Indicadores mostram trajetória gradual de crescimento

Em 2019, vendas avançaram 1,3% no primeiro semestre

A indústria de alimentos continua se recuperando dos anos de crise, mas a um passo lento. No primeiro semestre deste ano, as vendas avançaram 1,3% na comparação com as de igual período do ano passado. Em 12 meses, encerrados em junho, cresceram 1,1%, aponta pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia). Para a entidade, os números sinalizam “que o setor está em uma trajetória de recuperação gradual de crescimento”. No ano passado, o faturamento já havia registrado 2,08% de alta, a R$ 656 bilhões. Por setor, os com melhor desempenho neste ano são conservas de vegetais/frutas e sucos (extrato de tomate, milho, goiabada e sucos de laranja), alta de 5,4%; e bebidas (águas, refrigerantes, etc.), mais 1,6%.

No ranking do setor de alimentos do Estadão Empresas Mais, a primeira e a terceira colocadas são do segmento de bebidas, respectivamente, Femsa Brasil e Solar BR Participações, ambas fabricantes de marcas da Coca-Cola. Dados da Abia apontam que, em termos de participação nas vendas do setor, a categoria de proteína animal fica em primeiro, com 22%, seguida por bebidas, com 20%.

Com 20 mil funcionários no País, 44 centros de distribuição e 10 fábricas, sendo a unidade de Jundiaí (SP) a maior no mundo em volume de vendas em produtos Coca-Cola, a líder Femsa registrou em 2018 e no primeiro semestre deste ano um desempenho superior ao do mercado.

A terceira do ranking é outra parceira da Coca-Cola, a Solar BR Participações, com unidades no Nordeste. A empresa produz todo o portfólio de produtos da Coca-Cola e com algumas exclusividades, como o refrigerante Crush. Para Fábio Acerbi, diretor de Relações Externas da Solar, 2018 foi difícil para todos por causa da crise, mas também de pressões tributárias. Nos últimos três anos, informa o executivo, apenas no âmbito estadual, houve um aumento de carga fiscal de cerca de 33%. “Isso tem nos desafiado a rever toda a estrutura. Chegamos ao limite do que se pode fazer sem adentrar nas análises de redução de estrutura, incluindo eventuais fechamentos de fábricas ou centros de distribuição.”

No ano passado, ante 2017, a receita líquida da Solar aumentou 7%, mas com lucro operacional menor. Os maiores mercados consumidores da Solar são Pernambuco, Ceará, Bahia e Mato Grosso. Em 2018, a empresa investiu R$ 300 milhões, comprou e introduziu no mercado mais de 30 mil geladeiras e contratou cerca de 700 vendedores para estimular a demanda.

A segunda colocada no ranking é representante de outro setor, o de massas e biscoitos. Tradicional empresa do Ceará, a M. Dias Branco ganhou terreno nesses segmentos. “Tivemos disciplina na execução das prioridades que, no nosso caso, foi solidificar a posição de liderança em massas e biscoitos”, diz Fabio Cefaly, diretor de Novos Negócios e Relações com Investidores da M. Dias Branco, que tem 19 marcas no mercado, como Adria e Basilar (massas), Puro Sabor (margarina) e Piraquê (biscoitos). A receita líquida do grupo totalizou R$ 6,02 bilhões, um crescimento de 11,3% sobre 2017, com expansão de participação de mercado de 32,5% para 34% em biscoitos e de 32,4% para 36% em massas.

Na fábrica da Coca-Cola, aumenta a produção de bebidas menos açucaradas

Renovação de portfólio para um mundo com menos açúcar

Estratégia de produzir bebidas não calóricas ganha mais consumidores

A busca por produtos mais saudáveis, com menos açúcar, é uma tendência no setor de alimentos e particularmente importante no de refrigerantes. A Femsa Brasil, parceira da Coca-Cola no País, tem respondido a esse cenário com uma renovação do portfólio nos últimos anos, com bons resultados.

A empresa adaptou os produtos para oferecer o sabor das bebidas nas versões original (com açúcares) e também zero/light (sem açúcares). “Trouxemos versões de baixa caloria que atendam às expectativas de quem quer bebidas não calóricas com um sabor delicioso”, comenta Ian Craig, CEO da Coca-Cola Femsa Brasil. Os números apresentados pela empresa reforçam o sucesso da iniciativa. As vendas da versão Coca-Cola sem açúcar, neste ano, já cresceram 25% ante 2018. “A indústria de low cal cresceu em média 15% nos últimos dois anos e a Coca-Cola sem açúcar avança praticamente o dobro”, comenta.

“Trouxemos versões de baixa caloria que atendam às expectativas de quem quer bebidas não calóricas com um sabor delicioso” Ian Craig, CEO

No ano passado, em termos gerais, o volume de vendas do grupo subiu 5% e a receita, 8% em relação aos números registrados no ano de 2017. Em 2019, houve aceleração no primeiro semestre em relação a igual período de 2018. A receita subiu 17%.

Nos últimos anos, a Femsa investiu também em ampliações físicas. Na cidade de Itabirito, interior de Minas Gerais, houve a construcão de uma nova planta.

Mais três novos centros de distribuição, que passarão a operar nos próximos meses, também foram projetados.  Dois vão funcionar no Estado de São Paulo (um na capital e outro na região do ABC) e um terceiro no Estado de Minas Gerais.

Suco em baixa

Segundo o executivo do grupo, a Femsa segue de perto as tendências de consumo e procura oferecer produtos que “garantam escolhas às distintas ocasiões, gostos e necessidades”. Mesmo que os consumidores busquem outras opções, menos calóricas e mais saudáveis, os refrigerantes se mantêm na preferência dos brasileiros.

De acordo com dados do Euromonitor International, a cada sete litros de refrigerante vendidos no Brasil, apenas um de suco pronto é consumido por habitante em um ano. Das linhas de atuação da Femsa, a principal continua sendo a de refrigerantes, com 73%, seguida pela de cervejas (16%), e as de bebidas sem carbono (sucos e águas), com 11%.

Retornáveis

Outra tendência que a parceira da Coca-Cola acompanha de perto é a de uso de vasilhames retornáveis que, além de ser uma iniciativa mais sustentável para o meio ambiente, proporciona ao consumidor um preço mais atrativo. No ano passado, a Coca-Cola assumiu o compromisso global de até 2030 dar destinação correta ao equivalente a 100% das embalagens que são colocadas todos os anos no mercado.

“Nos últimos anos, investimos forte em embalagens retornáveis, de garrafas PET, e mantivemos as de vidro no mercado”, comenta o CEO. Hoje, 12% do volume comercializado pela Coca-Cola Femsa está em embalagens retornáveis (PET de 2 litros,1 litro e 600ml e vidro de 290ml).

O ano de 2018, para a companhia de bebidas, foi marcado também pelas dificuldades causadas pela greve dos caminhoneiros, que paralisou as estradas do País em maio, nas vésperas da Copa do Mundo, e a necessidade de segurar os preços.

“Tivemos desafios nos estoques de matéria-prima e distribuição de produtos, porém esse reflexo foi amenizado nos meses seguintes, graças à rápida execução da nossa força de vendas e distribuição”, explica Craig, ao comentar os efeitos da greve.

O CEO também destaca a necessidade de manter os produtos acessíveis e adequados a um momento de elevada sensibilidade do brasileiro a preços, por causa da gravidade da crise econômica que o Brasil enfrenta. “Foram três anos de recessão e o País passa ainda por uma recuperação moderada.”