Muitas dúvidas sobre o futuro

Todos querem acreditar na recuperação das vendas, mas os números apontam que falta bastante para o setor voltar a respirar aliviado

Diversos institutos monitoram o desempenho e as perspectivas do comércio. Os dados mostram que tanto as vendas quanto a confiança dos consumidores e a expectativa dos lojistas chegaram ao nível mais baixo entre julho de 2015 e dezembro de 2016, voltaram a subir no início deste ano e agora apresentam um grande ponto de interrogação. Assim, o que se vê é uma sobreposição de discursos: um mais otimista, que se apoia na comparação dos números atuais com os de um ano atrás, quando a queda era evidente; e outro menos animador, por causa da incerteza política, que impede que tanto a população quanto os comerciantes apostem numa rápida recuperação.

“Oficialmente, falamos que 30 de junho simboliza o final da crise, pois todos os marcadores econômicos pararam de cair”, afirma Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “A dúvida é a velocidade de retomada do crescimento por causa da indefinição no cenário político”, complementa ele. Marcel Solimeo, superintendente institucional da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), faz uma análise menos animadora. “A expectativa de que os números do comércio começassem a melhorar ainda em 2016 não se confirmou, porque a crise política contaminou a economia. Com isso, a indústria desacelerou fortemente e o desemprego aumentou. Assim, a situação fiscal dos Estados se deteriorou, fazendo com que muitos deixassem de pagar seus compromissos”, afirma Solimeo.

Falta de segurança
Indicadores ajudam a explicar esse vaivém. Para os que veem o copo “meio cheio”, a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que o varejo ampliado cresceu 4,5% em maio na comparação com o mesmo mês de 2016 (o melhor resultado desde março de 2015, quando a receita do setor havia aumentado 5%). Com base nesse dado, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revisou de 1,2% para 1,6% sua projeção de melhora nas vendas do varejo para este ano. Da mesma forma, a pesquisa Intenção de Consumo das Famílias, conduzida pela CNC, mostrou que a confiança dos consumidores alcançou 77,3 pontos em julho (numa escala de 0 a 200). O resultado é apenas 0,2 ponto acima do observado em junho, mas 12,5% melhor do que era em julho de 2016.

No entanto, outros dois dados analisados pela mesma CNC apontam na direção contrária e fazem ver o copo “meio vazio”. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) caiu 0,9% em julho. Segundo a economista Izis Ferreira, analista da CNC, “o acirramento da crise política reduziu a confiança dos comerciantes nos últimos meses”. Outro dado negativo é da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), que mostra que 57,1% das famílias estão endividadas, aumento em relação aos 56,4% anotados no mês anterior. Além disso, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV ), caiu mais 0,3 em julho, para 82 pontos, consolidando a tendência iniciada em junho. “Enquanto a incerteza se mantiver elevada, o consumidor vai permanecer cauteloso na hora de assumir novos gastos”, afirma Viviane Seda Bittencourt, coordenadora da sondagem.

E nem a perspectiva de curto prazo é consenso entre os analistas. “Para mim, está claro que 2017 será melhor do que 2016 e a única dúvida é quanto à velocidade da retomada do crescimento”, diz Terra, da SBVC. “O cenário atual só é mais favorável porque a base de comparação é mais fraca, mas a melhoria não será suficiente para salvar o ano, que deve terminar com nova queda, de 1% a 3%”, emenda Solimeo, da ACSP.

Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) mostra que 57% das famílias estão endividadas

CARREFOUR EXPRESS: A abertura de lojas de proximidade tem sido a principal aposta do grupo francês no Brasil

Produtos de qualidade para atender aos consumidores

As líderes do segmento apostam na expansão da rede de lojas para crescer ainda mais quando a recuperação econômica chegar

Grande oferta, aumento no número de pontos, esforço para compreender as necessidades dos consumidores e as diferenças regionais, investimentos em tecnologia. Esses são os ingredientes que garantem a receita de sucesso das três empresas que mais se destacaram no setor de varejo, segundo a pesquisa Estadão Empresas Mais: Carrefour, RaiaDrogasil e Renner.

Maior sortimento, entender as necessidades do cliente e investimento em tecnologia foram algumas das apostas que deram certo

Carrefour, líder do varejo alimentar no Brasil e primeiro colocado no estudo, é também o protagonista da maior abertura de capital no País em quatro anos. No último mês de julho, o IPO da rede de supermercados levantou R$ 5,1 bilhões. E, no início de agosto, foram divulgados os resultados do primeiro trimestre. Por conta dessa operação, a empresa não concede entrevistas, mas enviou nota institucional comentando o bom desempenho em 2016. “Há 41 anos no Brasil, o Grupo Carrefour está presente em todos os Estados do País com serviços e sortimento adequados para cada perfil de cliente e seus diferentes momentos de compra.”

A atuação do varejista se divide em cinco áreas: hipermercados (para grandes compras e serviços, como postos de gasolina, drogarias e caixas eletrônicos, além de galerias comerciais), supermercados Carrefour Bairro (foco em produtos frescos), Carrefour Express (chamadas de lojas de proximidade, com produtos do dia a dia e itens prontos para consumo), o formato cash&carry (com a bandeira Atacadão, que atende consumidores finais, pequenos comerciantes e transformadores) e o e-commerce (Carrefour.com, lançado em 2016). No início de agosto, por ocasião da divulgação dos resultados no segundo trimestre, o presidente executivo, Charles Desmartis, afirmou que a recuperação econômica deve ser lenta, mas destacou a intenção da empresa de manter seus investimentos, com a abertura de novas lojas e o início da venda de alimentos via internet, ainda no terceiro trimestre de 2017.

Assim como no ano passado, a segunda colocada no ranking é a rede de drogarias RaiaDrogasil. Seu presidente, Marcilio Pousada, afirma que “o ponto mais importante na trajetória de crescimento da companhia tem sido o foco em entender às necessidades dos nossos clientes”. Segundo ele, é essencial observar as transformações sociais que ocorrem no Brasil, “como o envelhecimento da população e o fato de que cada vez mais gente vê a farmácia como um estabelecimento que vende saúde e bem-estar”.

No ano passado, a RaiaDrogasil aumentou sua participação de mercado em todas as regiões em que atua e obteve geração positiva de caixa livre pelo quarto ano consecutivo. “Em 2016, abrimos 212 novas lojas próprias nas melhores esquinas do País”, destaca Pousada. No final de junho, a empresa tinha 1.506 unidades em operação e a previsão é de fechar o ano com aproximadamente 100 novos endereços.

A expansão da rede é também uma das chaves do sucesso das Lojas Renner, segundo seu presidente, José Galló. “Em 2016, inauguramos um novo centro de distribuição totalmente automatizado em Santa Catarina, com 50 mil metros quadrados. Também abrimos 64 novas operações (25 de Renner, 17 de Camicado e 22 de Youcom) e atualizamos nossos sistemas, para tornar a tomada de decisões cada vez mais rápida, reduzindo o tempo entre a identificação de uma nova tendência da moda e a disponibilização dos produtos para o consumidor”, afirma o executivo. No total, o investimento da companhia no ano passado chegou a R$ 512 milhões. Para 2017, a previsão é de abrir pelo menos 70 novas lojas, entre elas a primeira fora do País (em Montevidéu, no Uruguai).

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