comparação com a safra 2017/18”. Os preços baixos do açúcar levaram a empresa a “optar por um mix mais alcooleiro”.

Todo o açúcar produzido pela SJC é vendido no mercado externo, respondendo por 23% da receita líquida. A empresa informa também que para a safra atual (2019/20), comparando o realizado até o mês de julho, a produção de etanol subiu novamente, 12%, e a de açúcar recuou 8%. A expectativa de mercado e da companhia é de que os preços de etanol continuem em um patamar atrativo e devem ficar ainda melhores na entressafra da cana.

Na Adecoagro, moagem da cana-de-açúcar aumentou 11% em 2017

Estratégia acertada faz receita subir de forma gradativa

Em 2018, 93% da produção de açúcar da companhia foi vendida no exterior

Com uma produção agrícola diversificada, que inclui grãos, arroz, oleaginosas, café e lácteos, além de açúcar e etanol, a Adecoagro conquistou o primeiro lugar no setor sucroalcooleiro, categoria que estreia neste ano no ranking Estadão Empresas Mais. O pequeno aumento da receita no ano passado, de 2%, é considerado um bom desempenho e fruto da estratégia de alteração no mix produzido. A moagem de cana aumentou 11% em relação a 2017, atingindo 11,4 milhões de toneladas.  A produtividade do canavial da empresa (medida em toneladas por hectare) também melhorou, ficando 5% maior e alcançando 89,4 ton/hectare. A renovação do canavial é destaque nos números da Adecoagro, chegando a mais de 29 mil hectares de cana. Em relação às vendas, a empresa colocou no mercado todo o açúcar produzido, 344 mil toneladas, redução em termos de produção de 39%. A companhia exportou 93% do açúcar vendido.