Alex Agostini é economista-chefe da Austin Rating, coordenador da área de projetos
e estudos especiais, responsável pela área de rating de entes públicos.
29 de outubro de 2020
O Prêmio Finanças Mais chega a sua 4ª edição e ganha ainda maior importância neste momento em que as instituições financeiras foram determinantes no processo de apoio ao setor produtivo e às famílias, em meio à forte crise de saúde pública que culminou na atual recessão econômica.
O sistema financeiro brasileiro passou por uma verdadeira prova de fogo neste turbilhão que foi o período mais agudo da crise de saúde pública e, mais uma vez, reforçou sua importância e solidez, pois, mesmo diante de todas as incertezas possíveis sobre qual seria o desdobramento dessa pandemia, as instituições financeiras ampliaram a oferta de crédito para pessoas físicas e empresas, renegociaram e postergaram contratos. Além disso, o Banco Central não abandonou sua agenda para o setor e implementou o PIX (sistema instantâneo de pagamento), bem como segue com o cronograma do Open Banking, tudo isso amparado pelo arcabouço legal da LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018).
A importância da atuação das instituições financeiras ganha ainda maior relevância por ser a principal fonte de irrigação da atividade no País, seja com financiamento do crédito ao varejo amparando o consumo das famílias nos hiper e supermercados, seja nas linhas de crédito ao setor industrial para, por exemplo, estimular a atividade no setor automotivo, que tem ampla cadeia setorial e é um dos que mais empregam no País, ou, ainda, o financiamento da produção agrícola com insumos e maquinários.
Na esteira de um sistema financeiro sólido, o mercado de capitais brasileiro, desde o início da década de 2000, tem se desenvolvido rapidamente, com diversificação de produtos, e ganho de musculatura com número crescente de novos investidores. O que ocorre é uma importante transformação estrutural estimulada tanto pela modernização dos sistemas de regulação e fiscalização, que ampliam as bases de transparência e governança, quanto pela mudança de comportamento da população em relação às oportunidades de investimentos em renda variável e renda fixa, seja pelo ambiente macroeconômico com taxa de inflação e taxa de juros em níveis baixos ou, ainda, pelo amplo trabalho de educação financeira. Segundo dados da B3 (antiga BM&FBovespa), o número de investidores pessoas físicas atingiu a marca de 3,066 milhões em setembro último, ante 611 mil em 2010 e de apenas 85,2 mil em 2002 (alta de 3.500% no período, e de 400% em apenas 3 anos).
No âmbito dessas mudanças, o ponto mais relevante é, sem dúvida alguma, a forte redução da taxa de juros básica (Selic) para os atuais níveis de 2,00% ao ano. Pois, diferentemente do passado, o novo patamar da taxa de juros não interfere somente no custo de oportunidade entre consumir e investir, mas também na forma em que as pessoas diversificam sua alocação de recursos e, principalmente, na definição da estratégia do governo federal em financiar sua dívida pública bruta que, no mês de agosto (último dado disponível), atingiu o recorde histórico de 88,83% do PIB, com valor de R$ 6,39 trilhões.
Por fim, é importante destacar uma vez mais que, para o crescimento e desenvolvimento de um país ganhar tração e sustentabilidade no médio e longo prazos, o sistema financeiro deve ser sólido e eficiente, seja em momentos de adversidade, como o atual da pandemia, seja em momentos de abundância econômica para que os controles de liquidez não sejam fragilizados. Os canais de financiamento da dívida pública também devem ser mantidos para reconduzir o Brasil ao crescimento econômico consistente e robusto de uma forma que mude a condição da sociedade e preserve seus sonhos de um País menos desigual.