O pior já passou

Perspectivas de aprovação da Lei Geral de Telecomunicações e de aquecimento macroeconômico animam o setor

A expectativa é de que 2017 seja um ano melhor para o setor de telecom devido ao cenário mais previsível no âmbito político e, principalmente, no contexto econômico. A estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) é de que o mercado de tecnologia da informação e comunicações (TIC) aumente, neste ano, 2,5%. A Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp) vai além. Em estudo recente, a entidade traz números que mostram que o setor enfrentou um ano complicado em 2016, com retração da base de clientes de todos os serviços. Além disso, houve redução de 3% nas receitas brutas totais, passando de R$ 233,8 bilhões para R$ 226,5 bilhões. Só quem foi bem no ano passado foi o segmento de banda larga fixa, que aumentou 4%, de 25,5 milhões de assinantes para 26,6 milhões.

João Moura, presidente executivo da TelComp, explica que, além dos fatores macroeconômicos, como desemprego, queda na renda e nível de atividade empresarial, que têm impacto direto, cada subsegmento de telecomunicações enfrenta desafios próprios. “No mercado de celulares, houve diminuição da base de clientes por causa dos ajustes nas tarifas de interconexão, resultando em menor receita por assinante e menor receita total. Na TV por assinatura, houve aumento de ICMS em vários estados e crescimento de produtos substitutos”, afirma Moura.

Segundo o executivo, apesar de ainda não haver números do primeiro semestre de 2017, um dos grandes destaques do período é o contínuo crescimento da oferta de banda larga fixa por provedores regionais, que foram responsáveis pelo aumento de 77% da base de clientes até maio deste ano.

Com uma visão mais pessimista do que outras entidades, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) não aposta em um ano promissor. “Para 2017 a expectativa é, infelizmente, de uma queda entre 7% e 10% em relação a 2016, uma vez que as mudanças regulatórias, como, por exemplo, a modernização da Lei Geral de Telecomunicações (LGT), estão atrasadas e com isso os investimentos serão provavelmente postergados mais uma vez”, afirma Aluizio Byrro, diretor da área de telecom da Abinee.

Futuros investimentos
Mas existem perspectivas positivas. O aumento do interesse por inovações, como internet das coisas (IoT), que deve dobrar de tamanho até o final da década, e o amadurecimento da adoção do uso da nuvem pública (cloud computing) podem alavancar os investimentos em infraestrutura, invertendo uma curva decrescente. “O desempenho em 2016 foi decepcionante para a área de infraestrutura de telecom, com recuo de aproximadamente 10% em relação a 2015, que já havia recuado em relação a 2014”, diz Paulo Castelo Branco, diretor da área de telecom da Abinee.

Jorge Sukarie, presidente da Abes, acredita que, além das tendências inovadoras, os novos modelos de smartphones também trazem boas perspectivas. Existe a estimativa desse segmento crescer 3,5% em vendas de unidades na comparação com 2016. “O ano passado foi muito difícil e vimos, pela primeira vez em 12 anos, uma redução de investimentos na área”, explica Sukarie, que enxerga saídas a partir de mudanças conjunturais. “As reformas da previdência e tributária são essenciais, bem como a adoção do conceito de transformação digital, que melhora os processos públicos e privados e poderá impulsionar o setor e recolocar o Brasil no jogo da competição mundial”, afirma o presidente da Abes.

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), o mercado de telecom vai continuar se digitalizando. Em 2017, o número de conexões 4G vai ultrapassar 108 milhões de usuários no Brasil

TRICAMPEÃ: Um dos pilares da estratégia da Vivo é a oferta de serviços que vão além da conectividade, em áreas como educação e entretenimento

Está bom, mas pode melhorar

Com resultados bastante positivos, a Vivo investe em novas tecnologias e espera a aprovação da Lei de Telecomunicações para avançar ainda mais

Pelo terceiro ano seguido, a Vivo conquista o primeiro lugar da categoria Telecom na pesquisa Estadão Empresas Mais. E se continuar no ritmo atual, pode garantir um tetracampeonato em 2018. Afinal, no segundo trimestre deste ano, a Telefônica Brasil, dona da marca Vivo, viu seu lucro líquido crescer 24,8%, atingindo R$ 873 milhões. Presente em 3,9 mil cidades, sendo mais de 3,8 mil com rede 3G, a companhia é líder no segmento 4G, com mais de 1,6 mil linhas.

Novidades para serem vistas no celular, acesso ilimitado a shows ao vivo e investimentos em infraestrutura têm sido o foco das empresas líderes

Para Eduardo Navarro, presidente da Telefônica Brasil, os números são bons, mas o setor enfrenta diversos desafios que atrapalham o esperado sono tranquilo. Um deles é a legislação, que coloca o Brasil na contramão do mundo. “Ainda temos que investir em orelhão quando o País demanda banda larga. A nova Lei de Telecomunicações, que está parada no Legislativo, poderia criar uma forma concreta de beneficiar a população à medida que prevê a utilização de recursos usados para a manutenção do serviço de telefonia fixa para a expansão do serviço de banda larga”, acredita Navarro.

O conceito de transformação digital é outro tema fundamental para as empresas de telecom. Um dos pilares da estratégia da Vivo é a oferta de serviços que vão além da conectividade, em áreas como educação e entretenimento. Por isso, alguns dos lançamentos mais importantes são justamente neste setor, com ênfase em novidades baseadas em vídeo. “Em 2016, trouxemos para o mercado o Studio+, um serviço inédito com cerca de 50 séries roteirizadas, produzidas e filmadas exclusivamente para serem vistas no smartphone, e o WatchMusic, com o qual os assinantes móveis da Vivo têm acesso ilimitado a shows ao vivo, festivais, videoclipes e outros conteúdos originais de artistas nacionais e internacionais”, conta Navarro.

Já a Claro, segunda colocada da categoria, que detém as empresas NET, Claro e Embratel, sofreu declínio no desempenho financeiro nesse começo de ano – uma queda de 2,5% na sua receita líquida no segundo trimestre de 2017 em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto no acumulado do primeiro semestre diminuiu 1,3% ante o ano anterior, muito influenciada pela redução na receita de venda de aparelhos e de interconexão. De acordo com a companhia, apesar de um cenário ainda instável e desafiador em 2017, as empresas do grupo têm desempenho operacional positivo. No segmento móvel, a Claro teve crescimento de 10% na sua base de assinantes do plano pós-pago no segundo trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Em 2016, a TIM, terceira colocada da categoria, traduziu seus investimentos em infraestrutura e a atenção para a gestão operacional em resultados financeiros. A margem EBITDA (normalizada) atingiu 33,5% – maior marca em sete anos. A companhia consolidou sua estratégia de construir uma base de clientes com foco na oferta de dados e de serviços digitais. A receita média por usuário cresceu, em 2016, 9% na comparação com 2015 e houve aumento de 20,5% nas chamadas receitas inovativas (dados + conteúdo) no mesmo período. A rede 4G alcançou 1,2 mil cidades no fim de 2016 e hoje já está em mais de 2 mil municípios de todo o Brasil.

De acordo com Luis Minoru, vice-presidente de estratégia e inovação da TIM Brasil, o foco da empresa é aumentar sua base de valor e a rentabilidade dos atuais usuários. “Esse objetivo está além de somente vender e atrair novos clientes. Nos seis primeiros meses de 2017, a TIM conquistou quase um milhão de clientes pós-pagos. Além disso, há maior procura por ofertas com pacotes semanais no segmento pré-pago. Temos como desafio manter essa trajetória na segunda metade do ano”, diz Minoru.

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