2 de abril de 2019
Regulamentada há cinco anos, a modalidade de investimento pode ter características de renda fixa ou variável
Certificado de Operações Estruturadas (COE), pouco conhecido entre os investidores iniciantes, traz a oportunidade de melhores retornos ao permitir a diversificação e o acesso a novos mercados em uma única aplicação, estratégia fundamental para garantir maior rentabilidade, especialmente com a Selic, taxa básica de juros, em seu menor patamar histórico.
Regulamentado há apenas cinco anos, o COE é uma adaptação brasileira das chamadas Notas Estruturadas, comuns nos Estados Unidos e na Europa. Trata-se de um pacote dentro do qual são encontrados produtos diversificados, que podem ter características de renda fixa ou variável, conforme explica Fabio Zenaro, diretor de Produtos de Balcão, Commodities e Novos Negócios da B3 (Bolsa de Valores brasileira).
O professor Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper, comenta que ao optar pelo COE o investidor está apostando na estratégia do gestor para aquela carteira de produtos. “Há cerca de cinco anos foi autorizada a venda ‘empacotada’. Antes, o produto já era vendido, mas de forma separada. Com esse pacote, na verdade, o investidor adquire uma estratégia, que pode ser um COE de renda fixa, variável ou cambial. Enfim, o COE tem de tudo e cabe ao investidor avaliar se a estratégia faz sentido dentro do seu portfólio”, diz o professor. “É mais uma alternativa para implementar uma estratégia de investimentos”, complementa Viriato.
Aos poucos, o produto está ganhando destaque dentro do cenário nacional. De acordo com dados da B3, até o dia 27 de março foram emitidos cerca de R$ 2,5 bilhões em COE, ou seja, quase metade do montante emitido em 2014, quando chegou a aproximadamente R$ 5,6 bilhões. Quanto ao retorno, especialistas explicam que depende do produto escolhido e da estratégia adotada pelo gestor. Lembrando que os retornos estão atrelados a ativos e índices, como câmbio, inflação, ações e ativos internacionais.
A volatilidade do mercado internacional, no entanto, afetou em cheio as aplicações nesses ativos, levando a desempenhos negativos no ano passado. Entre as vantagens do produto, o professor destaca que a maioria deles tem capital protegido. Significa dizer que, mesmo que a estratégia do gestor não tenha boa performance, o investidor não vai perder nada do valor principal que foi investido.
“Nesse caso, o pior cenário é que ele receba o valor que ele investiu”, destaca Zenaro ao lembrar que há modalidade em que o aplicador pode perder também valores investidos. “Mas isso representa cerca de 1% de tudo que é investido, o capital protegido é o mais usado”, complementa.
Como a estratégia do gestor leva em consideração produtos variados, o investidor consegue controlar quais riscos está disposto a assumir e, consequentemente, ter maior ou menor retorno nas suas aplicações. Os ativos que oferecem mais retornos têm também maiores riscos. Porém, com a possibilidade de optar pelo capital protegido, é possível arriscar mais em seus investimentos sem o risco de perda do valor principal.
Especialistas destacam ainda que, diante do cenário de juros baixos no Brasil, o aplicadores estão mais dispostos a correr um pouco mais de risco e, assim, garantir um retorno melhor nos seus investimentos. O COE pode ser um importante aliado neste sentido, já que permite a diversificação de seu portfólio, com acesso a novos mercados e operações complexas.
No entanto, como em qualquer tipo de investimento, antes de decidir onde aplicar os recursos é fundamental saber qual o seu perfil de investidor, se está disposto a arriscar e, portanto, apostar mais na renda variável, ou se é mais conservador e prefere concentrar mais recursos na renda fixa. No caso do COE, o Documento de Informações Essenciais (DIE) apresenta todas as características do produto e, com isso, é possível saber se é adequado para o seu perfil.
“Dentro da própria regulamentação do COE já tem previsão de adequação ao perfil de investidor ao produto, com regras e padronização para o produto ser o mais claro possível ao investidor”, explica o representante da B3.
Também é importante destacar que, caso o aplicador precise resgatar recursos antes do prazo do investimento, receberá o valor de mercado, que pode não atingir a remuneração esperada.
“De um modo geral, o risco do COE é o próprio risco do mercado. Se trabalho com o cenário que o dólar vai subir, por exemplo, se ele não subir, o investidor tende a perder. No entanto, se ele optou pelo capital protegido, no pior cenário, ele vai receber o valor principal que foi investido”, ressalta Zenaro.
Tributação do COE é regressiva
Criadas na Europa nos anos 1990 e chamadas por lá de Notas Estruturadas, as operações surgiram em um cenário de juros baixos, como o que estamos experimentando atualmente no Brasil.
A estimativa é de que este seja um mercado global de mais de US$ 2 trilhões. Por aqui, o estoque chegou a R$ 17,9 bilhões até o dia 27 de março.
A tributação do Certificado de Operações Estruturadas (COE) é regressiva, assim como nos fundos cambiais. Significa dizer que o Imposto de Renda (IR) é de 22,5% nos primeiros seis meses e cai para 15% depois de dois anos.
Diferentemente de outros produtos, o COE não tem o chamado come-cota, antecipação semestral do IR, que só é pago no fim do plano.
Em relação às taxas, Fabio Zenaro, diretor de Produtos de Balcão, Commodities e Novos Negócios da B3 (Bolsa de Valores brasileira), explica que elas já estão embutidas nos produtos e variam de acordo com cada estrutura e ativo. “COEs não possuem taxa de performance ou carregamento” Fabio Zenaro.