Especialistas recomendam combinar liquidez, segurança e diversificação de prazos em diferentes tipos de ativos
Por Murilo Melo – editada por Mariana Collini
Em outubro, os investimentos em renda fixa, como Letra de Crédito Imobiliário (LCI), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificado de Depósito Bancário (CDB), Tesouro Selic e fundos DI, devem apresentar melhores resultados em comparação a outras classes de ativos devido ao aumento da taxa Selic, de 10,50% para 10,75%, decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em setembro. A análise foi feita por especialistas em investimentos a pedido do E-Investidor.
A escolha entre esses ativos depende de fatores como perfil, objetivos do investidor, prazo de aplicação e rentabilidade líquida esperada. A principal diferença entre LCIs, LCAs e o CDB está na isenção de imposto de renda: as LCIs e LCAs são isentas para pessoas físicas, o que pode ser um atrativo fiscal, enquanto o CDB segue a tabela regressiva, com alíquotas de 22,5% a 15%, conforme o prazo.
“Quanto maior o prazo, melhores as condições da taxa oferecida. Recentemente, as regras de prazo para LCI e LCA foram alteradas, e, por isso, as LCIs e LCAs com liquidez estão escassas no mercado. Ter uma visibilidade clara sobre o horizonte de investimento é imprescindível na hora de investir”, diz a líder da assessoria de investimentos da Melver, Daiane Gubert.
Para prazos curtos, de até seis meses, os investimentos mais líquidos, como o CDB de liquidez diária e os CDBs com vencimento de até seis meses, se destacam, segundo a planejadora financeira Larissa Frias, do C6 Bank. CDBs pré-fixados também ganharam relevância após os ajustes na Selic, e os investimentos pós-fixados, que acompanham o CDI e a Selic, têm tido bom desempenho. Nesse cenário, o CDB de liquidez diária e o que paga 105% do CDI são opções atrativas.
Frias explica que os CDBs pré-fixados, com taxa anual de 9,35%, garantem a rentabilidade no momento da aplicação. No curto prazo, porém, eles tendem a render menos do que os pós-fixados, que, com expectativa de queda das taxas de juros no futuro, oferecem melhor rentabilidade em prazos curtos.
Para prazos de um ano ou mais, a planejadora financeira destaca que LCIs e LCAs ganham vantagem por serem isentas de imposto de renda, apresentando rentabilidade anual superior, chegando a quase 1% a mais do que os CDBs, o que faz diferença no longo prazo.
Em horizontes de dois anos ou mais, LCIs e LCAs continuam atrativas, mas outros ativos, como a Letra Financeira, podem se tornar mais interessantes, mesmo com a incidência de imposto. Isso porque, embora a isenção fiscal seja um atrativo inicial, o critério de escolha deve ser o retorno final, após custos e tributos. “A Letra Financeira tem alíquota de 15%, mas é um investimento mais longo, a partir de dois anos, com apelo de rentabilidade interessante”, afirma Frias.
O educador financeiro Eduardo Reis Filho, da Ágora Investimentos, recomenda priorizar títulos híbridos, que oferecem proteção contra a inflação ao acompanhar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), garantindo juro real em torno de 6%. São os chamados IPCA+.
“A renda fixa seguirá no radar dos investidores, já que os aumentos na Selic reforçam essa percepção. A expectativa é de que o Banco Central continue elevando a Selic até 12% no início de 2025, com possível recuo no segundo semestre do próximo ano, quando o mercado espera sinais de desaceleração”, diz Filho.
Para ele, títulos prefixados são atrativos, mas oferecem maior risco no prêmio ofertado. “Os títulos de vencimento curto são mais interessantes. Para diversificar, recomenda-se uma carteira conservadora com 80% em renda fixa pós-fixada (CDI), 5% em prefixados e 5% em títulos atrelados à inflação. Os outros 10% podem ser alocados em papéis multimercado”, sugere Filho.
Tesouro Selic e Fundos DI são títulos mais seguros em outubro
Além de prazo e imposto de renda, o apetite ao risco deve ser considerado ao comparar as taxas entre ativos de renda fixa. O sócio da One Investimentos, Vitor Oliveira, destaca o Tesouro Selic como a melhor opção para quem busca segurança e liquidez. Com a alta de 0,25% na taxa básica de juros, o Tesouro Selic é o título público mais seguro, diz ele, por carregar o risco soberano, diferente dos riscos de empresas ou bancos.
Oliveira aponta que existem fundos de liquidez diária que rendem mais que o Tesouro Selic — alguns até acima de 105% do CDI —, mas observa que esses fundos investem em títulos bancários ou de crédito privado, o que implica maior risco. “Esses fundos podem ser interessantes para quem aceita um risco maior em troca de retorno mais alto. Porém, para investidores conservadores, o Tesouro Selic ainda é a melhor escolha pela segurança inigualável”, completa Oliveira.
