Resiliente. Essa parece ser a palavra que melhor define o comportamento do setor de seguros no Brasil, cujo crescimento nos últimos dez anos sempre se deu em índices superiores ao do Produto Interno Bruto (PIB), mesmo diante das intempéries econômicas. Mais recentemente, por exemplo, com a recessão e o aumento do desemprego, um número crescente de pessoas passou a buscar a proteção de seu patrimônio, o que evidencia, segundo Robert Bittar, diretor da Escola Nacional de Seguros, que ainda há muito espaço para que o segmento avance no País de forma sustentável.

Para ter uma ideia da importância desse setor na economia, o conjunto global (que inclui os chamados ramos elementares, os planos de risco e de acumulação, capitalização e saúde suplementar) saltou de 2% para 6% de participação no PIB na última década, segundo dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg).

Excetuadas a capitalização e saúde suplementar, a participação passou de 2,7% para 3,5%. Ainda assim, um número que pode ser considerado importante num momento de desaceleração econômica. Em termos de arrecadação, excluídos os mesmos itens, o volume em 2016 chegou a R$ 218,2 bilhões. Mais da metade desse total (R$114,7 bilhões, ou 52%) refere-se aos planos de acumulação (VGBL, PGBL), segmento que tem puxado o crescimento do setor como um todo.

NOVAS MODALIDADES EM DISCUSSÃO

Esse desempenho positivo, mesmo em meio à crise, deve-se, entre outros fatores, à educação financeira, conquistada pela população com o aprendizado trazido por endividamento, pela recessão e perda de renda. Outro motivo é a discussão em torno da reforma da previdência pública, que tem levado o consumidor a pensar em opções de poupança de longo prazo, caso dos planos privados de previdência complementar.

CRESCIMENTO ANUAL DO SETOR

2013 – 13%
2014 – 9,6%
2015 – 10,3%
2016 – 9,3%

47,9 milhões de consumidores de planos de assistência médica
22 milhões de planos exclusivamente odontológicos
47,2 milhões de beneficiários de planos de vida coletivos
15,6 milhões de planos de previdência

Para as classes que não têm renda suficiente para manter uma poupança, a preservação do patrimônio deveria ser ainda mais relevante e prioritária. No entanto, o alto valor dos planos de seguro e previdência ainda é um elemento restritivo ao acesso de boa parte desse público aos produtos de proteção.

Nessa direção, Márcio Coriolano, presidente da CNSeg, ressalta que, para que o mercado desenvolva e disponibilize produtos adequados às necessidades de todos e encontrem espaço também nos bolsos mais modestos, o governo precisa ter agilidade para adaptar a regulação ao momento em que o País vive. O executivo cita como exemplo a ação, por parte da Superintendência de Seguros Privados (Susep), para regulamentar o seguro de automóvel popular, cujo custo da apólice é, em média, 30% inferior ao do seguro tradicional.

Também nessa linha de popularizar seguros está em análise na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) uma proposta polêmica para os planos de saúde, que incluiria menos coberturas, sem direito a internação ou exames de alta complexidade.

É importante diferenciar o seguro popular de outro segmento que vem sendo analisado há muitos anos, mas, de acordo com especialistas do setor, por falta de uma regulamentação adequada, ainda não decolou no Brasil: o do microsseguro. A modalidade trabalha com produtos especificamente direcionados às camadas de mais baixa renda, justamente aquelas que estão em situação de maior vulnerabilidade e mais sofrem em momentos de crise econômica. Essa seria a porta de entrada do consumidor ao mercado segurador, com coberturas predeterminadas e custo muito baixo. Estima-se que pelo menos 100 milhões de brasileiros poderiam ser beneficiados por esse tipo de apólice. “Ele cumpriria papel fundamental na inclusão e estabilidade social”, projeta Robert Bittar.