Momento de investir em gestão

Segundo especialistas da área, é urgente a adoção de novos modelos de gerenciamento que permitam controles mais integrados e produtivos

O mercado de saúde suplementar, composto por planos de assistência médica e odontológica, contabilizou 69,9 milhões de beneficiários em dezembro de 2016, redução de 1,7% em comparação com dezembro de 2015, segundo dados da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde). Com isso, são dois anos de perda significativa no número de beneficiários dos planos privados de saúde no Brasil, o que afeta toda a cadeia do setor.

A contratação de um plano de saúde depende diretamente de dois fatores: renda e emprego. A maioria dos contratantes possui o benefício por meio do empregador, como forma de atrair e reter colaboradores. Para se ter uma ideia, planos coletivos empresariais são responsáveis por 66% dos vínculos. “Há uma clara relação entre a dinâmica do mercado de trabalho e o desenvolvimento do mercado de saúde suplementar. A evasão de beneficiários, nos últimos anos, é consequência direta da retração da atividade econômica do País”, comenta José Cechin, diretor executivo da FenaSaúde.

Os problemas enfrentados na saúde suplementar, porém, estão além da crise econômica. Cechin explica que o setor enfrenta questões estruturais, como inflação médica elevada, desperdícios, fraudes, incorporações tecnológicas sem a relação custo-benefício comprovada clinicamente e regulação engessada, entre outras, que não estimulam o desenvolvimento do mercado. De acordo com levantamento da FenaSaúde, a despesa assistencial per capita cresceu 19,17% em 2016 e 138,3% entre 2008 e 2016. Nesse mesmo período, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 65,8%.

A Deloitte, empresa de auditoria e consultoria empresarial, concorda que as dificuldades não se restringem ao cenário econômico brasileiro. Segundo Enrico de Vettori, sócio líder para indústria de Life Science e Healthcare da Deloitte, um dos pontos que mais contribuem para a ineficiência do sistema é a fragmentação do setor. “Cada elo da cadeia opera a seu modo, com instrumentos, tecnologias e processos apartados. Trazer elementos que integrem essa estrutura proporcionará um grande ganho para o segmento. O uso de plataformas tecnológicas, incluindo ferramentas de business annalytics e big data, possibilita melhor gestão da tríade abuso-desperdício-fraude, que causa ineficiências e perdas vultosas. Os agentes do setor precisam se reinventar”, afirma.

Boas notícias também existem. Na contramão da crise, planos exclusivamente odontológicos, com 22 milhões de beneficiários (31,5% do mercado), aumentaram 1,4%. Em 2016, o segmento absorveu 312 mil novos beneficiários. “Essa movimentação pode ser explicada pelo baixo preço das mensalidades e pela mudança cultural sobre os cuidados bucais, além do foco das operadoras em oferecer o serviço a pequenas e médias empresas”, diz Cechin.

Apesar do declínio do mercado de saúde no País, segundo dados coletados pela Deloitte, em 2016 o Brasil foi considerado o sétimo maior mercado de saúde do mundo, o segundo maior em saúde privada nas Américas e o que possui o sistema público mais abrangente, com mais de 150 milhões de pessoas (76% do total) dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS). Outro ponto de relevância está ligado às despesas anuais familiares com a saúde. A maior delas é com medicamentos (R$ 79 bilhões), seguida por planos de saúde (R$ 49 bilhões), consultas e exames (R$ 16 bilhões) e dentista (R$ 8 bilhões).

Até 2020, 50% das despesas globais de saúde serão geradas a partir de gastos com as três principais causas de morte: doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer

SAÚDE DE QUALIDADE: Uso de alta tecnologia e inovações para prevenir doenças e aprimorar o atendimento ao usuário

Em busca da excelência

Aumentar os investimentos para garantir avanços em tecnologia e eficiência administrativa garante às empresas de saúde continuar em expansão

O aumento da expectativa de vida da população, associado à contínua evolução tecnológica, é considerado um desafio positivo para o setor de saúde no País. Mesmo diante de um cenário de forte recessão econômica, empresas como a Rede D’Or seguem investindo no desenvolvimento dos negócios, com uma visão de longo prazo. Essa estratégia, caracterizada pela consolidação da qualidade dos serviços, valorização das pessoas, expansão orgânica e aquisições, levou a companhia a fechar 2016 com crescimento de 22,6%, incluindo os hospitais adquiridos.

Inaugurações e ampliações de unidades de atendimento, aquisições de hospitais e investimento em inovação são características comuns das empresas que atuam na área de saúde

Desde 2015, a Rede D’Or vem aportando cerca de R$ 1,5 bilhão por ano em iniciativas contempladas em seu planejamento estratégico. “Tiramos colaboradores, diretores e gestores de funções burocráticas para que pudessem se dedicar exclusivamente à atividade m, ampliando a oferta de assistência médica de qualidade aos nossos pacientes. Modernizamos os centros cirúrgicos e de diagnósticos e já somos líderes em cirurgia robótica no País”, comenta Paulo Moll, vice-presidente da empresa, líder no ranking do Estadão Empresas Mais pelo terceiro ano consecutivo.

O controle de gastos corporativos é determinante nesse processo – e ganhou impulso a partir da criação do Centro de Serviços Compartilhados (CSC), que permitiu à Rede D’Or rever atividades de suporte e transações rotineiras, renegociar contratos com fornecedores e prestadores de serviços, reduzindo custos e despesas. “Esses recursos liberados nos permitem investir em capacitação e na qualidade da assistência, resultando na redução contínua de turnover dos colaboradores”, afirma Moll.

Investimentos em inaugurações, ampliações e aquisições de hospitais e maternidades complementam o plano de crescimento da Rede D’Or. Em 2016 e 2017, pouco mais de dez projetos foram realizados no Rio de Janeiro, em São Paulo e Pernambuco. Até 2022, a empresa prevê o aumento dos atuais 6 mil leitos para o total de 9 mil, além de foco ainda maior em oncologia.

Ajustes nas contas
Inovação, recuperação de rentabilidade e expansão também ocupam a pauta do Fleury, segundo colocado no estudo. “O desenvolvimento crescente da medicina de precisão, cujo objetivo é acelerar nosso desempenho na área genômica, é um dos destaques recentes da companhia”, comenta o presidente Carlos Marinelli. Em 2016, o Fleury incorporou ao seu portfólio de serviços e produtos o OncotypeDX, teste genético voltado para a investigação do câncer de mama, cólon e próstata, feito em parceria com a empresa norte-americana Genomic Health, dentro da tendência de medicina personalizada. Até julho de 2017, o Fleury inaugurou um total de 17 novas unidades das marcas Fleury, A+ e Weinmann, esta última no Rio Grande do Sul. “Em nosso plano de expansão, esperamos atingir entre 73 e 90 novas unidades até 2021”, ressalta Marinelli.

Em terceiro lugar no estudo está o A.C. Camargo Cancer Center, que lidou com as adversidades do cenário macroeconômico por meio de maior e ciência e austeridade na gestão do negócio, obtendo R$ 1,29 bilhão de receita líquida em 2016. “A especialização em oncologia nos dá margem para sermos mais assertivos em nossa estratégia, pois o foco único contribui para a nossa solidez mesmo em momentos de crise”, diz a superintendente geral, Vivien Navarro Rosso. Além disso, com o envelhecimento da população como principal fator de risco na incidência do câncer, são contínuas e crescentes as demandas em oncologia. Em 2016, o hospital realizou mais de 133 mil atendimentos a pacientes e 3,8 milhões de procedimentos.

SalvarSalvar

SalvarSalvar