Além de concordar com Oliveira sobre o Tesouro Selic, a líder da assessoria de investimentos da Melver, Daiane Gubert, também recomenda os Fundos DI como boa opção. Mas ela alerta que há diferenças importantes entre eles que podem influenciar a escolha. O Tesouro Selic é o mais adequado para quem busca segurança máxima, controle sobre o investimento e não se importa em pagar a taxa de custódia da B3.
“É uma excelente opção para reserva de emergência e para investidores que preferem investir diretamente, sem depender de terceiros”, pontua. Já os Fundos DI, segundo Gubert, podem ser interessantes se a taxa de administração for baixa (abaixo de 0,3% ao ano) e se o investidor preferir a conveniência de uma gestão profissional, sem a preocupação de operar diretamente no Tesouro Direto.
Conheça os ativos de renda fixa, disponibilidade e proteção
LCI e LCA
Há ofertas de mercado com rendimentos próximos a 100% do CDI;
Não há incidência de Imposto de Renda;
Garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até R$ 250 mil por CPF;
Prazos mais longos.
CDB
Há ofertas no mercado com rendimento de 150% do CDI;
Há incidência de Imposto de Renda;
Garantia pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até R$ 250 mil por CPF;
Atente-se às condições especiais e prazo de 60 dias.
Fundos DI
Os fundos DI ou Fundo renda fixa são referenciados na taxa DI, que mantém uma carteira de, no mínimo, 95% em títulos públicos atrelados à taxa Selic;
Há incidência de Imposto de Renda;
São cobradas taxas, o que derruba a rentabilidade do fundo, assim dificilmente atingem a 100% do CDI.
Tesouro Selic
Sua rentabilidade acompanha a evolução da Selic;
Incidência de Imposto de Renda;
Custos baixos.
Caderneta de poupança
A rentabilidade da poupança é de 6,17% ao ano mais a Taxa Referencial (TR);
Em 2023, sua rentabilidade foi de 8,04%;
Em 2024, até início de setembro tinha rentabilidade acumulada de 5,71%;
Não há incidência de Imposto de Renda e não há custos.
Disponibilidade
LCIs e LCAs geralmente têm uma oferta mais limitada nos bancos, pois dependem de lastro nos setores de crédito imobiliário (LCI) e agronegócio (LCA). Isso significa que a disponibilidade pode ser restrita, com valores mínimos de investimento mais altos e prazos específicos. Além disso, nem sempre essas letras estão disponíveis com diferentes indexadores, como pré-fixados ou atrelados ao IPCA. Por outro lado, os CDBs são mais acessíveis e diversificados, sendo encontrados com diversos prazos, indexadores (CDI, IPCA, pré-fixados) e, muitas vezes, com a vantagem de liquidez diária. Essa flexibilidade torna os CDBs uma opção interessante para uma gama maior de perfis e objetivos de investimento.
Proteção
Tanto os CDBs quanto as LCIs e LCAs contam com a proteção do FGC, que assegura até R$ 250 mil por instituição financeira e por CPF, oferecendo uma camada extra de segurança ao investidor.
O que os especialistas recomendam:
É recomendável combinar liquidez, segurança e diversificação de prazos em diferentes tipos de ativos de renda fixa. Manter uma parte do portfólio em títulos públicos (Tesouro Selic e IPCA+), equilibrar o risco de crédito com CDBs, LCI e LCA, e diversificar entre instituições financeiras são formas eficazes de maximizar a rentabilidade, mantendo o foco em proteção e estabilidade.
Fontes: Fábio Gallo, professor de Finanças da Faculdade Getulio Vargas (FGV/SP).
Daiane Gubert, líder da assessoria de investimentos da Melver.
Outubro começa, veja os melhores investimentos de renda fixa para ter na carteira
Foto: GettyImages
Notícias
-
18 de novembro de 2024 Clínicas médicas e a equiparação hospitalar: o que muda com a nova reforma tributária?
Por Estadão Blue Studio Express A tese de equiparação hospitalar para clínicas médicas é uma estratégia contábil e fiscal amplamente utilizada para reduzir a carga tributária de sociedades médicas. Esta prática permite ajustar a base de cálculo dos impostos IRPJ e CSLL, podendo gerar uma economia de até 70% na tributação para clínicas que atendem […]
-
18 de novembro de 2024 O que acontece com o 13º salário se o fim da jornada 6×1 for aprovada?
Por Beatriz Rocha – editada por Mariana Collini A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o fim da jornada 6×1 tem gerado debates nas redes sociais. O texto, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), encontra-se na fase de coleta de assinaturas para prosseguir na Câmara dos Deputados. Basicamente, a escala de […]
-
11 de novembro de 2024 O que a Selic a 11,25% significa para seus investimentos?
Por Jenne Andrade – editada por Mariana Collini O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (6) subir a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto porcentual, para 11,25% ao ano. Esta é a segunda elevação feita no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – e não […]