19 de junho de 2018
Por Alex Agostini*
A economia brasileira ainda deve demorar alguns bons anos para viver um novo céu de brigadeiro, em razão das mazelas econômicas e sociais produzidas pelo ambiente fiscal descompensado e pelo ambiente político um tanto quanto conturbado. O País amargou quatro anos de ressaca econômica (2014 a 2017) com um PIB médio no período de -1,4%, e deve amargar mais um ano em 2018. Nesse período, superamos um impeachment presidencial, perdemos o selo de país bom pagador (investment grade) e lamentamos pelos milhões de desempregados.
Em 2017, o PIB brasileiro saiu do estado recessivo e se expandiu medíocre 1%, um desempenho ainda insuficiente para recuperar a perda dos fatores de produção nos anos inglórios de 2015 e 2016. Isso gerou elevado déficit fiscal (primário e nominal), aumento desenfreado do desemprego (chegamos a mais de 14 milhões de pessoas sem trabalho em 2016), estagnação da renda real, paralisia nos investimentos e perda ainda maior de competitividade no setor fabril.
Para 2018, a situação econômica e política doméstica — assim como o cenário internacional em transição (fim do excesso de liquidez) — é muito desafiadora aos agentes econômicos locais, em especial ao setor público, pela necessidade de, em um ano eleitoral, recuperar o prestígio quanto ao equilíbrio fiscal.
É importante reiterar que a concretização de um cenário econômico brasileiro melhor em 2019 ainda depende, em grande parte, das alterações em curso da economia global, bem como dos desdobramentos do ambiente político nacional, com foco nas eleições de 2018, e de seus efeitos diretos e indiretos na dinâmica da atividade econômica doméstica, com destaque à sustentabilidade fiscal do País, que contribui sobremaneira para a redução consistente e estrutural da taxa de inflação e da taxa de juros básica (Selic) ao longo do tempo, além de poder resgatar a competitividade produtiva.
Por fim, vale reforçar que o Brasil não tem apenas desafios para esta década (2011-2020), mas sim para os próximos 30 anos. É emergencial (e quase vital) retomar o reequilíbrio das contas fiscais, dada a necessidade de realizar investimentos em áreas estratégicas, como infraestrutura básica e logística, para amparar o crescimento sustentado de longo prazo, com melhoria efetiva da competitividade e da produtividade, bem como realizar as importantes reformas estruturais: tributária, previdenciária e política, não apenas para resgatar a credibilidade das instituições nacionais, mas principalmente a dignidade do Brasil perante o mundo.
* Alex Agostini é economista-chefe da Austin Rating, coordenador de projetos e estudos especiais, responsável pela área de rating de entes públicos e professor universitário.