Visão regional que rende resultados

Em comum, os grandes líderes regionais do Brasil conseguiram ajustar suas operações locais a um bom desempenho nacional

São vários os setores representados entre os líderes regionais deste Estadão Empresas Mais.  Em comum, o fato de todos conseguirem adequar seus negócios regionais com estratégias nacionais e até mundiais. Outro ponto que une grandes empresas de energia, do setor calçadista ou da área financeira é que todas foram obrigadas a focar muito bem suas ações estratégicas para driblar o cenário de crise econômica que se arrasta desde 2015.

Os bons números dos grupos líderes mostram inclusive que algumas das companhias geraram excelentes resultados mesmo quando o setor em que elas estão inseridas tiveram queda no desempenho.

Nordeste

Uma das plantas da Braskem em operação na Bahia

Resiliência gera frutos para a Braskem

Receita da principal fabricante de biopolímeros do mundo cresceu 18%

Duas gigantes nos setores em que atuam, a Braskem e a Suzano despontaram no ranking regional do Estadão Empresas Mais. A Braskem, sexta maior petroquímica do mundo, soube resistir a um cenário internacional desafiador e conquistou a primeira colocação no Nordeste. A vice-líder Suzano, do setor de papel e celulose, consumiu boa parte de 2018 reorganizando a atividade para a fusão histórica com a Fibria, processo que se iniciou em março de 2018 e acabou sendo concretizado apenas neste ano.

Principal fabricante mundial de biopolímeros, a Braskem encerrou o ano passado com lucro líquido de R$ 2,86 bilhões, queda de 30% ante o de 2017. A receita líquida avançou 18%, para R$ 58 bilhões.

Para a Suzano, maior produtora global de celulose de eucalipto e líder no mercado de papel na América Latina, o ano de 2018 entrou para a história, com o acordo fechado com a Fibria para combinar as operações. Entre o acordo e a conclusão do processo de reorganização das empresas, concluído em janeiro deste ano, ambas seguiram operando separadamente.

Vice-líder Suzano é a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo

O mercado de celulose registrou em 2018 nova alta na demanda, porém com discreta desaceleração em relação aos anos anteriores. No desempenho da Suzano, contudo, houve queda de 10,8% nas vendas do insumo. “A redução é explicada pela reconstrução dos nossos estoques após meses de operação abaixo do nível normal e em função do cenário do mercado chinês nos meses de novembro e dezembro”, divulga a empresa por meio de relatório. As vendas de papel registraram expansão de 6,2% na comparação anual. O resultado da operação foi um lucro líquido de R$ 318 milhões, forte recuo de 82,4%. O dado mais atual da empresa, referente ao segundo trimestre deste ano, mostra uma melhora da operação, com lucro de R$ 700 milhões ante prejuízo de R$ 2 bilhões um ano antes.

A calçadista Grendene fecha o trio das melhores empresas do Nordeste, atuando em um mercado que registrou discretas altas em dois anos. O crescimento, pondera a Abicalçados, foi insuficiente para recuperar a retração de 2014 a 2016, de 9,4%. Foram várias as iniciativas da Grendene para resistir ao quadro de dificuldade do setor. “O mercado ficou mais competitivo, adaptamos a coleção e uma das nossas principais marcas, a Melissa, começou a atuar com franquias e ganhou capilaridade. O mercado da moda nesse sentido é bem flexível”, diz Francisco Schmitt, diretor financeiro e de Relações com Investidores da Grendene.

 

Norte

Celpa atende 8,2 milhões de consumidores no Pará

Foco nos investimentos une vários setores

Grupos de energia, resinas e transporte traçam estratégias vencedoras

Setores distintos, como distribuição de energia, fabricação de resinas termoplásticas e transporte de combustível, ocupam as primeiras posições no ranking Estadão Empresas Mais, no recorte da Região Norte do País. Em primeiro, uma empresa do Grupo Raízen, a Petróleo Sabbá, responsável pela distribuição de combustível a 654 postos da marca Shell na região. A companhia, ao mesmo tempo que enfrentou desafios causados pela greve dos caminhoneiros, no ano passado também manteve os investimentos participando de leilões da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

“Todo o setor de combustíveis foi fortemente prejudicado pela paralisação, porém nós conseguimos reduzir perdas ao otimizarmos as estratégias de suprimentos e de comercialização de forma rápida e eficiente”, afirma Leonardo Pontes, vice-presidente executivo comercial da Raízen. Além de ser o braço da Raízen na Região Norte, a Sabbá distribui combustível para os postos Shell também no Maranhão e Piauí.

