Por Lara De Novelli

O setor de seguros representa 3% do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina. Considerando o Brasil, esse porcentual mais que dobra, subindo para 6,5%, mas ainda é um montante muito pequeno se comparado ao dos Estados Unidos, que fica em 11,8% das riquezas do país, ou da Grã-Bretanha, onde chega a 12,5%. O que os dados mostram é que há um potencial enorme de crescimento para o setor por aqui.  E é a tecnologia que pode nos conduzir nessa escalada. 

De acordo com pesquisas da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), realizada com 47 empresas, que representam 86% do setor segurador do País, 56,5% das companhias entrevistadas apontam que mais de 75% de seus processos já podem ser feitos digitalmente.

“A indústria já vinha se movimentando para implementar ciência de dados e digitalização nos negócios. Mas, com a pandemia, assim como tantos outros setores, o mercado de seguros acelerou seu processo de digitalização, sentiu as vantagens e irá usar esses investimentos ainda mais a seu favor”, considera Ana Paula de Almeida Santos, diretora de Sustentabilidade e Relações de Consumo da CNseg. 

Transformação digital

Para Ivan Gontijo, presidente do Grupo Bradesco Seguros, os processos acelerados de inovação e transformação digital buscam atender com eficiência um novo consumidor, mais conectado, informado, seletivo e exigente. E o grande desafio dessa evolução é colocar esse cliente cada vez mais no centro do negócio. “A colaboração entre empresas, por meio da inovação aberta, o uso da inteligência artificial, que acelera operações de seguros, e a multicanalidade, que permite ao cliente conversar com a seguradora como quiser, são exemplos de como a tecnologia contribui para o crescimento do mercado segurador”, diz Gontijo ao afirmar que o grupo investiu mais de R$ 1 bilhão em tecnologia e inovação em 2022 e deve manter esse patamar de investimento este ano.

Eduardo Viegas, COO da Kovr Seguros, também considera que a tecnologia é mais um instrumento nesse processo de evolução do setor. “Mais importante ainda é a construção do comportamento inovador que vai além da tecnologia, mas se utiliza dela para atingir seus objetivos”, afirma. Viegas diz ainda que o mercado vem crescendo e se moldando às novas características de consumo. “Clientes se tornaram mais exigentes e conscientes de suas necessidades e as seguradoras vêm evoluindo na busca de novas soluções, que muitas vezes são fruto da inovação ou releituras de produtos e serviços adaptados para o perfil de consumo atual.”

“Com o uso de inteligência artificial e big data, a análise dos dados é muito otimizada, incluindo aprendizado de máquina e análises preditivas, fazendo com que as seguradoras possam desenvolver produtos cada vez mais personalizados e muitas vezes se adiantando aos desejos dos segurados.”
Ronny Martins, gerente de Estratégia, Inteligência Comercial e Processos da Escola de Negócios e Seguros (ENS)

 

Outras mudanças

O fato é que as seguradoras têm alguns produtos bem conhecidos, como o seguro de automóvel ou residencial, mas que estão passando por transformações. “Algumas são mais transparentes para os segurados, como mudanças no canal de distribuição ou experiência com o aviso de sinistro, mas outras mudanças estão nos bastidores, como a infraestrutura de tecnologia, o uso de dados externos e novas formas de inteligência preditiva, por exemplo”, diz Domingos Salazar, cientista-chefe da Neurotech, empresa B3 especializada na criação de soluções avançadas de inteligência artificial e big data. “Combinadas, essas transformações fazem com que os produtos sejam cada vez mais personalizados, além de permitirem o surgimento de novos produtos”, complementa o especialista.

Ronny Martins, gerente de Estratégia, Inteligência Comercial e Processos da Escola de Negócios e Seguros (ENS), afirma que o setor sempre se utilizou de seu imenso volume de dados acumulados para desenvolvimento de novas coberturas e precificação. “Com o uso de inteligência artificial e big data, a análise dos dados é muito otimizada, incluindo aprendizado de máquina e análises preditivas, fazendo com que as seguradoras possam desenvolver produtos cada vez mais personalizados e muitas vezes se adiantando aos desejos dos segurados.”

Salazar concorda que o uso de inteligência na precificação sempre foi um mérito das seguradoras. “No entanto, observamos um crescimento da quantidade e do tipo de informações disponíveis para segmentar os diferentes perfis de clientes. Para fazer bom uso das informações, as seguradoras utilizam soluções de inteligência artificial que não estavam disponíveis havia alguns anos, sejam elas desenvolvidas dentro de casa ou através de fornecedores. Esse movimento de abraçar big data e IA já amadureceu entre as seguradoras, mas estamos passando por outra quebra de paradigma com a chegada da inteligência artificial generativa”, garante Salazar.

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