Lenta recuperação

Dependente da atividade econômica, o setor registrou perda acumulada de 5% em 2016 e neste ano vai pouco além da estabilidade

De um lado, o declínio da atividade industrial. De outro, os seguidos cortes orçamentários no País. Esses dois fatores combinados afetam diretamente o setor de serviços empresariais não-financeiros, que registrou queda em todos os meses de 2016, variando entre 3,4% e 7,5% de janeiro a dezembro. Junho registrou a menor perda. Os motivos já são bem conhecidos: a grave desaceleração da economia, o desemprego e a diminuição da renda familiar média dos brasileiros.

Serviços não-financeiros, um setor fundamental para a economia brasileira, correspondem a cerca de 70% do PIB e, desse total, 90% são representados pelos segmentos de informação e comunicação, transportes e serviços profissionais, administrativos e complementares. Os outros 10% referem-se a serviços prestados às famílias, atividades turísticas e outros. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor fechou o ano com queda de 5%, já descontada a inflação. “As empresas e os governos pararam de investir e estão cortando despesas. Fornecedores de quase todas as especialidades deixam de ser contratados. É uma relação clara de causa e efeito”, alerta Roberto Saldanha, gerente de pesquisa mensal do IBGE.

Com declínio acumulado de 7,6% no ano, o segmento mais afetado foi o de transportes – rodoviário (passageiros e cargas), ferroviário, metroviário, dutoviário, aquaviário, aéreo, armazenagem, serviços auxiliares ao transporte e correios. Em seguida, com redução de 5,5%, vieram os serviços administrativos e complementares, também pressionados pelo desemprego crescente. Na terceira posição ficaram os serviços prestados às famílias, que atingiram queda de 4,4% e estão relacionados a gastos com alojamento, alimentação, lavanderias, tinturarias, salões de beleza, academias de ginástica.

Os sinais negativos mais intensos são sentidos desde o segundo semestre de 2014 e se acentuaram em 2016. E, segundo Saldanha, ainda não há evidências de recuperação: “Em maio de 2017, o índice subiu 1%, ou seja, um movimento mínimo, que ainda não pode ser visto como melhora. Há, sim, estabilidade, porém, em patamares inferiores aos registrados nos mesmos períodos dos anos anteriores”.

Retrocesso
O economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Fabio Bentes, concorda que, numa visão mais otimista e superficial, o cenário poderia indicar melhoras: “Em 2017, tivemos três altas mensais seguidas. Dos seis meses do ano, houve crescimento de receita em cinco, com aumento de 1,3% de maio para junho. A notícia parece boa, mas não é”. Ele explica: em março deste ano, atingimos o fundo do poço – a receita do setor foi equivalente à registrada no início de 2011, ou seja, retrocedeu ao nível de seis anos atrás. “Houve quedas seguidas, mês a mês, nos últimos 27 meses. É longa a estrada para superarmos a tragédia de 2015 e 2016”, lamenta.

Um crescimento por seis meses consecutivos indicaria o início de uma recuperação consistente. Segundo Bentes, porém, a mudança será lenta e sujeita a tempestades e trovoadas: “Além de inflação ainda menor, precisamos de taxas de juros muito inferiores às que vigoram hoje, em torno de 6%. Somente a redução dos juros irá atrair investidores dispostos a apostar no lado real da economia. O equilíbrio fiscal virá a partir de uma reforma estrutural para valer”.

Serviços não-financeiros equivalem a 70% do PIB. Desse total, 90% envolvem segmentos de informação e comunicação, transportes e serviços profissionais, administrativos e complementares

PRATICIDADE: A tecnologia ajudando a proporcionar uma excente experiência de compra

Todos os olhos no cliente

Companhias do setor de serviços apostam em tecnologia, diversificação de portfólios e relacionamento multicanal para qualificar a experiência dos consumidores

A Cielo, líder do setor de cartões de pagamento no mercado brasileiro (em termos de volume financeiro de transações), vem se preparando, nos últimos anos, para desenvolver um portfólio capaz de diferenciá-la em um cenário tão competitivo, além de explorar novos segmentos, como educação, saúde e o mercado de profissionais autônomos. “Os consumidores estão ávidos por comodidade e menor atrito durante a experiência de compra. Nosso papel é continuar sendo o provedor de excelência dessa experiência para o varejista, perseguindo a inovação, mas com o compromisso de criar soluções sempre escaláveis”, comenta Eduardo Gouveia, presidente da empresa.

Investimento em meios digitais, parcerias estratégicas com outras empresas, campanhas de marketing e treinamentos e benefícios aos funcionários são iniciativas cada vez mais relevantes

Segundo Gouveia, o Cielo LIO, lançado em 2016, reflete esse pensamento. O produto une pagamento a soluções de gestão e de controle do negócio. Por meio de uma série de aplicativos, o lojista unifica a operação e sua frente de caixa em uma mesma plataforma. “Nosso cliente tem sempre a tecnologia mais recente disponível. Mais de 90% do nosso parque é equipado com a tecnologia NFC (Near Field Communication), por exemplo, que possibilita pagamentos por aproximação”, destaca.

A Cielo também voltou seu radar para os empreendedores que vendem pelas redes sociais, em transações feitas na confiança ou em depósitos e transferências bancárias. Pensando nesse público, está investindo em soluções por link, que permitem a qualquer pessoa vender seu produto ou serviço online, mesmo que ela não tenha uma loja virtual. A companhia, primeira colocada na categoria Serviços do estudo Estadão Empresas Mais, conta com aproximadamente 1,8 milhão de clientes credenciados ativos.

Foco na experiência do cliente é também o fator que concentra as atenções da Smiles nesses anos de maior turbulência na economia brasileira. A estratégia da empresa, segunda colocada no ranking da categoria, envolve alianças com 14 companhias aéreas, lançamento de produtos que facilitem a vida do viajante e parcerias relevantes para o negócio, como serviços de reservas de hotel (Rocketmiles) e carro (Localiza) com cartão de crédito diretamente na plataforma da Smiles. “Assim, além de oferecer o pagamento com milhas, o cliente tem a opção de pagar só no cartão de crédito e ganhar muitas milhas para a próxima viagem”, comenta Leonel Andrade, CEO da Smiles.

A empresa tem se dedicado ainda a aspectos importantes de gestão, com ênfase em treinamento e benefícios para os funcionários e campanhas de marketing integrado, que falam com o cliente em todos os canais, além de investimento em ferramentas digitais que agilizam o processo de compra, emissão de passagens e atendimento. É hoje a maior emissora de passagens aéreas do País, fora as companhias aéreas. Com 9 milhões de voos disponíveis, a empresa prevê a emissão de 5 milhões de bilhetes aéreos em 2017.

Inovação
Em terceiro lugar na pesquisa está a Localiza, maior rede de aluguel de automóveis da América do Sul, com 577 agências no Brasil e atuação em mais seis países da região. Sua frota de 151 mil carros atende cerca de 6 milhões de clientes e inclui sofisticações como o SUV AudiQ3 e o Toyota Prius, o híbrido mais vendido do mundo, movido a gasolina e eletricidade. Inovação, aliás, parece ser também a palavra de ordem na companhia. Muitas iniciativas recentes apontam nessa direção. “A parceria com a The Hertz Corporation abrange o uso da marca combinada Localiza Hertz no Brasil e a utilização, pela Hertz, da marca Localiza nos principais aeroportos que atendem viajantes brasileiros nos Estados Unidos e na Europa”, celebra o presidente Eugênio Mattar.

 

 

 

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