A recessão ficou para trás
Ainda é cedo para dizer que o pior já passou, mas há um sentimento no segmento de bancos de varejo de que a tormenta se foi. O avanço de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2017 e o andamento, ainda que vagaroso, das reformas trabalhistas e da Previdência no Congresso Nacional compõem, na visão dos executivos das instituições financeiras, um sinal de melhora da economia em relação a 2016. Nesta edição, o Bradesco liderou o ranking dos bancos de varejo do anuário Finanças Mais, seguido por Itaú Unibanco e Banpará.
“Foi um ano de expectativas, com desafios simultâneos na economia e na política. Exigiu de nós resiliência e foco”, afirma Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco. Segundo ele, o banco encerrou 2016 com números sólidos. “Olhando para trás, penso que foi acertada a opção pelo conservadorismo, pela obsessão no controle dos custos e por uma reestruturação eficiente dos passivos corporativos.”O presidente do Bradesco lembra que, em 2016, o País viveu um prolongado período de recessão, desemprego e alto endividamento das famílias e das empresas com impacto na inadimplência. “Nesse cenário, a prioridade foi preservar a solidez financeira, com reforço das provisões. Os custos foram minuciosamente acompanhados”, diz.
Já para Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do Itaú Unibanco, 2016 foi desafiador para a economia e, mesmo assim, o banco apresentou retorno de 20,3% sobre o patrimônio líquido. “Isso se deve ao foco estratégico em produtos com menor inadimplência e nas receitas de serviços e seguros, além da disciplina em custos”, explica. “Em 2017, continuamos com essa estratégia, que se mostrou acertada, e confiantes em nossa capacidade de entregar resultados consistentes.”
Kopel conta que o Itaú tem investido no aperfeiçoamento do relacionamento com os clientes, por meio do uso de tecnologia e big data, para melhorar sua experiência no uso dos serviços e produtos do banco: “A combinação dessas ações gera crescimento de receitas e, ao mesmo tempo, contribui para ganhos de eficiência operacional”.
O Bradesco iniciou um processo de sinergia com o HSBC Brasil, cuja aquisição foi concluída em julho de 2016, por R$ 16 bilhões. De acordo com o Bradesco, houve crescimento no volume de negócios com a ampliação da presença nas Regiões Sul e Sudeste e a absorção de novos clientes da alta renda. “É um trabalho que está em andamento e ainda vai trazer ganhos de eficiência”, espera Trabuco.
Já o Itaú Unibanco absorveu as operações de Recovery, BMG Consignado e Citi (ainda em aprovação pelos reguladores). Tanto no Itaú quanto no Bradesco não houve, porém, mudanças no planejamento estratégico traçado em 2015. “O cenário econômico vem se mantendo constante. O que mudou de um ano para o outro foi a queda da inflação e do juro”, afirma o presidente do Bradesco. Kopel, do Itaú, explica que o segredo foi focar em produtos com menor risco, como crédito imobiliário e crédito consignado, além de maior seletividade na concessão de crédito para pessoas e empresas: “Permanecemos focados também no controle de custos, para gerar cada vez mais eficiência à operação”.
Traçar um cenário para 2017 tem sido difícil para os dois maiores bancos de varejo. O ambiente político, que contaminou o econômico, é o que mais preocupa. “Temos a oportunidade real de voltarmos a apresentar crescimento. Não devemos nos entusiasmar, mas o momento é de preparação para o relançamento da economia”, diz Trabuco, do Bradesco. “Há questões políticas a resolver. São acontecimentos passageiros. Nunca devemos subestimar nossa capacidade de superação.”
Kopel, do Itaú Unibanco, assim como Trabuco, aposta nas reformas do Congresso para melhorar o cenário e o humor da economia: “Vemos as reformas com bons olhos. Elas são importantes para que o País possa ter crescimento mais acelerado e sustentável no médio e longo prazo. Com o atual quadro político, é prematuro avaliar com clareza os impactos e desdobramentos das iniciativas.”
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