Devagar não se vai muito longe

Segmento sofreu com retração do agronegócio em 2016, mas está mais otimista com a promessa de safra recorde, inflação sob controle e ajustes na taxa de juros

A maioria das empresas do setor de transporte (60,1%) teve diminuição de receita bruta em 2016, e 58,8% precisaram reduzir o número total de viagens, de acordo com a Sondagem Expectativas Econômicas do Transportador 2016, realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). A pesquisa foi feita com 795 transportadores de todo o País, que atuam nos diferentes modais (rodoviário, ferroviário de cargas, metroferroviário, urbano de passageiros, aquaviário e aéreo). “Para se ter uma ideia, em 2013/2014, eram vendidos anualmente cerca de 100 mil caminhões, número que caiu pela metade em 2015/2016. No ano passado, havia um excesso de caminhões no mercado e faltava carga”, explica José Hélio Fernandes, presidente da NTC&Logística, entidade que reúne mais de 10 mil empresas do setor de transporte. Mas o clima não é de pessimismo. De acordo com o executivo, a queda nos juros e na inflação e a reforma trabalhista devem ter um impacto positivo no setor. A safra recorde também promete ajudar o segmento a fechar o ano um pouco melhor.

A maior parte dos entrevistados (90,7%) na pesquisa considera que a crise política também afetou negativamente os transportadores. Pelo menos 37,4% das empresas ouvidas reduziram o número de veículos em operação em 2016. Esse cenário refletiu na retenção de mão de obra. De dezembro de 2015 a setembro de 2016, foram demitidos mais de 52 mil trabalhadores no segmento. Somente nos últimos seis meses, 58,1% das companhias brasileiras de transporte tiveram de reduzir o quadro de funcionários devido à situação econômica do Brasil. Na opinião de Bruno Batista, diretor executivo da CNT, a indústria, os serviços e o agronegócio sofreram quedas em 2016, o que explica por que o Produto Interno Bruto (PIB) setorial caiu mais do que o nacional. “Transporte é uma atividade dependente de muitos segmentos”, diz Batista.

Entre os desafios apontados por Fernandes, estão também a melhoria da infraestrutura e o combate ao roubo de carga. “É uma tremenda dor de cabeça. As empresas investem em tecnologia, mas não tem sido suficiente. É como enxugar gelo”, afirma o executivo. A pesquisa da CNT aponta que 48,5% das empresas de transporte rodoviário de cargas registraram aumento da quantidade de roubo. “A retomada da economia é a primeira medida para melhorar o cenário”, acredita.

Infraestrutura
Batista lembra ainda que a estruturação de investimentos em infraestrutura é um dos grandes desafios. “Há quatro anos são feitos cortes severos e o bom desempenho operacional está ligado à boa infraestrutura. O aumento do custo operacional em razão da retomada da cobrança da Cide-combustíveis também tem sido um problema”, diz ele. Conforme a pesquisa, a maioria dos entrevistados (83,5%) apoia a participação de investidores internacionais nas novas concessões da aérea de transporte.

Para 2017, 47,7% dos empresários esperam obter receita bruta maior e 48,8% confiam que haverá melhor desempenho da atividade econômica. O levantamento da CNT aponta que 53,5% dos transportadores aumentaram a confiança na gestão econômica do governo federal e 60,5% concordam com as medidas fiscais anunciadas. A Sondagem mostra ainda que 49,3% dos empresários acreditam que a retomada do crescimento do País só será percebida em 2018. Para 23,6%, essa percepção ocorrerá em 2017. “A expectativa é de crescimento por causa da safra recorde e do reaquecimento dos serviços e da indústria”, aposta Batista.

