Boa prática é vital para as pequenas e médias empresas
Sócios dos grupos de capital fechado costumam dificultar implantação de práticas positivas
Com desafios complexos para enfrentar no cotidiano dos negócios, ter um conselho de administração vigilante e estratégias de médio e longo prazo bem delineadas é decisivo para a sobrevivência das empresas. Não importa o tamanho dela.
Segundo Eliana Segurado Camargo, coordenadora da Comissão de Estratégia do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e CEO da Aceppta Consultoria Empresarial, governança corporativa é fundamental para o sucesso de uma empresa. “Seja para o direcionamento estratégico, mas também para sua perpetuidade”, afirma. Eliana explica que a boa governança requer que a empresa tenha conselheiros independentes e ainda que haja uma gestão dessa governança. “O fruto de boas práticas de governança, que levam transparência a cobranças exigidas pelo mercado, acaba pagando todos os possíveis custos que a empresa venha a ter com a implantação desse sistema”, afirma.
De acordo com Eliana, não só grandes empresas de capital aberto devem se preocupar com o tema. “Médias e pequenas empresas de capital fechado também devem ter um modelo de governança corporativa”.
Armando Matiolli, responsável pela frente de governança corporativa da Fundação Instituto de Administração (FIA), diz que um dos grandes desafios das empresas para a implantação de um sistema de governança, principalmente em empresas de capital fechado, é a mentalidade dos seus sócios. “As pessoas que estão diretamente ligadas ao dia a dia das empresas não olham para aspectos mais abrangentes da administração e isso é um risco”, comenta.
Por isso, explica Matiolli, um dos papéis do conselho de administração é estar antenado com questões que fogem do dia a dia das empresas. “Estando afastado do cotidiano, é possível saber se as estratégias hoje usadas pela empresa vão ser vencedoras no futuro ou quais são as tendências tecnológicas que o mercado exige para aquele tipo de empresa”, exemplifica.
Metodologia
Amparado em uma metodologia própria feita pela Fundação Instituto de Administração (FIA), o Índice Estadão Empresas Mais de Governança Corporativa analisa componentes quantitativos e qualitativos para indicar as corporações que mantêm as melhores iniciativas nesse setor.
Segundo o professor Sérgio Assis, coordenador técnico do projeto Empresas Mais, as avaliações levam em conta um conjunto de práticas que são comparadas por meio de um questionário respondido pelas corporações. Quem responde ao questionário são as empresas, explica o professor, mas essas respostas são auditadas, como forma de dar transparência ao ranking. “É importante ressaltar que, embora seja uma autoavaliação [das empresas], é uma autoavaliação monitorada”, pondera.
De acordo com Matiolli, antes da elaboração do questionário e da avaliação das respostas, foi realizada uma análise das melhores práticas em governança corporativa do IBGC e também do recém-criado Código de Governança Corporativa. “Também levamos em conta normas da B3 [Bolsa de Valores], onde foram instituídas mais regras para empresas que querem ter um nível de governança mais elevado”, disse.
Conselheiros afastados do dia a dia da empresa têm uma visão estratégica aguçada
Matiolli explica que houve algumas mudanças no método do Empresas Mais deste ano com relação ao ano passado. Uma delas foi a separação, no questionário, entre empresas de capital aberto e de capital fechado. “O que fizemos foi separar as questões comuns para todas as empresas e aquelas que devem ser respondidas para as de capital aberto e as de capital fechado”. Ele cita, como exemplo, perguntas sobre o conselho fiscal, que só é obrigatório para as companhias de capital aberto.
Owens-Illinois
Prática global agrega valor à fabricante de embalagens
Cursos sobre governança são distribuídos em 23 países
Pouco conhecida para o consumidor final, a Owens-Illinois é a maior fabricante de embalagens de vidro do mundo. Hoje, a cada duas embalagens de vidro produzidas no planeta, uma é da empresa. A multinacional foi um dos destaques do Estadão Empresas Mais no quesito Governança Corporativa. Segundo André Luiz Said, gerente de RH da Owens-Illinois, governança corporativa é um componente fundamental do desempenho de uma empresa. “Ficamos muito honrados em figurar entre as melhores empresas em um ranking que possui a chancela de organizações que são referência no Brasil como o Estadão e a FIA”, afirma. “Trabalhamos para ser o parceiro preferido das maiores e melhores empresas de alimentos e bebidas em todo o mundo”, relata Said.
