Dois anos consecutivos de recessão serviram para que os bancos de varejo arrumassem a casa e se preparassem para a retomada do crescimento. Ela veio em 2017, ainda que de forma tímida, com o PIB subindo apenas 1%. Some-se a isso a queda da taxa Selic, que começou 2017 a 13,75% e terminou em 7%, exigindo mais esforço e criatividade para conseguir resultados.

Nesse cenário, o Bradesco se destacou mais uma vez e liderou, pelo segundo ano consecutivo, a categoria Bancos | Varejo do anuário Finanças Mais, seguido por Itaú e Santander. Em comum, as instituições destacam que disciplina e busca constante por inovação, tecnológica ou de produtos e serviços, foram fundamentais para enfrentar os tempos difíceis. Como estratégia, adotaram a busca por receitas de serviços e o foco em linhas de crédito com menor inadimplência.

“Cumprimos uma agenda construtiva no período de recessão. Fomos disciplinados, apertamos o cinto e ajustamos as provisões para aumentar nossa solidez financeira, sem deixar de investir no avanço tecnológico”, explica Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco. Os números corroboram o discurso do executivo. Com mais de 92% dos atendimentos realizados por meios remotos, o banco investiu R$ 6 bilhões em tecnologia em 2017. Viu as receitas com prestação de serviços aumentarem 10%, ao mesmo tempo em que a queda da taxa de inadimplência permitiu reduzir em 15,9% a provisão para devedores duvidosos.

Com o fim da recessão, o banco passou a dar maior ênfase aos negócios, com destaque para o crédito, especialmente consignado e financiamento de imóveis, que têm mais garantias e menor inadimplência. O resultado foi um crescimento de 25,5% na carteira de crédito consignado da instituição e de 5,5% no crédito imobiliário para pessoa física.

“Buscar clientes e novos negócios passou a ser a orientação geral. Pode ser crédito, investimento, orientação financeira, seguro, apoio a algum projeto de empreendedorismo ou uma fusão de todas as partes possíveis”, explica Lazari. Olhando para a frente, avalia que o maior desafio é entender as mudanças constantes, como o crescimento das fintechs, as mudanças regulatórias e a forma de operar com juros baixos. Ainda assim, a mensagem é de confiança. “Há uma demanda reprimida por produtos e serviços financeiros e de seguros, com a volta do crescimento gradual da economia e o novo cenário proporcionado pelo juro baixo.”

Assim como o seu principal concorrente, o Itaú viu o crédito retomar fôlego. No último trimestre de 2017, a carteira de veículos para pessoas físicas do banco atingiu seu ponto de inflexão, apresentando crescimento de 1,4% em relação ao trimestre anterior, a primeira elevação em 21 trimestres. No ano, foram concedidos 12% mais créditos para pessoas físicas que em 2016 e 14% mais créditos para micro, pequenas e médias empresas.

“Embora tenhamos obtido aumento de retorno e de resultados, 2017 foi muito desafiador, com as taxas de juros decrescentes, crescimento de crédito lento, menores volumes e transações na economia do que o originalmente esperado”, afirma Alexsandro Broedel, diretor executivo de Finanças e Relações com Investidores do banco. Para vencer nesse cenário, o Itaú focou em receita de serviços e seguros, que responderam por 54% do lucro líquido em 2017, e um rígido controle de custos.

O ritmo constante das mudanças também já faz parte da agenda do banco e é visto como uma necessidade. O tema é tratado por dois grupos no banco, um de transformação, que cuida de agenda digital, gestão de pessoas e de olhar para o cliente no centro das decisões; e outro de melhoria contínua, que trata de gestão de riscos, internacionalização e rentabilidade sustentável. Uma das iniciativas para atender às necessidades relatadas pelos clientes do banco foi o lançamento de uma plataforma aberta de produtos de investimento para os clientes do segmento de alta renda, chamada de Personnalité 360, por meio da qual os correntistas podem investir em produtos de outras instituições.

No Santander, o segmento de alta renda também está entre as prioridades, com a abertura de mais de 50 espaços Select aproveitando a infraestrutura das agências existentes. O agronegócio foi outro destaque, com a abertura de 16 lojas Agro como parte do projeto de interiorização do banco. As iniciativas ajudaram o Santander a obter em 2017 o melhor resultado da história de sua operação brasileira, com lucro líquido gerencial de R$ 9,95 bilhões, um crescimento de 35,6% em 12 meses.

José Roberto Machado, diretor executivo de Pessoa Física do Santander, comemora o resultado, fruto da ideia de ter um modelo de negócio próprio para cada segmento. “Tivemos crescimentos importantes na nossa base de clientes, acompanhados por um forte crescimento nas carteiras de crédito, em praticamente todas as modalidades. Nossa financeira se consolidou como líder de mercado, lançamos diversas melhorias nos nossos canais digitais, abrimos nossas lojas Agro, lançamos as lojas do segmento Select”, afirma.

“Há demanda reprimida por produtos e serviços financeiros e de seguros, com a volta do crescimento gradual da economia e o juro baixo.” – Octavio de Lazari Junior, presidente do Bradesco

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