Vanguarda com capacidade ociosa
Medidas de estímulo ao consumo são vistas com bons olhos pelo setor, sensível ao cenário econômico
Estabilidade nos empregos e crescimento razoável, acompanhando a tímida movimentação da economia, vêm sendo as situações que melhor definem o dia a dia dos segmentos de eletroeletrônicos e eletrodomésticos no País. A expectativa do setor é de fechar 2019 com desempenho de 5%, em média, superior ao do ano passado. Os empregos se mantêm estáveis, 120 mil, entre internos e de outros pontos da cadeia. Nos últimos meses, não há registros de muitas contratações ou de demissões em série.
Após investir em inovação, desenvolvimento de produtos e inteligência nas linhas de produção, com adoção de conceitos de transformação digital como a indústria 4.0, os setores de eletrodomésticos, de eletrônicos e de informática estão, hoje, na vanguarda em termos de oferecer ao consumidor brasileiro todos os produtos disponíveis em países asiáticos, na Europa e nos Estados Unidos. Diversificar o portfólio também é uma palavra de ordem. Ação que aparece como bons exemplos em duas empresas com DNA brasileiro, a Multilaser e a Intelbras, destaques do ranking Estadão Empresas Mais.
As áreas de eletrônicos e eletrodomésticos, porém, são extremamente sensíveis às incertezas do cenário econômico, causando uma espécie de gangorra na atividade industrial e de vendas. Processo que afeta também as importações e exportações de todo o segmento. “Podemos dizer que, quando a economia cai, somos os primeiros a mostrar sinais de queda também”, afirma José Jorge do Nascimento Júnior, presidente executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).
Mesmo assim, diz ele, o primeiro semestre apresentou variações positivas nos números da chamada “linha branca” (fogões, geladeiras, máquinas de lavar roupas e ar-condicionado) e também da categoria de portáteis (ventiladores, ferros de passar, sanduicheiras e secadores). “Respectivamente, os crescimentos nas vendas foram de 13% e 10% em relação ao primeiro semestre do ano passado”, diz.
Na chamada “linha marrom” (aparelhos de áudio e televisores, videogames e câmeras digitais), houve queda de 12%. Nessa comparação, segundo Nascimento Júnior, entra a grande demanda registrada em 2018, por causa da Copa do Mundo da Rússia. Mesmo assim, há a expectativa de fechar 2019 com 12 milhões de TVs fabricadas, o mesmo total do ano passado. Efeitos sazonais, como a Black Friday e as vendas de Natal, darão o esperado impulso extra, segundo a direção da Eletros. Espaço para crescimento há, e muito, uma vez que os parques industriais trabalham com uma capacidade ociosa beirando os 30%, segundo o presidente da Eletros.
Alexandre Baratella, coordenador do curso de Controle e Automação do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), destaca que o Brasil ainda pode se desenvolver muito no campo da fabricação de chips. “Hoje, ficamos um pouco reféns da crise porque ela afeta a exportação do silício brasileiro para a China, onde se fabricam esses componentes. E depois compramos os chips prontos, mais caros, porque quase não há produção nacional.”
Empresa centenária aposta em transformação digital
Apesar do mercado pouco aquecido, Electrolux vai lançar este ano várias novidades para o consumidor
Com uma trajetória de exatos cem anos, a multinacional sueca Electrolux aposta alto em inovação e transformação digital tanto interna quanto externamente, com o objetivo de atender melhor o consumidor da era da informação, mais antenado e preocupado com a saúde e com o seu bem-estar.
Mesmo diante do cenário econômico incerto, que se reflete em um ambiente de baixa demanda e ociosidade de cerca de 20% nas unidades de produção, a fabricante de eletrodomésticos, destaque do setor Eletrodomésticos, Eletrônicos e Informática do ranking Estadão Empresas Mais, sustentou um aumento de preços em seus produtos no início deste ano.
Decisão tomada com o objetivo de compensar os reflexos não só da economia ruim, mas também do efeito negativo do câmbio sobre a compra de matérias-primas.
Com isso, para o fechamento de 2019, a perspectiva é de estabilidade nas receitas em relação ao ano anterior. Resultado que também deverá ser obtido, segundo os planos da empresa, pelo diversificado mix de produtos à disposição dos consumidores. Faz ainda parte da estratégia da Electrolux lançar novidades tecnológicas nos próximos meses.
Para este ano, chegam ao mercado por volta de 30 novidades, entre fogões, refrigeradores, máquinas portáteis de cuidar (e não de lavar) de roupas, com tecnologia que preserva os tecidos. “Os lançamentos só são colocados no mercado depois da aprovação por nossos consumidores, em um modelo que reduz o ‘time to market’ e aumenta a eficácia das nossas propostas inovadoras”, afirma Eduardo Cortez, general manager de Operação da Electrolux Brasil.
Importante que haja investimentos em soluções que combinem crescimento econômico e geração de empregos, apoiando o aumento de renda e, por consequência, o bem-estar social” Eduardo Cortez, General manager de Operação
Atualmente, a multinacional opera suas cinco plantas no Brasil de forma otimizada, focada em iniciativas de manufatura digital para processos mais ágeis que ajudem no quesito competitividade. Ao longo dos últimos anos, a empresa implementou processos de indústria 4.0 por meio de robôs e sistemas colaborativos. Um sistema de gestão online e em tempo real do chão de fábrica também foi adotado, para reduzir potenciais falhas no processo e garantir maior qualidade no acabamento dos produtos. Outra das novidades é o uso de simuladores digitais na pré-montagem de refrigeradores.
Entre as principais inovações trazidas ao mercado, a empresa cita a renovação completa da linha de fogões, alguns com forno duplo, que permitem o preparo de até duas receitas simultâneas. Para melhorar a experiência dos clientes, a Electrolux desenvolveu dois aplicativos, o i-Kitchen, permitindo conexão do smartphone ao fogão via Wi-Fi, além do Home+, que possibilita o controle de funções de geladeira e aparelhos de ar condicionado para a criação de rotinas inteligentes a partir de hábitos diários.
“A inovação está inserida em todos os segmentos e áreas da companhia, desde o objetivo que move a empresa, que é o de oferecer a melhor experiência ao consumidor nos territórios como sabor, cuidado com as roupas e bem-estar, até também a inclusão em qualquer processo interno com impacto direto na cultura organizacional. Todos estes fatores se refletem na jornada de experiências voltada para o consumidor, não só atrelada a toda a oferta de produto, mas também à experiência com os serviços.”
Para o futuro, a perspectiva é otimista, analisa Cortez. “É importante que haja investimentos em soluções que combinem crescimento econômico e geração de empregos, apoiando o aumento de renda e, por consequência, o bem-estar social. Não é uma missão simples e não há uma solução única, mas é possível chegar lá”, avalia, acrescentando que a empresa acredita muito no potencial do mercado brasileiro.
“Acreditamos que no Brasil é preciso o engajamento da cadeia como um todo, com os agentes unidos e comprometidos para que o desenvolvimento setorial ocorra, acima de tudo, de maneira sustentável e com visão de longo prazo”, afirma o executivo.