Vendas de automóveis continuam em alta
Após auge em 2012, setor sofreu com a recessão até 2017
Montadoras e fabricantes de autopeças estão animados com o desempenho em 2019, com alta nas vendas de veículos pelo terceiro ano seguido. No acumulado até agosto, apontam dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a venda de veículos novos avançou 9,93% ante a de igual período de 2018, com 1,79 milhão de unidades.
O resultado parcial de 2019 supera a projeção da Fenabrave para o ano todo, de alta de 8,3% sobre 2018. O desempenho dos líderes do setor no ranking Estadão Empresas Mais, que contou com a Renault em primeiro lugar, espelha a trajetória de recuperação do segmento, que viveu o seu auge de vendas em 2012, e depois iniciou um período de quedas sucessivas nas vendas acompanhando a recessão do País. A recuperação só começou em 2017 e avançou novamente no ano passado, com alta de 13,58%.
Com um crescimento expressivo na receita líquida entre 2017 e 2018, de 13,8%, para R$ 1,39 bilhão, o Grupo Moura, segundo colocado, comemora o bom desempenho tanto no mercado local quanto no Mercosul. “Foi um ano particularmente especial já que estivemos presentes em 7 dos 10 carros mais vendidos em 2018, e em mais da metade dos veículos produzidos no Mercosul”, comenta Tiago Tasso, diretor financeiro do Grupo Moura.
A empresa também é líder em baterias para telecomunicações e baterias tracionárias, utilizadas em empilhadeiras, rebocadores, paleteiras e plataformas elevatórias. Neste ano e nos próximos, a estratégia do Grupo Moura é consolidar as áreas de negócios mais recentes: as baterias de lítio para aplicações em ônibus, caminhões, empilhadeiras, telecomunicações e bicicletas elétricas, além dos Sistemas de Armazenamento de Energia.
Para o CEO da Iochep-Maxion, Marcos de Oliveira, mesmo com estimativa de queda nas exportações, a produção de veículos fechará 2019 com alta dando sequência à recuperação após anos de dificuldade. “O mercado automotivo passou por uma crise muito forte entre 2014 e início de 2017, com retração de 45% em automóveis e 70% em caminhões, mas a trajetória agora é positiva”, comenta o CEO.
A multinacional brasileira, terceira do ranking e líder mundial na produção de rodas, completou 100 anos de história em 2018. A receita operacional líquida global de R$ 9,6 bilhões avançou 28,4% em relação a 2017 em termos reais. Se considerado o efeito cambial, a expansão foi de 14,3%, já que a companhia faz 75% de seu faturamento no exterior.
“Superamos o crescimento médio consolidado da indústria automobilística nos mercados onde atuamos, impulsionados principalmente pela expansão de nossa capacidade de produção de rodas de alumínio para veículos leves e pela crescente competitividade de nossos produtos”, explica Oliveira. As vendas domésticas realizadas no Brasil somaram R$ 2,37 bilhões, em alta de quase 30% em comparação a 2017. “Fomos impulsionados pelo crescimento em alguns mercados automotivos, particularmente o Brasil e o segmento de veículos comerciais na América do Norte.”
Inovação turbina estratégia de crescimento de montadora
Renault fecha 2018 com avanço duas vezes maior que o do mercado e atinge recorde no País
A manutenção dos investimentos no Brasil, em que pesem os anos recessivos e que afetaram o desempenho do setor automotivo, deu resultado para a Renault. No ano passado, quando completou duas décadas no País, a montadora francesa apresentou um desempenho bem acima do registrado no mercado, ganhando market share, o que volta a se repetir em 2019. A Renault fechou 2018 com crescimento duas vezes maior do que o setor – 28,5% ante 13,5% –, garantindo 8,7% de participação no mercado, avanço de um ponto porcentual sobre 2017 e seu recorde no País. As exportações chegaram a 98 mil unidades para vários países da América Latina e África.
Neste ano, o desempenho continua forte, com crescimento de 17%, também acima do alcançado pelo mercado.
“A Renault, mesmo com todas as dificuldades do País, seguiu investindo e, no ano passado, concluímos uma fábrica de injeção de alumínio com capacidade para produzir 500 mil tubos e cabeçotes para fornecer à nossa fábrica de motores, em São José dos Pinhais”, comenta o CEO, Ricardo Gondo.
Novos modelos
A montadora investiu, entre 2015 e o começo deste ano, R$ 3,2 bilhões no País. A estratégia para ganhar espaço no setor incluiu também lançamentos de produtos no mercado brasileiro. “Completamos duas décadas no País e com vários motivos para comemorar. Nos últimos anos, lançamos Kwid, Captur e Duster Oroch, com muito sucesso, além do K-Commerce, plataforma online para a compra de veículos”, comenta o CEO. O Kwid foi líder do segmento de entrada com 67.316 unidades emplacadas em 2018. “No geral, o Kwid foi o sétimo modelo mais vendido e já avançamos para a quinta posição em 2019. É um sucesso”, comenta Gondo, que acrescenta, entre os fatores que explicam o desempenho da Renault, o trabalho para garantir a competitividade dos produtos no Brasil.
A inovação, afirma o executivo, é fator essencial dentro dessa estratégia. A montadora tem centros de engenharia e de design trabalhando no desenvolvimento e melhoria dos produtos. “Temos um ecossistema de inovação que garante nosso ótimo desempenho, incluindo parcerias externas.”
“No geral, o Kwid foi o sétimo modelo mais vendido e já avançamos para a quinta posição em 2019. É um sucesso” Ricardo Gondo, CEO
Este ano, a Renault lançou, em São Paulo, em parceria com o Cubo Itaú, maior hub de fomento ao empreendedorismo tecnológico da América Latina, o Renault Lab. O espaço conecta em um só lugar empreendedores, grandes empresas, investidores e universidades para inovar, buscar novos modelos de negócio, novas formas de trabalhar e desafiar o status quo, visando a um mundo melhor.
“Temos uma pessoa da Renault full time no local e quando surge um problema específico levamos ao Cubo para que encontrem uma solução, é algo bem focado.”
Carro elétrico
De olho no futuro, que nas palavras do CEO deve ver o carro elétrico despontando, a Renault já testa no Brasil unidades produzidas no exterior. Em Belo Horizonte, em um condomínio da MRV, há carros elétricos disponíveis aos condôminos para teste.
O mesmo ocorre no Hotel Tivoli, em São Paulo, com 10 carros elétricos Renault à disposição dos hóspedes. “Acreditamos muito no potencial do carro elétrico. Somos líderes no mercado europeu nesse tipo de veículo e vamos manter a aposta nesse produto”, afirma Gondo, ponderando que ainda não há previsão de que veículos elétricos sejam fabricados no País. “Depende de escala.”
Sobre a projeção dos números de 2019, o horizonte também é otimista, segundo as previsões da direção da companhia.
“Mesmo com dados macroeconômicos para o País indicando alta pequena do PIB, perto de 0,8%, o mercado automotivo vive um bom momento e deve fechar 2019 com alta expressiva”, comenta Gondo. “Os juros vêm caindo e há liquidez no mercado. O crédito tem sido um fator importante nessa trajetória.”