Linha direta: canal para receber denúncias dos colaboradores é gerenciado por consultores
De acordo com o gerente do grupo, a empresa é respeitada, nacional e internacionalmente, pela maneira como conduziu e conduz seus negócios ao longo dos anos. “Por trás dessa reputação, estão os altos padrões de honestidade, integridade e ética da empresa”, considera Said.
O executivo diz que a empresa tem uma prática global que funciona muito bem e é reconhecida pelos colaboradores: os treinamentos de governança online. Os mesmos cursos são postos à disposição nos 23 países em que a empresa atua em todo o mundo, com traduções para diversas línguas, para que as diretrizes sejam conhecidas, apreendidas e compreendidas por todos da firma.
Said comenta que, ao longo de cada treinamento, são compartilhados cases, testes e informações legais e, de uma forma simples e objetiva, os funcionários sabem exatamente como agir. “Ao final, é aplicado um teste online e o colaborador pode imprimir ou salvar o seu certificado de conclusão”, explica.
Segundo Said, outra prática muito difundida é a linha direta para qualquer denúncia, que é conduzida por uma consultoria independente. “Por meio desse canal, os colaboradores podem reportar qualquer irregularidade em sua língua nativa por telefone ou pelo site da companhia”, afirma.
Sicredi
Gestão participativa e transparência sustentam plano vencedor
Associados participam independentemente do valor aplicado
Usando como método a promoção da cultura da cooperação para estimular a sustentabilidade do negócio, a Sicredi Participações S. A. aparece como destaque na Governança Corporativa do Estadão Empresas Mais deste ano. Segundo o presidente da SicrediPar, Manfred Alfonso Dasenbrock, os bons resultados da empresa são reflexo da consolidação de um trabalho que temos realizado nos últimos dez anos, quando decidimos reestruturar nosso modelo de governança corporativa. “Os nossos direcionadores estratégicos suportam as melhores práticas para entregar eficácia e transparência na gestão”, diz o executivo.
Crédito: a Sicredi conta com 4 milhões de associados e tem uma rede com 1,7 mil agências
Dasenbrock, que também é membro do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito, relata que cada associado, dono do negócio, tem participação ativa na gestão e direito a voto com peso igual nas decisões da cooperativa, independentemente do volume de recursos aplicados. “Os associados vinculam-se às cooperativas filiadas, realizando suas movimentações financeiras e recebendo os produtos e serviços demandados. Os recursos ficam na comunidade, gerando desenvolvimento local”, afirma.
Segundo o presidente da SicrediPar, todo o sistema da empresa existe para garantir o protagonismo das cooperativas filiadas. Entre as várias iniciativas dentro da governança corporativa, Dasenbrock destaca o Programa Pertencer. “Por meio dele, engajamos os associados, estabelecemos as regras de participação e orientamos o modelo de gestão participativa”, explica o presidente. O objetivo do programa é dar maior transparência ao negócio e estimular a participação nas assembleias e nos processos decisórios.
A Sicredi tem atualmente pelo menos 4 milhões de associados e conta com uma rede de cerca de 1,7 mil agências e pontos de atendimento em todo o Brasil. A empresa tem presença em 22 Estados e no Distrito Federal, e em 1.314 cidades – em 209 municípios, a Sicredi é a única instituição financeira presente. Em 2018, o grupo apresentou um resultado de R$ 2,7 bilhões, somando ativos de R$ 90 bilhões. A empresa conta hoje com mais de 26 mil funcionários.
Coamo
Tripé entre cooperados, diretores e funcionários alavanca governança
Com 29 mil cooperados, empresa vende credibilidade aos associados
A Coamo Agroindustrial Cooperativa, destaque do Estadão Empresas Mais no quesito Governança Corporativa, sustenta sua administração no tripé cooperados-diretoria-funcionários.
