Em cenário turbulento, vendas recuam

Depois de crescimento por dois anos seguidos, 2018 apresentou queda nos negócios

Depois de dois anos seguidos de crescimento, a indústria química apresentou recuo tanto na produção quanto na venda dos seus produtos, conforme dados consolidados de 2018. Segundo números da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), todas as variáveis que medem a atividade exibiram redução de volume em relação ao ano anterior: produção (-4,23%), vendas internas (-0,90%), vendas externas (-16,7%), importações (-2,8%) e, como resultado, o consumo aparente nacional (-1,4%). Para a entidade, o desempenho negativo é justificado por desaceleração econômica, conturbações políticas, greve dos caminhoneiros, volatilidade do câmbio e incertezas advindas de todo esse cenário.

Mesmo em um contexto preocupante, Braskem, Petrobrás e Basf obtiveram posições de destaque no ranking Estadão Empresas Mais. “A indústria química está na base de inúmeros setores que se ressentiram da desaceleração da atividade econômica, como a indústria automobilística, linha branca, construção civil, entre outros”, diz Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim. 

Segunda colocada no ranking, a Petrobrás informa, em relatório de resultados de 2018, que a performance da companhia no ano que passou foi indiscutivelmente a melhor em muitos anos, o que inclui a obtenção de alguns recordes históricos, envolvendo fluxo de caixa livre e Ebitda ajustado, e da interrupção de quatro anos seguidos de prejuízos. Um processo eficaz de gestão de passivos estendeu a maturidade média da dívida de 7,14 anos em 2015 para 9,14 anos em 2018, o que diminui os riscos de refinanciamento.

Há 107 anos no Brasil, a Basf registrou 2,3 bilhões de euros em vendas no País, que é um mercado prioritário para a empresa na América do Sul, pois responde por mais de 70% dos negócios da empresa na região. “Os anos de 2014, 2015 e 2016 foram difíceis para o Brasil e também para a Basf, mas saímos da recessão com energia e novos projetos”, diz Manfredo Rübens, presidente da Basf para a América do Sul. Em 2018, houve a maior aquisição global de ativos da história da companhia, que comprou a divisão de sementes da Bayer pelo valor de 7,4 bilhões de euros.

“O mercado externo é um fator estratégico para o desenvolvimento setorial, tanto em termos de comércio e de serviços quanto de investimentos”, diz a diretora de Assuntos de Comércio Exterior da Abiquim, Denise Mazzaro Naranjo. “O dinamismo comercial setorial também fica explícito na corrente de comércio de mais de US$ 60 bilhões por ano (aproximadamente US$ 45 bilhões em importações e US$ 15 bilhões em exportações), que provê de soluções tecnologicamente avançadas as mais variadas cadeias de transformação aqui e em todo o mundo com produtos químicos fabricados no Brasil”, analisa.

Os dados preliminares de 2019 mostram um cenário desafiador. De janeiro a julho de 2019, o segmento apresentou média de utilização da capacidade instalada de 70%, sendo que em julho foi registrado o pior índice de utilização dessa capacidade, desde que a Abiquim faz o levantamento em 1989, que foi de 65%.

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Empresa bate recorde em geração de caixa

Setor agrícola e de cosméticos, entre outros, gera demanda por resinas no mercado interno

O cenário turbulento vivido pelo setor químico e petroquímico no ano passado passou longe dos resultados da campeã desta categoria no ranking Estadão Empresas Mais. A Braskem apresentou geração de caixa recorde, chegando a R$ 7,1 bilhões, resultado 187% superior ao de 2017. “Solidez, inovação e resultado. Essas são as palavras que definiram a Braskem em 2018. Um ano em que, mesmo com todos os desafios apresentados pelo mercado global, apresentamos uma geração de caixa recorde”, diz Fernando Musa, presidente da companhia. “Nosso Ebitda mostrou forte consistência, atingindo R$ 11,3 bilhões, com um lucro líquido da controladora de R$ 2,86 bilhões”, complementa o executivo.

No Brasil, a demanda de resinas, incluindo PE (polietileno), PP (polipropileno) e PVC, continuou se recuperando e totalizou 5,2 milhões de toneladas, expansão de 2,4% em relação ao ano anterior, explicada pela melhora no nível de atividade econômica e impulsionada pela demanda dos setores agrícola, de cosméticos, farmacêutico e de embalagens para alimentos. Destaque especial para o mercado de PVC, que em 2018 apresentou um crescimento de 1,4% após quatro anos consecutivos de retração.

“Um elemento-chave da gestão financeira da companhia foi uma forte geração de caixa durante o ano de 2018, quase três vezes maior do que a do ano de 2017. O mercado petroquímico também apresentou margens saudáveis. Buscamos o desenvolvimento de produtos cada vez mais sustentáveis. Instigamos nossos integrantes no acompanhamento das tendências disruptivas globais, na busca de servir cada vez melhor nossos clientes e no desenvolvimento de novas maneiras de gerenciar nosso negócio”, diz Musa.

No entanto, diz o executivo, o ano de 2018 foi bastante desafiador para a logística, especialmente após a greve geral dos caminhoneiros em maio de 2018 e o consequente tabelamento dos fretes mínimos pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

O impacto imediato foi um incremento significativo do custo dos fretes de transporte rodoviário de resinas, que, como consequência, gerou uma mobilização do time logístico para encontrar formas alternativas de transporte e negociação.

A empresa projeta um aumento entre 2% e 3% para a demanda de resinas no mercado brasileiro, reflexo de um crescimento ainda pouco expressivo da economia nacional.

“Em 2018, o mercado petroquímico também apresentou margens saudáveis. Buscamos o desenvolvimento de produtos cada vez mais sustentáveis” Fernando Musa, Presidente

“As reformas propostas pelo novo governo trazem a perspectiva de um novo ciclo de crescimento econômico no médio e longo prazos e consequente melhoria para a demanda doméstica. No mundo, o ciclo petroquímico apresenta um cenário mais desafiador e uma perspectiva de incertezas decorrentes da disputa comercial entre Estados Unidos e China.”

A previsão é investir cerca de R$ 3 bilhões. “Em relação ao pilar de produtividade e competitividade, assinamos um contrato para compra de energia eólica que viabilizará a expansão do Complexo de Folha Larga, na Bahia, que a EDF Renewables está desenvolvendo”, diz Musa.

Segundo o executivo, a empresa também estabeleceu uma parceria com a Siemens para o desenvolvimento do projeto de modernização da central petroquímica do Polo do ABC, em São Paulo, que reduzirá o consumo de energia elétrica e as emissões de CO² dessa unidade. “No pilar de diversificação de matéria-prima, tivemos o primeiro ano de operação da central petroquímica da Bahia utilizando etano importado”, diz o executivo.

De acordo com Musa, em 2019, a Braskem segue em ritmo acelerado na construção da sua sexta fábrica de Polipropileno (PP) nos Estados Unidos.

No fim do segundo trimestre, o progresso físico da obra atingiu 65,5%, com investimento total já realizado de US$ 485 milhões. A previsão é que a unidade de polipropileno, a primeira a ser erguida no mercado americano desde 2005, entre em operação no primeiro semestre de 2020.