A  volatilidade marcou os pregões da B3 (Brasil Bolsa Balcão) no início deste ano e deve continuar assim pelos próximos meses. A avaliação é de especialistas do mercado financeiro, que consideram que o encaminhamento da reforma da Previdência tem papel fundamental para acalmar os ânimos do mercado e garantir que a Bolsa atinja novos patamares históricos.

O otimismo com o início do novo governo e com a expectativa de aprovação da reforma da Previdência fez o Ibovespa (principal índice da Bolsa brasileira) atingir o maior patamar histórico em 19 de março, ao chegar à marca de 100 mil pontos. Oscilou bastante a partir dessa data e chegou à mínima de 92 mil pontos em 28 de março. Aos poucos, se recuperou do tombo e fechou o terceiro mês do ano em 95 mil pontos. Em abril, o sobe e desce dos papéis continuou e o índice segue flertando na casa dos 97 mil pontos.

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“A volatilidade ao longo de março deve ser a nova realidade, apesar de acreditarmos nas reformas. Os próximos três a seis meses serão de duras negociações durante o processo, principalmente na Câmara”, considera o analista-chefe da XP Investimentos, Karel Luketic.

“Estamos em um cenário em que a reforma da Previdência é fundamental e qualquer turbulência ou ruído que ocorra acaba refletindo diretamente na Bolsa”, explica Andrew Frank Storfer, diretor de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

O economista e professor da Faculdade Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) Silvio Paixão lembra que a volatilidade sempre existiu e faz parte da regra do jogo. “No entanto, está mais intensa agora devido ao cenário político”, explica o professor.

EXPECTATIVAS

Apesar dos altos e baixos na Bolsa, especialistas consideram que o cenário é positivo. Para eles, a reforma da Previdência deve sair este ano, mas ainda há muitas dúvidas quanto ao que será alterado na proposta que foi apresentada pelo governo e quando deve ocorrer de fato a aprovação do texto. “Se a reforma for ruim ou não acontecer o que se imagina, a tendência é que a inflação comece a galopar e com isso os juros também tendem a subir. Juntos, trariam um ciclo ruim para a Bolsa”, alerta Storfer.

Em março, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação atingiu 0,75%, maior índice para o mês desde 2015. Além disso, analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central reduziram a expectativa de crescimento da economia do País. Na segunda semana de abril, a previsão era de alta de 1,97% no Produto Interno Bruto (PIB). Vale destacar que neste ano os analistas já chegaram a prever o PIB em 2,57%. A Selic (taxa básica de juros), por sua vez, segue no menor patamar histórico, em 6,5%.

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“Os resultados do último quadrimestre do ano passado frustraram o mercado e havia ainda a expectativa de que a reforma fosse ter um encaminhamento mais rápido e isso não ocorreu, o que também frustrou o mercado”, destaca Storfer.

As turbulências no governo, especialmente as envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, causaram impacto expressivo nos índices no mês passado. Mas, aos poucos, o atrito entre ambos está ficando para trás e a reforma voltou a ser discutida na Câmara, com o governo aumentando a articulação para garantir a aprovação do texto.

Outro dado positivo, destacam os especialistas, é que o cenário externo está bem mais atraente neste ano do que no ano passado. O governo americano sinalizou que não haverá mudança na taxa de juros do país neste ano, a disputa comercial entre China e Estados Unidos começa a encontrar um meio-termo, com os governos dos dois países buscando uma negociação, e a estabilização do crescimento chinês deu fôlego para a economia mundial.

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“Tivemos um respiro (com as questões externas) e essas questões trazem uma sustentação aos países emergentes”, considera Karel Luketic. Para ele, 2019 pode ser transformador, com um cenário positivo também para os próximos anos. “Com a reforma passando no primeiro semestre na Câmara e entre setembro e outubro no Senado, podemos chegar a 125 mil pontos”, finaliza o analista-chefe da XP.

Recomendação  é não se desfazer dos papéis na baixa da Bolsa

O cenário de volatilidade da B3 (Brasil Bolsa Balcão) pode trazer oportunidades para os investidores. A recomendação de especialistas é que os aplicadores evitem entrar na onda de desespero e não se desfaçam de papéis no período de baixa. “A carteira deve seguir uma lógica macroeconômica de longo prazo. Setores como os de alimentos, exportações, saúde e energia estão entre os que podem ser considerados boas opções, mas a definição deve  ser feita amparada em dados e, caso  o aplicador não tenha experiência com o tema, é mais recomendável entregar a gestão para alguém do mercado,  que saberá o momento de comprar  ou vender os papéis”, ensina o economista e professor da Faculdade Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão.

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No momento de baixa, especialistas avaliam que pode ser uma boa hora de adquirir ações de empresas que tenham potencial de crescimento. “A queda pode ser um momento de achar oportunidades, mas tem que ter fôlego para isso, comprar sabendo que os papéis podem ter oscilações. Se de fato acredita na empresa, lá na frente pode ter um ganho expressivo”, comenta Daniela Casabona, sócia-diretora da consultoria FB Wealth. “Há cinco anos, o Ibovespa estava em menos de 50 mil pontos, hoje estamos perto de 100 mil”, complementa.

Para Felipe Bevilacqua, gestor da consultoria Levante, é necessário que o investidor tenha cautela para enfrentar este momento. “Os ânimos estão melhores agora e a tendência é que a reforma da Previdência vá passar de forma mais suave no segundo semestre. Com a sua aprovação e com o cenário externo com sinais bem positivos, teremos um segundo semestre muito bom”, avalia.

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