Home office se consolida no Brasil
Pesquisa revela alto índice de satisfação com o trabalho em casa e prática deve permanecer no pós-pandemia
Antes da pandemia, a Suzano tinha uma estrutura que possibilitava home office para parte do time, mas nada que pudesse ser comparado ao quadro durante a pandemia: todos os 4 mil profissionais que atuam em áreas administrativas passaram a trabalhar em casa. “E sem qualquer impacto nos níveis de produtividade”, ressalta Marcelo Bacci, diretor executivo de Finanças e Relações com Investidores.
“O que temos ouvido das pessoas que trabalham conosco é que a prática proporciona mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional”
Eduardo Ribeiro, CEO da CBMM
Também a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) está decidida a consolidar a prática de home office e adotar um sistema híbrido de trabalho mesmo quando a crise da covid-19 tiver sido superada. “Vamos oferecer a todos os profissionais com funções que permitam isso a possibilidade de ficar dois dias por semana trabalhando em casa”, anuncia Eduardo Ribeiro, CEO da CBMM. “O que temos ouvido das pessoas que trabalham conosco é que a prática proporciona mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, diz.
Uma ampla pesquisa feita em novembro pela SAP Consultoria em Recursos Humanos confirma que o home office veio mesmo para ficar no Brasil. Realizada com apoio técnico da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividade (Sobratt) – instituição que, fundada em 1999, é referência no tema no Brasil –, a pesquisa ouviu 554 empresas de diferentes segmentos e portes. Juntas, essas empresas empregam 1,5 milhão de pessoas.
Para Sebastião Augusto Perossi, sócio-proprietário da SAP, as circunstâncias da pandemia forçaram as empresas a superar receios tradicionais em relação ao trabalho remoto. Daqui em diante, diz ele, é preciso evoluir para que a relação seja benéfica. “Isso vai exigir políticas claras e consistentes, algo que precisa ser muito aprimorado no País.”
O impulso inesperado dado à prática do home office impõe uma série de desafios, segundo Luis Otávio Camargo Pinto, presidente da Sobratt. “Nossa sensação é de dever cumprido ao ver o trabalho remoto ganhando a dimensão que sempre imaginamos que ele poderia ter no Brasil, mas, ao mesmo tempo, sabemos que há muito a fazer”, ele avalia. “As empresas precisam aumentar os cuidados com a segurança dos dados, tomar providências para respeitar a privacidade e a intimidade dos trabalhadores, cuidar da ergonomia e da saúde mental, entre outros pontos”, diz Camargo Pinto.
APROVAÇÃO ALTÍSSIMA
Das empresas ouvidas, 46% adotavam o trabalho remoto antes da pandemia e 52% só de forma emergencial neste ano. Das que adotaram o teletrabalho durante a pandemia, 72% pretendem mantê-lo em definitivo.
Essa perspectiva é reflexo do alto nível de satisfação das empresas que se viram obrigadas a adotar o home office por força da pandemia: 68% delas consideram que a experiência atendeu plenamente às expectativas e 31% consideram que a experiência atendeu parcialmente às expectativas. Apenas 1% das empresas afirmou que a experiência não atendeu às expectativas.
Quando questionadas diretamente se consideravam os resultados positivos, 94% das empresas com experiência em home office afirmaram que sim. O principal aspecto impactado positivamente foi a produtividade, apontado por 71% delas. Depois vieram a redução de despesas com espaço e aluguel (47%), a atração e retenção de talentos (46%) e a redução de despesas acessórias, como café e estacionamento (45%).
As regras de quem pode trabalhar em home office variam de empresa para empresa. Entre aquelas que já adotavam a prática antes da pandemia, 52% a oferecem para qualquer cargo (desde que a função permita), enquanto 27% a vetam para cargos de natureza operacional e 21% definem a elegibilidade não pela natureza das atividades, mas pelo nível hierárquico – ou seja, apenas de um determinado patamar para cima dentro da organização.
QUALIDADE DE VIDA
A comunicação costuma ser citada como uma grande dificuldade em potencial para o home office, mas isso não se confirmou na pesquisa. Ao contrário. O processo de comunicação com os trabalhadores remotos foi considerado adequado por 91% das empresas.
A principal dificuldade apontada pelas empresas que adotaram emergencialmente o home office foi justamente a falta de experiência, citada por 54% delas, seguida por falta de equipamentos (35%), falta de política e procedimentos (34%), entorno familiar (28%), cultura da resistência (26%), falta de infraestrutura de TI para comunicação (24%), falta de treinamento (16%) e resistência dos gestores (14%).
As empresas ouvidas apontaram, como principais motivações da prática regular de home office, a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores (66%), o alinhamento às práticas mais modernas de flexibilidade no trabalho (61%) e a redução da perda de tempo e de energia com o trânsito (47%).