Por Cláudio Considera – editada por Mariana Collini

Não se trata de pessimismo, e sim de realismo frente ao avanço dos algoritmos e, no futuro, de instrumentos tecnológicos com que nem sonhamos agora. A única coisa que poderemos e deveremos fazer é desconfiar, sempre, de ofertas imperdíveis, de promoções fenomenais, e continuar comparando preços, consultando familiares, amigos e conhecidos, antes de comprar.

Sempre enfatizo a importância de um bom orçamento familiar. Pois com o avanço tecnológico, esse orçamento terá ainda mais relevância, porque a consciência de que não há dinheiro para determinada compra poderá nos salvar do consumismo por impulso. Se parece exagero, lembre-se dos avisos da farmácia de que determinado medicamento de uso contínuo está acabando. Não é que eles tinham razão, você diz a si mesmo. Dos aplicativos para tudo o que se possa imaginar, como os que oferecem descontos nos postos de combustíveis, que estão se tornando lojas e financeiras.

Grandes varejistas digitais já nos oferecem crédito automotivo, a partir da avaliação de nosso histórico de compras. Isso, aliás, é algo que muitos comércios e serviços têm em comum: nos convidar a contrair empréstimos. Eles sabem, é claro, que o lucro do uso do dinheiro é maior do que o da venda de qualquer produto.

Vale tudo para fidelizar o cliente na marra. Por exemplo, criar um programa vinculado ao serviço de streaming de graça. Quem não aproveitaria tal oportunidade? Não podemos nos iludir: somente nós mesmo poderemos frear esse consumo desenfreado, assumindo que excessos nas compras provocam inadimplência.

É que dever é uma das piores coisas do mundo, ainda mais em um país no qual os juros são pornográficos, como afirmaram personalidades como o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes; o ex-presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro; o ex-presidente do Senado, senador Renan Calheiros, em momentos diversos. Ou juros subversivos, como no livro do saudoso Joelmir Beting.

Só orçamento e autocontrole nos livram das dívidas por indução tecnológica