Rankings que elencam empresas do setor financeiro costumam suscitar comparações entre o lucro auferido sobretudo pelos bancos e o desempenho da economia de forma geral. Isso se dá porque, mesmo em períodos de recessão, essas instituições dificilmente deixam de fechar seu balanço no azul, em geral de forma vistosa, como pode ser constatado nesta edição de Finanças Mais.

A principal indagação costuma recair sobre o motivo pelo qual os juros cobrados nas operações de crédito pelas instituições financeiras não acompanham a redução da taxa básica (Selic), cuja meta é definida a cada 45 dias pelo Conselho de Política Monetária (Copom) e, no início de junho, era de 6,50% ao ano, significativamente inferior ao custo de qualquer tipo de empréstimo bancário. (Os juros do cheque especial, por exemplo, se aproximam de 300% ao ano.)

Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, por meio do qual as instituições financeiras realizam, diariamente e em tempo real, operações interbancárias lastreadas em títulos públicos. São essas transações que indicam o valor da taxa básica de juros, que acabou se popularizando como Selic.

Especialistas ouvidos por Finanças Mais justificam o descasamento entre a redução da Selic e juro bancário com uma série de fatores, como inadimplência, falta de acesso a informação, cunha fiscal, crédito direcionado, concentração bancária e depósito compulsório. Não há consenso sobre a hierarquia desses fatores, tampouco uniformidade sobre as alternativas para reduzir o juro a patamares mais civilizados.

O Banco Central tem tomado uma série de medidas para estimular a competição. Os próprios bancos, atentos às novidades tecnológicas, desenvolvem serviços e incubam novas empresas para atender jovens consumidores propensos muito mais a usar aplicativos financeiros em seus dispositivos móveis do que a tomar cafezinho com o gerente na agência.

A utilização da tecnologia permitiu que os bancos brasileiros atravessassem com sucesso os períodos de hiperinflação (nos anos 1980/90), ao desenvolver sofisticados sistemas para informatizar suas operações e reduzir seus custos. A criação de várias fintechs (empresas de tecnologia financeira) não pertencentes aos bancos, nos últimos anos, passou a oferecer essa redução de custos aos clientes, ao não cobrar, por exemplo, taxas por seus serviços (outra fonte de receita dos bancos tradicionais). Em algum momento, essa incipiente disputa chegará aos juros e se constatará se a concorrência é concreta ou somente virtual.