Atuando no setor de energia elétrica, a Celpa, empresa adquirida em 2012 pela Equatorial Energia, atende os 8,2 milhões de habitantes do Pará. O desempenho da empresa tem sido afetado pelas condições macroeconômicas ruins, destaca seu presidente Marcos Antônio de Souza Almeida, em relatório comentando os resultados. Em 2018, o volume de energia faturada caiu 1,4% em relação ao de 2017, mas com Receita Operacional Líquida (ROL) 6,2% maior, na ordem de R$ 5,5 bilhões. O lucro líquido atingiu R$ 455 milhões, na mesma base de comparação, recuo de 25%.

A Videolar Innova, terceira colocada, tem sua planta principal em Manaus

Com destaque no segmento de resinas termoplásticas, utilizadas na fabricação de filmes plásticos em embalagens para alimentos, bebidas e em fitas adesivas, a Videolar Innova enfrentou as dificuldades de um setor retraído mantendo os investimentos. “O mercado de resinas termoplásticas se posiciona no centro da cadeia produtiva e, nessa condição, seu comportamento reproduziu o quadro geral da economia brasileira em 2018”, afirma o diretor comercial e de Operações, Claudio Rocha. 

A Videolar Innova também duplicou a capacidade produtiva do monômero de estireno (SM) na planta petroquímica de Triunfo (RS), projeto que canalizou investimentos superiores a R$ 600 milhões.

“Essa expansão se articula estrategicamente com a atividade na Região Norte, promovendo uma cobertura nacional de nossos produtos”, acrescenta Rocha. A principal planta da Innova fica no Polo Industrial de Manaus (AM).

 

Sul

Beira Rio produziu 107,8 milhões de pares de calçados em 2018

Setor calçadista mantém tradição de destaque

Na contramão do segmento, Beira Rio produziu 107,8 milhões de pares de calçados

Gestão eficaz, tecnologias inovadoras, novos materiais e uma relação estreita com o mundo fashion garantiram à Beira Rio, tradicional fabricante de calçados do Rio Grande do Sul, um desempenho na direção contrária à do setor em que atua. Enquanto no mercado calçadista a discreta alta na produção em 2017 e 2018 não compensou a queda de 9,4% entre 2014 e 2016, segundo dados da Abicalçados, a Beira Rio registrou alta ano após ano. A líder no Estadão Empresas Mais da Região Sul viu a produção saltar de 64,15 milhões de pares, em 2014, para 107,8 milhões no ano passado. Na comparação entre 2017 e 2018, a alta foi de 11,21%.

“No biênio 2018/2019, o mercado vem se mostrando mais retraído, mas essa retração nos impulsiona a desenvolver novos processos. Injetamos muito mais inovação nos produtos e também nos pontos de venda”, comenta Maribel Silva, diretora comercial e de Marketing da Beira Rio, destacando que, no ano passado, a empresa lançou a marca Actvitta, tanto para o público masculino quanto feminino, com o objetivo de atender o consumo wellness (bem-estar e praticidade). Entre as marcas da Beira Rio, estão Beira Rio Conforto, Moleca, Vizzano, Molekinha, Molekinho, Modare Ultraconforto e Actvitta.