A integração entre esses polos tornou a empresa uma das maiores cooperativas agrícolas da América Latina, diz o presidente da Coamo, José Aroldo Gallassini.
História: a Cooperativa Agropecuária Mourãoense foi criada em 1970 com 79 agricultores
Com 29 mil cooperados, a empresa está atenta, em todos os níveis, a uma governança corporativa para passar a credibilidade necessária ao seu quadro de associados. “Cuidamos inclusive do treinamento do pessoal para que tenhamos práticas corretas em todas as ações da Coamo”, afirma o presidente da companhia.
De acordo com Gallassini, reuniões periódicas com os cooperados dão ainda maior transparência às decisões que são tomadas pelo conselho de administração. “Temos sempre de mostrar que há uma exigência muito grande, com medidas sempre amparadas na honestidade e na credibilidade”, comenta o executivo.
Nessas reuniões, a direção apresenta os cenários da agricultura nacional, bem como os serviços e programas desenvolvidos pela cooperativa em prol do incremento de diversificação, produtividade e renda dos cooperados da Coamo.
O planejamento estratégico, diz o presidente, também é parte dos cuidados que a empresa tem em termos de governança corporativa. “Nossa diretoria ajuda com números que são usados nas tomadas de decisões”, afirma Gallassini.
A empresa, que tem 8 mil funcionários, fechou o ano passado com uma receita de R$ 14,8 milhões.
A Coamo, sigla para Cooperativa Agropecuária Mourãoense, com sede em Campo Mourão, cidade do interior do Paraná que tem 95 mil habitantes, existe desde 1970, e começou, na ocasião, com a organização de 79 agricultores, que foram os primeiros associados do grupo.
BR Distribuidora
Empresa adota rígidos códigos de conduta para todos os funcionários
Grupo comemora um ano da abertura do capital
A BR Distribuidora, assim como todo o sistema Petrobras, tem adotado normas de governança que a colocam como uma das referências do mercado de distribuição e combustíveis. Com algumas conquistas financeiras, após sua oferta pública inicial de ações, em 2018, a adoção de boas práticas corporativas tem sido importante para se atingir o nível de excelência.
De acordo com o relatório de resultados da companhia, a BR Distribuidora informa que passou por muitas conquistas, e também desafios, nos últimos meses.
A companhia completou um ano desde a realização da oferta pública de ações e, mesmo em meio a discussões regulatórias e um mercado retraído – com performance abaixo de 2017 agravada pela greve dos caminhoneiros – a companhia atingiu bons resultados.
“A disciplina na gestão do capital de giro, recebíveis e passivos permitiu uma geração de caixa operacional de mais de R$ 3 bilhões – reduzindo a dívida líquida da companhia em 39% – e um lucro líquido recorde de R$ 3,2 bilhões ao final de 2018.
Entre as várias normas de governança corporativa, transparência e ética adotadas pela BR e por todo Sistema Petrobras, está o que o grupo classifica como robusto sistema de Background Check de Integridade (BCI). Trata-se da checagem de integridade de todos os gestores e empregados que atuam em processos críticos. Para se tornar gerente, diretor ou conselheiro, o profissional tem que passar por uma profunda verificação de requisitos de integridade e capacidade técnica.
Na prática, o BCI consiste em um levantamento sistemático de informações, por meio de consulta a bancos de dados públicos, privados e de diversas áreas de controle no âmbito do Sistema Petrobras, as quais são consolidadas em um relatório encaminhado aos gestores.
O BCI tem como objetivo subsidiar os gestores com informações a respeito de indicados para exercer cargos de dirigente, de funções gratificadas no âmbito da BR ou atuar em comissão ou grupo técnico no qual ocorra concessão de prêmio ou patrocínio a terceiros.
Nota 10: distribuidora brasileira acumula boas avaliações do mercado nacional
Fleury
Grupo da área de saúde entrega valor aos clientes
Parte dos comitês da empresa tem mulheres em seus quadros
Presente em oito Estados, com 220 unidades e R$ 2,9 bilhões de receita no ano passado, o laboratório Fleury foi destaque na Governança Corporativa do Estadão Empresas Mais.
