Em 2008, o mundo foi sacudido por uma crise financeira histórica, cujo epicentro foram os bancos norte-americanos. Um efeito dominó começou com o Lehman Brothers, nos Estados Unidos, e provocou um efeito colateral inusitado até hoje, mesmo no Brasil: o fortalecimento dos bancos e das cooperativas de crédito. Em 2016, o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), cujo braço operacional é o Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), foi eleito pelo anuário Finanças Mais como líder na categoria financiamento, seguido pelo Sicredi e pelo Banco Inter.

“Costumo dizer que o cooperativismo cresce com a crise. Assistimos a isso desde 2008. Quando os juros estão altos e a economia está enfraquecida, como em 2016, isso se acentua”, afirma Henrique Castilhano Vilares, presidente do conselho de administração do Bancoob e Sicoob, uma engrenagem que congrega 485 cooperativas de crédito em todo o País e 3,7 milhões de cooperados. Vilares lembra que, mesmo em situações adversas, como a recessão econômica brasileira observada no ano passado, o negócio do Sicoob cresce: “Temos aumentado o número de empregados do nosso quadro em 6%, em média. E a tendência é manter esse ritmo”.

Sem os altos custos operacionais dos grandes bancos de varejo e com um sistema de capitalização em que os próprios associados se unem para financiar seu negócio, tomar empréstimo em uma cooperativa significa menos custo. Em média, dependo do financiamento, custará em torno de 70% do valor que cobram os grandes bancos de varejo em uma operação de Crédito Direto ao Consumidor (CDC). E com uma vantagem: como o sistema é de capitalização, ao final de um determinado período, explica Vilares, o lucro obtido entre os cotistas é redistribuído: “Nosso cooperado é dono do negócio”.

No primeiro trimestre de 2017, o Sicoob registrou resultado de R$ 671 milhões, um aumento de 15,4% em relação ao mesmo período em 2016, quando o saldo foi de R$ 581 milhões.

“Em momentos em que os juros estão altos e a economia está enfraquecida, como ocorreu no Brasil em 2016, o cooperativismo cresce” – Henrique Vilares, presidente do conselho de administração do Bancoob e Sicoob

João Tavares, diretor financeiro do banco cooperativo Sicredi, concorda com Vilares em relação ao sistema que beneficia o cooperado. “O grande diferencial na cooperativa é que o associado participa do resultado”, diz Tavares. O executivo acredita que o Sicredi deve crescer em torno de 12% em 2017, apesar da atual crise política e do desalento no mercado: “Mas mantemos a confiança no País”.

 

O Banco Inter, o terceiro do ranking de Finanças Mais, tem uma história recente incomum e rara entre seus pares. Nascido com o DNA da MRV Engenharia para financiar crédito imobiliário há 23 anos, em 2016 aventurou-se no varejo digital sem estrutura física, somente com plataformas digitais. O resultado, explica Alexandre Riccio de Oliveira, diretor executivo da instituição, foi surpreendente: o número de correntistas saltou de 8 mil, no início de 2016, para 90 mil, no primeiro trimestre de 2017.

“Nosso modelo é diferenciado. Não temos agência como os grandes bancos, não temos escala. Em compensação, nosso custo operacional é muito menor em comparação com os demais, o que nos dá grande competitividade”, afirma Oliveira. O executivo diz que a estrutura é de somente 40 escritórios nas principais cidades brasileiras, onde se faz consultoria com os clientes: “O restante é por internet e celular”.

Perguntado se as fintechs – empresas de tecnologia que se propõem a oferecer serviços financeiros a custos bem mais baixos que os dos bancos – são uma tendência, Oliveira reflete na possibilidade: “Se eu fosse um grande banco, tentaria fazer algum tipo de aliança com as fintechs, algum trabalho de defesa que me desse conforto e um modelo que ofereça ao consumidor a experiência de tarifa zero”.

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