Realização:

Estadão

Produção:

Media Lab

A “nova” dinâmica do trabalho

Revolução digital, meio ambiente, capital humano e social. Não é só a tecnologia que determina a reorientação das carreiras

Por Roberto de Lira

Gestada e encaminhada nas últimas décadas, a transformação do trabalho foi acelerada pela pandemia de covid-19, que exigiu mudanças e adaptações rápidas. É possível afirmar que a revolução em curso não é fruto de achismo, não é futurista e, sim, está dada: meio ambiente, capital humano e social, economia, novos modos de vida. Não é só a
tecnologia que determina a reorientação das carreiras e do modo como as empresas se relacionam com os  profissionais e com os clientes.

Em seu mais recente relatório O Futuro do Emprego, publicado em outubro de 2020, o Fórum Econômico Mundial escava as 26 maiores economias do planeta para identificar desafios e oportunidades a curto prazo: até 2025,
85 milhões de empregos podem ser substituídos ou simplesmente desaparecer embaixo de uma divisão do mercado de trabalho entre humanos e máquinas. Por outro lado, o estudo também mostra que 97 milhões de novas funções devem surgir a partir das adaptações a “novas realidades”.

O diagnóstico do Fórum Econômico não chega a ser surpreendente: entre as funções que estão se tornando redundantes e obsoletas, figuram secretariado e assistência executiva, operação de computador, digitação para alimentar bancos de dados e atendimento de telemarketing. O motivo é o que já sabemos: robôs e algoritmos ocupam boa parte desses espaços.

Mas a revolução digital não significa que a pista está lotada para sempre ou que seja inevitável sair dela. Há uma série de outras coisas que precisam ser feitas enquanto – vamos torcer – as máquinas trabalham a nosso favor. A aceleração dos processos também cria possibilidades. Cada vez mais, o mercado de trabalho cobiça bons cientistas de dados e especialistas em inteligência artificial, por exemplo. E quem almeja um papel de liderança, aquele que tem seu caminho no MBA (e não só), precisa trabalhar pensamento crítico e analítico, capacidade de resolução de problemas e habilidades em autogestão, como aprendizagem ativa, resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade. Coisas que o computador (ainda) não faz.

Marcelo Treff, professor de gestão de pessoas em faculdades como PUC, FIA e Fecap, diz que tecnologia, inteligência artificial, algoritmos, analytics e big data cada vez mais darão o tom das carreiras. Treff lembra, no entanto, que as competências não são influenciadas apenas pelos avanços tecnológicos, e sim por mudanças demográficas e questões de qualidade de vida e de urbanização. Os ambientes profissionais, avalia o professor, ficarão muito mais d i n â m i c o s . No lugar de um mundo cheio de indivíduos multifuncionais ou que vivam em constantes mudanças e viradas de jogo, as transições profissionais tendem a ocorrer dentro de uma mesma empresa e/ou carreira – e serão mais frequentes. “Será uma orientação para o autodesenvolvimento”, diz.

EM ALTA

* Inteligência artificial e machine learning
* Análise e ciência de dados
* Internet das coisas (IoT)
* Transformação digital
* Big data
* Gestão e organização
* Estratégia e marketing digital
* Gerente de projeto
* Automação de processos
* Prestação de serviços e gerência administrativa

EM BAIXA*

* Contabilidade, escrituração, análise de folha de pagamento
* Digitação de entrada de dados
* Trabalho em linha de montagem
* Secretariado executivo e administrativo
* Reparação mecânica e de máquinas* Assistência de manutenção e de estoque
* Atendimento ao cliente
* Caixa de banco e funções relacionadas
* Auditoria interna
* Operação de business services e gerência administrativa

*Atividades que tendem a desaparecer e/ou ser substituídas com a transformação digital e a automação.

EMPATIA E OTIMISMO

Em outubro deste ano, a consultoria empresarial norte-americana McKinsey promoveu no canal McKinsey Talks (YouTube) um painel para discutir o futuro da força de trabalho brasileira. Fernanda Mayol, sócia da McKinsey no
Rio de Janeiro, levou ao debate alguns insights obtidos em um estudo aprofundado feito pela companhia em parceria com a Box 1824. Em sua fala, Fernanda dá pistas importantes sobre os impactos da pandemia nas organizações, na vida profissional e no ambiente de trabalho. Tudo isso em um momento em que, com desemprego em alta e insegurança, “prevalecem sentimentos de ansiedade e medo”. A tempo: em terceiro lugar, logo atrás, aparece a esperança e apenas 13% dos profissionais ouvidos para o estudo afirmam que a pandemia trouxe mais mudanças negativas do que positivas no trabalho.

  • As organizações estão vivendo um período de transformação, de incorporar aprendizados.
  • A velocidade de aprendizado nunca foi tão alta e isso veio para ficar.
  • As lideranças estão olhando agora para grandes imperativos, a exemplo de viabilizar estruturas horizontais e considerar talentos como mais escassos do que o capital.
  • Nas empresas, desenvolveu-se a questão da empatia e do senso de inclusão.
  • O trabalho remoto ajudou no cenário da inclusão. Ele permite maior flexibilidade.

 

CREDIBILIDADE
90% das empresas confiam nas escolas de negócios e MBA para preparar profissionais de sucesso

 

MUDANÇA
68% dos entrevistados acham que daqui para frente, com as exigências e transformações do trabalho remoto, é
fundamental que os profissionais estejam afiados no uso de novas tecnologias de trabalho e de comunicação virtual

Roberto de Lira