Berneck, vice-líder, usa florestas plantadas e investe em capital humano

Na segunda e terceira posições da Região Sul, estão representantes da construção civil e do setor automotivo, respectivamente Berneck e Renault. Especializada em painéis MDP, MDF e HDF e madeira serrada de pinus, a Berneck não informa ou comenta dados sobre seu desempenho, mas destaca sua atuação sustentável como parte da estratégia. A empresa utiliza apenas madeira de florestas plantadas e investe no capital humano, em seus mais de 2.700 colaboradores diretos no Paraná e em Santa Catarina. “Temos uma estrutura enxuta com gente experiente. Focamos em otimização de custos de produção garantindo qualidade e um parque fabril sempre atualizado”, comenta a Berneck por meio de nota.

Com 20 anos no Brasil, a Renault tem vários motivos para comemorar. A montadora vem ganhando participação de mercado, realizou lançamentos de sucesso e segue investindo no País. Este ano, a Renault chegou a 8,8% de market share, seu recorde no Brasil. A trajetória de crescimento segue de forma contínua desde 2010. No ano passado, foram emplacados 214,8 mil veículos da marca e exportadas 98 mil unidades para vários países da América Latina e África. “A gente vem rodando bem acima do mercado e só no ano passado crescemos 28,5%, mais que o dobro do setor”, comenta Ricardo Gondo, presidente da Renault.

 

Centro-Oeste

Gabriela Ortiz: diretora-presidente da Caixa Seguradora

Líderes do Brasil Central driblam a crise

Caixa Seguradora conseguiu rodar na direção contrária à do mercado

Os setores de seguros, logística e açúcar e álcool garantiram representantes entre os três primeiros colocados no recorte regional do Estadão Empresas Mais. No Centro-Oeste, Caixa Seguradora, Rumo e Adecoagro, pela ordem, se destacaram em 2018. No setor de seguros, cujo desempenho foi afetado particularmente pelos planos de previdência, a Caixa conseguiu rodar na direção contrária à do mercado, com desempenho em alta em todas as linhas de negócios. A Rumo, maior operadora logística do País, conseguiu seu primeiro resultado líquido positivo desde que começou a reestruturar a companhia, em 2015. A Adecoagro seguiu na mesma direção de outras usinas, alterando o mix produzido, com redução do açúcar – por causa dos preços em queda desde 2017 – e elevação da produção de etanol.

“Oferecemos produtos acessíveis a milhões de brasileiros, o que nos ajudou a mitigar os efeitos da crise econômica”, comenta Gabriela Ortiz, diretora-presidente da Caixa Seguradora, que registrou o melhor ano da sua história com R$ 24,7 bilhões de faturamento (20,5% de alta). A previdência, que pesou sobre o setor de seguros, foi o destaque na Caixa com expansão de 35% em faturamento na comparação anual. A capilaridade da seguradora, diz Gabriela, também ajudou a bater as metas no ano. Sem dar números, a executiva afirma que a Caixa trabalha para manter a trajetória de crescimento observada nos últimos anos.

Após consolidar sua mudança de rota, Rumo registra primeiro lucro anual

Atuando ao longo de toda a cadeia logística, com transporte ferroviário, elevação em portos e estocagem de produtos, a Rumo tem quatro concessões: a Operação Norte, que compreende as concessões ferroviárias da Malha Norte e Malha Paulista, e a Operação Sul, que inclui operações ferroviárias da Malha Oeste e Malha Sul. O diretor-presidente da Rumo, Beto Abreu, destaca que tanto o volume maior transportado em 2018 quanto a maior eficiência operacional, que controlou os custos, levaram a receita líquida anual a R$ 6,5 bilhões, 11% maior do que a de 2017. “A companhia fechou recentemente um ciclo importante, com a consolidação daquele turnaround que vem sendo falado desde 2015, e obteve seu primeiro lucro anual. É só o começo.” O lucro em 2018 chegou a R$ 273 milhões. No primeiro semestre deste ano, nova expansão, de 4% no volume transportado.

Espelhando o comportamento das usinas que atuam com álcool e açúcar, a Adecoagro alterou o mix que produz. Com preços do açúcar em queda, o etanol ganhou espaço. Em termos de produção, a companhia reduziu em 39% o açúcar produzido e elevou em 56% a quantidade de etanol.