Uma década inteira perdida

Mesmo com o avanço verificado em 2016, as empresas do segmento ainda lutam para retomar os índices de crescimento registrados em 2007

Os últimos anos não foram nada bons para as companhias do segmento, período em que foram bastante impactadas pela crise da Petrobras. De todo modo, comemoram a leve recuperação registrada no ano passado e estão na expectativa de que a tendência se mantenha. Para Reynaldo Saad, sócio-líder da área de produtos industriais da consultoria Deloitte, o setor químico foi o mais onerado pela crise. “Houve pequeno incremento, mas nada significativo para um grupo que vinha crescendo com margem grande”, afirma.

O que Saad chama de pequeno crescimento, a diretora de economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fátima Giovanna Coviello Ferreira, traduz em um faturamento líquido de R$ 379,2 bilhões em 2016, valor 2,7% acima do que foi registrado em 2015. A queda no ranking dos países referência no setor também se explica: as exportações caíram 5,3% em 2016, ficando em US$ 12,15 bilhões. “Apenas para ilustrar, no início da década de 90, o déficit era de US$ 1,5 bilhão. Apesar da ligeira melhora observada no resultado da balança comercial em 2016, esse déficit ainda evidencia que o Brasil está importando riquezas que são produzidas em outras localidades”, diz Fátima.

Marcos regulatórios
Mesmo com crescimento, se comparado aos resultados de 2007 para uma avalição decenal, o nível atual de produção é praticamente o mesmo daquele registrado dez anos atrás e, no que se refere às vendas internas, o setor ainda está quase cinco pontos abaixo da referência. “Ou seja, não houve crescimento nos últimos dez anos, o que comprova um período de dificuldade e falta de competitividade, que culmina no elevado índice de ociosidade atual e na falta de atratividade para novos investimentos”, lembra.

Para Saad, o desempenho é influenflciado por fatores externos, mas o impacto maior vem mesmo dos problemas internos enfrentados pelas empresas. O executivo acredita que, para fechar 2017, o setor precisa da recuperação da Petrobras, da estabilidade do preço do petróleo e da atração de capital privado. “Mas para isso dependemos de alterações regulatórias que mudem o patamar do segmento”, defende, lembrando que a recuperação econômica precisa ser real, com investimentos de curto e médio prazos.

Busca de credibilidade
Fátima, da Abiquim, concorda e ressalta que adotar medidas que tornem o País atrativo para recebimento de investimentos estrangeiros na área de óleo e gás ajudará a tornar os recursos locais mais competitivos. “O Brasil precisa e deve recuperar a credibilidade e a previsibilidade de longo prazo. Ainda que algumas ações tenham efeito daqui a mais tempo, tão importante quanto a ação em si é a sinalização que o governo está dando em relação à direção e ao rumo do que se pretendei mplementar”, afirma. A executiva ressalta ainda que a inflação tem dado sinais claros de recuo e, por isso, não causa preocupação de curto prazo. “Portanto, há espaço para acelerar também a redução dos juros reais que incidem sobre a economia, respondendo de forma mais rápida às expectativas de mercado”, diz. Como investimentos produtivos e taxas de juros caminham em direção oposta, a Abiquim acredita que, quanto mais rápido os juros caírem, mais veloz será a resposta em relação ao nível de capital investido na produção.

O faturamento líquido do setor foi de R$ 379,2 bilhões no ano passado, valor 2,7% acima do que foi registrado em 2015. Mas as exportações caíram 5,3%

AGRONEGÓCIO: A Nufarm tem como foco a produção de agroquímicos e sementes para um setor que continua robusto

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Com ou sem crise, as empresas do setor mantêm investimentos em P&D como forma de aumentar a competitividade e buscar novos mercados

Se há algo em comum entre as empresas vencedoras da categoria Química e Petroquímica do ranking Estadão Empresas Mais é o foco em pesquisa e desenvolvimento. Os resultados de Nufarm, Bayer e Produquímica variaram em 2016 em razão de seus mercados, mas as três continuam mantendo a preocupação com o desenvolvimento de mais e melhores produtos. A australiana Nufarm, primeira colocada na pesquisa, não tem do que reclamar. O presidente da companhia, Marcos Gaio, não revela muitos números, mas afirma que a operação brasileira cresceu 5% em 2016. “Atuamos basicamente no agronegócio, com a produção de agroquímicos e sementes e este é um setor que continua robusto”, afirma.

Para quem atua na área, estar sempre próximo ao agricultor tem se mostrado uma estratégia excelente na busca constante dos bons resultados

Mais do que o foco em um setor em crescimento, Gaio atribui o sucesso nos negócios e o crescimento da Nufarm à estratégia de penetração de mercado estabelecida pela empresa: se manter perto do agricultor onde ele estiver. “Temos uma equipe com centenas de consultores que fazem visitas constantes aos nossos clientes”, diz, lembrando que esse time é o responsável por realizar um mapeamento do que pode ser oferecido ao mercado e por alimentar a equipe de pesquisa e desenvolvimento.

O executivo deixa claro que sua ambição é dar ao agricultor uma experiência positiva, fazendo com que ele se sinta confortável fazendo negócios com a Nufarm e, claro, que queira fazer mais na próxima safra. “O agricultor está no centro de nossa atenção. Estamos procurando melhorar nossos produtos, nossa logística e a estratégia de atendimento técnico a esses clientes”, revela.

Para a Bayer, há 120 anos no Brasil, segunda colocada na categoria Química e Petroquímica, o ano passado não deixou saudades. Embora tenha conseguido um resultado financeiro de R$ 8,3 bilhões, este representou recuo de 14% em relação a 2015. O presidente da companhia no País, Theo van der Loo, ressalta que esse desempenho foi fruto do momento de transição do cenário político nacional e da redução do crédito.

Mas isso não fez com que a Bayer recuasse de sua meta de investir consistentemente na área de pesquisa e desenvolvimento. De acordo com o executivo, é a forma mais segura de garantir a oferta de produtos e soluções de alto desempenho. “Consideramos esta área peça-chave para alcançarmos resultados na missão de gerar ciência para uma vida melhor”, afirma. Por isso, a Bayer investiu, globalmente, quase € 4,7 bilhões em P&D, 9,2% a mais que em 2015.

Mais do que isso, a Bayer planeja investir cerca de R$ 180 milhões no Brasil em 2017, mantendo a média dos anos anteriores. “Nossa projeção para 2017 segue positiva. Vemos sinais de melhora no País, por isso estamos mantendo nossos planos de investimento”, afirma. Também com foco no agronegócio, a Produquímica, terceira colocada na categoria, tem estratégia semelhante à da Nufarm, mantendo um time de vendas técnicas com mais de 200 pessoas espalhadas por todo o País; e à da Bayer, com investimentos em pesquisa e desenvolvimento que ultrapassam os R$ 12 milhões anuais.

Apesar da crise, o ano de 2016 foi especial para a Produquímica, que passou a fazer parte do grupo norte-americano Compass Minerals. Com a incorporação, a companhia vê com otimismo seu futuro no mercado brasileiro, uma vez que recebeu recursos que vão permitir mais participação, incremento e fortalecimento de suas operações. “Nessa nova fase, a Produquímica, como empresa do grupo Compass Minerals, continuará a desenvolver seu portfólio especializado e se manterá focada na produção e no desenvolvimento de produtos técnicos de alta qualidade”, afirma Gehard Walter Schultz, presidente da empresa.

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