Greve dos caminhoneiros jogou foco nas ferrovias

Movimentação do transporte sobre trilhos bateu recorde em 2018

A greve dos caminhoneiros, que paralisou a economia do País em maio do ano passado, reforçou a necessidade de investimentos na estrutura logística, com uma melhor distribuição da carga entre os modais. Nunca se falou tanto sobre a importância do desenvolvimento das ferrovias no Brasil, que tem custo menor para trajetos mais longos, é mais segura e menos poluente. O mesmo em relação ao transporte aquaviário, subutilizado no País. O segmento ferroviário, que tem dois representantes entre os líderes no setor de transporte no Estadão
Empresas Mais
, vem ganhando participação desde as privatizações, iniciadas há duas décadas, mas que ainda continua distante do ideal, segundo vários analistas.

No ano passado, as ferrovias bateram recorde de movimentação de carga, com 569,8 milhões de toneladas, alta de 5,7% em relação a 2017. Segundo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), entre 2015 e 2018, ao mesmo tempo que a economia brasileira travava e o transporte rodoviário de cargas registrava uma movimentação menor, nas ferrovias ocorreu um crescimento médio de 5,2% ao ano.

Ainda assim, a participação do modal no transporte de carga é muito inferior à registrada em outros países, com 15%, ante 81% na Rússia, 46% no Canadá e 43% nos EUA, países também continentais. Incluindo todos os modais, aponta boletim da CNT, no ano passado o PIB do setor de transporte subiu 2,2%, mas no segundo trimestre deste ano, na comparação com os três primeiros meses de 2018, houve recuo de 0,3%. O desempenho da Rumo e da MRS, primeira e terceira colocadas no Estadão Empresas Mais, espelha o avanço recente do setor.

A segunda colocada do setor, que atua no transporte de gás natural, vive um momento de profunda transformação. A TAG foi privatizada neste ano, vendida pela Petrobrás à francesa Engie e ao fundo de investimento canadense CDPQ.

O processo de transição, que deve durar até o fim do ano, está sendo comandado pelo novo presidente da TAG, Gustavo Labanca. A empresa, que não quis se pronunciar sobre resultados ou novas estratégias, quer transferir parte da ocupação do gasoduto a terceiros. A Petrobrás paga por 100% da ocupação da rede, mas não utiliza todo esse espaço.

Administrando uma malha ferroviária de 1.643 km nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, a MRS transporta uma carga bastante diversificada, incluindo contêineres, siderúrgicos, cimento, bauxita, agrícolas, coque, carvão e minério de ferro. “Há alguns anos, estabelecemos essa orientação estratégica, de atender um número cada vez maior de setores e empresas, o que fortalece e amplia o horizonte de atuação da MRS”, comenta Fabrícia Souza, diretora de Finanças e Relações com Investidores. Em 2018, a MRS registrou um lucro líquido ajustado de R$ 521,6 milhões, 20% superior ao de 2017.

O volume transportado foi o maior da história da empresa, com 174,6 milhões de toneladas úteis. Na MRS, a greve dos caminhoneiros teve impacto positivo. “Aumentou o interesse pela ferrovia como solução logística”, diz Fabrícia.

Rumo opera quatro concessões e 12.021 quilômetros de linhas férreas no Brasil

Virada de gestão coloca empresa em cenário positivo

Pela primeira vez desde 2015, maior operadora ferroviária do País registra lucro líquido anual

O ano de 2018 marcou a consolidação do ciclo de turnaround (virada da gestão) da Rumo. A maior operadora ferroviária do Brasil, com quatro concessões e 12.021 km de linhas férreas, tem participação em seis terminais portuários do País, cinco deles no Porto de Santos (SP) e um no Porto de Paranaguá (PR). “Pela primeira vez desde 2015, alcançamos lucro líquido no resultado anual, num montante de R$ 273 milhões”, comenta Beto Abreu, diretor-presidente da Rumo. Também houve, pela primeira vez, geração de caixa antes de captações e amortizações, no valor de R$ 64 milhões no ano. Completa o cenário positivo para a Rumo a redução no endividamento da empresa do setor ferroviário.

A receita líquida do grupo de serviços logísticos de transporte em 2018 bateu os R$ 6,5 bilhões, cifra 11% maior do que em 2017. O que indica que a greve dos caminhoneiros teve impacto reduzido nas operações, com maior peso no final de maio, mas recuperação em junho, quando o desempenho avançou 16%.

“No primeiro semestre de 2019, houve redução nos volumes de soja, mas o aumento nos de milho compensou, o que nos ajudou a fechar o período com um crescimento expressivo, com uma movimentação de 1,5 milhão de toneladas do cereal”, diz Beto Abreu, diretor-presidente da Rumo. De janeiro a julho, houve avanço de 4% no total transportado, sobre igual período de 2018.

“No primeiro semestre houve redução nos volumes de soja, mas o aumento nos de milho compensou” Beto Abreu, Diretor-presidente

“Posso dizer que o desempenho se deu em função de uma entrega operacional robusta e de uma evolução do resultado financeiro, que apresentou melhora significativa, atingindo uma despesa líquida de R$ 143 milhões.” Houve melhora em praticamente todos os indicadores: Ebitda ajustado de
R$ 3,242 bilhões, avanço de 17,6%, graças aos maiores volumes transportados e uma maior eficiência em custos. O consumo de combustível recuou 7,1%. Enquanto a receita líquida da Rumo foi 11% maior. O resultado líquido parcial do grupo neste ano, até junho, aponta nova melhora na margem Ebitda, de 6,6%, e um lucro de R$ 211 milhões, ante prejuízo de R$ 98 milhões em igual período de 2018. “Registramos um aumento no volume de milho transportado, além disso avançamos também na movimentação de fertilizantes e contêineres para o mercado interno”, explica o diretor-presidente do grupo.

A estrutura de governança da companhia ganhou reforço no ano passado

Aplicativos

A aposta em inovação e uma boa estrutura de governança, comenta Abreu, também colaboram para a melhora do desempenho recente da Rumo. A companhia mantém uma área dedicada à inovação de produtos e serviços. Um dos resultados da área, destacado por Abreu, foi o aplicativo Chave na Mão, que facilita a comunicação entre maquinistas, manobradores e rondantes, com mais de 2 mil celulares distribuídos.

“Proporcionamos maior precisão nos registros, subsídios para análises de dados e ações para a implantação futura de medidas de mitigação. O software também faz a gestão integrada do ponto do maquinista, diminuindo custos com horas extras e deslocamentos”, explica o executivo. O investimento no projeto em que o Chave na Mão está inserido chega a R$ 400 milhões. Outro desenvolvimento da área de inovação da Rumo é o Trip Optimizer, que funciona como uma espécie de “piloto automático” do trem de carga, reduzindo o consumo de combustível e garantindo a segurança da operação.

A estrutura de governança da companhia, que é composta pelo conselho de administração e pela diretoria executiva, com parte dos membros independentes, ganhou um reforço no ano passado.

A Rumo instituiu o comitê estratégico e de sustentabilidade na tentativa de aprimorar o processo de planejamento estratégico da empresa. “Com ele, garantimos a inclusão da responsabilidade socioambiental na gestão da Rumo e a aplicação desses conceitos nas operações.

 

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