Enquanto o PIB do Brasil caiu 3,6%, o do transporte despencou 7,1%. Depois de nove trimestres seguidos em baixa, no primeiro trimestre deste ano o setor cresceu 2,8%

CONCESSÃO: A CCR é responsável por 3.265 km de rodovias. A imagem mostra a entrada do Complexo Viário Anhanguera (em São Paulo), da AutoBan, empresa do grupo CCR

Oportunidades que surgem da escassez

Uma das áreas com maior necessidade de investimentos e modernização, a infraestrutura de transporte e logística do País tem garantido bons resultados

Pelo terceiro ano consecutivo, a CCR é o grande destaque no segmento de transporte e logística do Estadão Empresas Mais. Para chegar a um bom resultado, em 2016 a companhia investiu R$ 2,6 bilhões em obras civis. Entre elas, o Terminal 2 do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte e as linhas 1 e 2 do metrô em Salvador. Fundado em 1999, o Grupo CCR é uma das maiores companhias de concessão de infraestrutura da América Latina e controla, atualmente, 3.265 quilômetros de rodovias. “Somos uma empresa que, desde a sua fundação, sempre teve como premissa o crescimento qualificado, baseado em governança corporativa, disciplina de capital e geração de valor para seus acionistas e públicos de relacionamento. Por isso, cada nova oportunidade de negócio é estudada criteriosamente, para que sejam iniciativas viáveis para a companhia e contribuam com os objetivos gerais e diretrizes que traçamos para o futuro da empresa”, explica Renato Vale, presidente da CCR.

Grande aporte de capital em obras civis e diversificação de portfólio nas empresas de logística são responsáveis pelo bom momento do setor

De acordo com o executivo, nos últimos anos muitos projetos importantes entraram em operação comercial, recebendo investimentos expressivos, como foi o caso da CCR Metrô Bahia, da CCR MSVia, da BH Airport, entre outros. Os negócios mais maduros, como no caso das concessões de rodovias, mantiveram suas receitas ou ampliaram a geração de caixa. “Nossa gestão é baseada em planejamento: enquanto alguns projetos demandam mais investimentos, outros mantêm seus resultados”, afirma Vale.

A operadora logística rodoviária JSL, segunda colocada da categoria, teve crescimento de 12,5% na receita bruta no ano passado. Para Fernando Simões, presidente da JSL, isso aconteceu por conta da ampla gama de serviços logísticos que a companhia oferece. Do transporte de carga à gestão e terceirização de frotas e equipamentos, seu portfólio de negócios ainda inclui operações independentes e complementares ao serviço logístico no segmento co- mercial – seminovos e concessionária de veículos –, além dos serviços Movida Semi- novos e Movida Aluguel de Carros e do segmento financeiro (JSL Cartão e JSL Leasing).

Maior rentabilidade
Para 2017, as perspectivas são boas. “Buscamos manter foco na contínua redução de custos, visando aumento de rentabilidade das operações. A JSL Logística vem demonstrando resiliência na geração de caixa e segue em posição de liderança no mercado nacional, sendo que no segundo trimestre deste ano já se observa melhoria nos volumes de alguns clientes”, diz Simões.

Para a MRS, terceira colocada no segmento, 2017 é um ano crucial. Isso porque está em andamento, junto ao governo federal, o processo de repactuação da concessão, que permitirá à companhia abrir um novo ciclo de investimentos, com projetos de grande porte. “Estamos aprimorando um plano de negócios que busca fortalecer a participação da empresa como parte da solução logística nacional, ampliando capacidade e acesso a portos e garantindo melhor produtividade entre as três maiores regiões metropolitanas do País”, afirma Guilherme Mello, presidente da MRS.

Por sua vez, 2016 foi dedicado à consolidação de planos estruturadores para o transporte de commodities, mas o grande destaque, na opinião de Mello, foi a atuação da empresa no segmento de cargas em contêineres. “Embora sejam ainda pouco representativas em termos de volume se comparadas às commodities agrícolas e minerais, as cargas conteinerizadas são o maior prêmio pelo nosso esforço por inovação e busca de novas soluções”, diz Mello.

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