“Nossa cultura é de excelência médica, com um foco muito grande na entrega de valor aos nossos clientes, e muito nos orgulha estar entre os destaques também na governança corporativa”, afirma a diretora executiva do Fleury, Jeane Tsutsui.
Excelência: cultura que tem como foco valorizar os clientes está cada vez mais consolidada
“O Fleury segue os padrões do IBGC [Instituto Brasileiro de Governança Corporativa] e nos baseamos em princípios que privilegiam a transparência”, afirma Andrea Bocabello, diretora jurídica e de Governança Corporativa do Grupo Fleury. Conforme a diretora, parte dos comitês da empresa tem mulheres em seus quadros, o que demonstra que o grupo tem ações concretas para promover a diversidade.
De acordo com Andrea, o Fleury demonstra um grande desempenho em certificações como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).
“Subimos muito no ano passado e quase gabaritamos”, afirma. A companhia tem ainda o selo Pró-Ética, da Controladoria-Geral da União (CGU) – iniciativa que consiste em fomentar a adoção voluntária de medidas de integridade. “Já temos implementada uma política nessa área”, afirma a diretora.
Ela explica que, hoje, quatro comitês prestam assessoria ao conselho de administração: Comitê de Auditoria, Riscos e Compliance, Comitê de Remuneração, Nomeação e Desenvolvimento Organizacional, Comitê de Estratégia e Comitê de Finanças e Projetos. “Esses comitês fazem um trabalho de aproximação com a diretoria, que consegue tomar decisões mais bem estruturadas e com melhor qualidade”, comenta.
O Grupo Fleury está inserido em um setor em franca expansão, apesar da crise econômica que afeta o Brasil desde 2015. O Brasil ocupa o nono lugar em gastos com saúde, com 9,1% do PIB ou mais de R$ 300 bilhões por ano. O País tem atualmente 2 milhões de profissionais de saúde.
MRV
Atualização constante das ferramentas de compliance
Empresa tem um canal de educação a distância sobre ética
A implantação de instrumentos de compliance consistentes é uma das iniciativas que a MRV aponta como um dos motivos para se tornar um dos destaques do Estadão Empresas Mais no quesito Governança Corporativa.
Segundo Maria Fernanda Menin, diretora executiva jurídica e compliance officer da MRV, a empresa tem adotado uma série de ações nessa linha, que vão desde o treinamento de funcionários até a checagem de processos administrativos sensíveis.
Uma das ações, segundo ela, é o Programa de Integridade, que incluiu a conscientização dos colaboradores dentro da Semana da Integridade, que já foi realizada pela empresa em 14 cidades onde a MRV atua, com a participação de pelo menos 1,5 mil funcionários do grupo.
Outro destaque no compliance da empresa, relata a diretora, foi a ação Cultura de Integridade, um canal de educação a distância em que os colaboradores participaram de um curso pela internet sobre os valores éticos da MRV. Uma ação administrativa também faz parte dessas medidas de governança corporativa. “Fazemos avaliação de todos os patrocínios, doações, contratações de mão de obra e fornecedores de insumos sob a ótica de gestão de riscos”, diz a diretora.
Além disso, afirma Maria Fernanda, a MRV tem hoje uma relação de “absoluta transparência” com todos os que negociam com a empresa e possui uma estrutura organizacional com papéis bem definidos.
Geografia: construtora administra 265 canteiros de obras espalhados pelo país
A diretora diz que o conselho de administração tem hoje 50% de membros independentes, “porcentual bem superior à média geral das empresas”.
A executiva explica que outros cinco comitês executivos dão apoio ao conselho de administração: comitê de governança, riscos e compliance, comitê de pessoas, comitê de operações, comitê de auditoria e comitê de inovação. Com isso, afirma, a empresa consegue assegurar os melhores índices e certificações do mercado.
A MRV faturou no ano passado R$ 690 milhões, tem hoje 22.492 funcionários e 265 canteiros de obras espalhados pelo País.