14 de maio de 2019
Na atual situação da economia do País, tendência é que mais pessoas busquem investimentos que ofereçam maior retorno
A economia mundial passa por momento de turbulência, com o acirramento da disputa comercial entre Estados Unidos e China. O governo Donald Trump decidiu aumentar as tarifas alfandegárias para quase todas as importações chinesas. Pequim prometeu retaliar Washington e fala em aumentar as tarifas contra mais de 5 mil produtos americanos. Por outro lado, no mercado interno, todos os olhares estão voltados para a tramitação da reforma da Previdência. Esses dois cenários contribuem para alta volatilidade nos investimentos. Especialistas alertam que a indefinição deve seguir nos próximos meses e a orientação é manter cautela quanto às alocações, com o mercado acionário ganhando destaque entre os investimentos.
“O mercado externo está muito mais parecido com o local, formado pela disputa comercial entre Estados Unidos e China. Isso por si só já levaria a uma volatilidade grande, mesmo com a economia americana crescendo acima do esperado no primeiro trimestre deste ano”, comenta Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante. No Brasil, as incertezas quanto à reforma da Previdência e o crescimento econômico abaixo do esperado criam um cenário ainda de maior volatilidade para os investidores. Ele lembra que a Bolsa está em um novo patamar e chegou a romper a barreira dos 100 mil pontos. A volatilidade tem sido grande nos últimos meses e deve seguir assim até que as incertezas políticas melhorem. “Ações por aqui estão atrativas, nossas empresas estão enxutas e com alavancagem grande, mesmo crescendo pouco a tendência é que o lucro seja alto”, complementa.
De fato, as incertezas estão atingindo as perspectivas econômicas para o País. Semana passada, o Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 para 1,5%. Esse é o terceiro corte consecutivo para o indicador, que em dezembro chegou a estimar a expansão em 2,8%. A revisão para baixo foi motivada pelas dúvidas em relação às condições políticas para a aprovação da reforma da Previdência, com a possibilidade de que a votação se dê no segundo semestre.
Para o grupo, é preciso haver recuperação na confiança dos consumidores e das empresas para que haja retomada do crescimento econômico. A perspectiva é que não exista crescimento no primeiro trimestre, com possibilidade de retração da atividade econômica no período. Para o segundo, terceiro e quarto trimestres, as projeções são de 0,5%, 0,76% e 0,7%, respectivamente. A entidade manteve a projeção da taxa Selic em 6,5% ao longo deste ano e a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi revisada para cima em relação à reunião passada, saindo de 3,8% para 4%, mas continua abaixo da meta de 4,25%. O grupo de economistas considera que o dólar deve ficar em R$ 3,70 no fim de 2019, mesma projeção da última reunião, que representa uma valorização de 4,5% da moeda brasileira para o ano.
De acordo com Fernando Honorato, presidente do Comitê Macroeconômico da Anbima, vários fatores contribuem para esse cenário. Além da reforma, ele comenta que houve desaceleração importante da indústria global, desaceleração na economia argentina, choques do ano passado que ainda pesaram no primeiro trimestre, como greve dos caminheiros e eleição, e as incertezas quanto à agenda de reformas. “A volatilidade deve continuar e, por isso, é fundamental ter uma carteira diversificada para se proteger dos riscos do cenário local e global”, diz o representante da Anbima. Ele lembra que o brasileiro investe pouco em ações, mas com a economia amadurecendo e com a Selic, taxa básica de juros, em seu menor patamar histórico, a tendência é que mais pessoas busquem investimentos que possibilitem um retorno melhor.
“Com a Selic baixa, veremos uma mudança importante, mas fundamental é sempre preservar o perfil de cada cliente”, destaca Honorato.
O professor de Finanças do Ibmec-SP, Wellington Lopes de Souza, considera que o caminho para a aprovação da reforma da Previdência ainda é nebuloso. “O governo está se movimentando para isso e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, comprou a ideia e ele tem uma articulação grande. Acredito que vai sair um pouco mais desidratada, mas vai sair. Creio que sejam economizados cerca de R$ 800 bilhões nos próximos 10 anos e o montante está abaixo do esperado, mas isso já dará um alento para o mercado”, explica o professor, que diz acreditar na retomada da economia no segundo semestre.
Mercado de ação é alternativa para diversificar carteira
Mesmo com todas as indefinições políticas e a economia ainda sem deslanchar, opções é que não faltam para os investidores aplicarem seus recursos, conforme destaca o professor de Finanças do Ibmec-SP Wellington Lopes de Souza. “A economia brasileira tem fundamentos fortes e o que temos é uma questão fiscal criando esse ambiente de instabilidade. A recomendação era de políticas mais conservadoras para os investimentos. Porém, como não há perspectiva de alta da Selic, a recomendação é de transição para ativos de maior risco, já que o cenário é favorável para isso. Opções não faltam e o investidor deve estar atento ao seu perfil”, diz.
Para ele, os investimentos em ações passam por momento de grande volatilidade no mercado, mas é uma alternativa para quem quer diversificar sua carteira. “ETF e COE, por exemplo, são alternativas para capturar a alta da Bolsa; multimercados e debêntures podem ajudar a compor esse portfólio. O importante é ficar de olho nas taxas e se aconselhar com operadores que conhecem e estão atentos aos diversos cenários que tem o mercado”, avalia o professor.
“O mercado de ações está em um ciclo bom e quem entrou nele ou entrar por agora poderá surfar neste ciclo por um bom tempo”, considera Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante, lembrando que, por ser um investimento um pouco mais arriscado, requer cautela para evitar comprar na altar e sair na baixa, por exemplo.