Crescimento e produtividade

Com a queda do mercado interno, as empresas do setor de papel e celulose investem em modernização e na conquista de espaço internacional

O setor de papel e celulose vem conseguindo atravessar os anos de crise sem muitos solavancos. A produção de celulose cresceu 8,1% em 2016 e a de papel e a de embalagens caíram relativamente pouco – 0,2% e 0,6%, respectivamente. O ano passado não foi dos piores também para quem foca o mercado externo: o dólar médio de R$ 3,49 beneficiou as empresas exportadoras, mas elevou os custos, reduzindo suas margens. No geral, o segmento vem conseguindo se manter em crescimento. De acordo com o sócio da PwC Brasil, Eduardo Vendramini, este desempenho deve-se principalmente à aposta em inovação.

“Desde 2012 as principais empresas do setor começaram a investir em modernização, ampliação da área de plantio e da capacidade de produção”, afirma. Os investimentos, de aproximadamente R$ 110 bilhões em cinco anos, sendo R$ 13 bilhões só em 2016, colaboraram para um grande salto de produtividade e competitividade. A redução de custos é vista como o segundo impulsionador de crescimento mais forte, com fusões e aquisições em terceiro lugar e alianças na quarta posição.

Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), reforça a visão, lembrando que o desempenho calcado nas exportações se manteve nos três principais segmentos representados pela entidade – celulose, painéis de madeira e papel –, mesmo com a valorização do real em 25% ao longo de 2016. O bom volume registrado pelas exportações contribuiu para que a balança comercial do setor fechasse o ano com resultado positivo de US$ 6,6 bilhões (+2,4%).

Demanda nacional
Apesar dos resultados, as perspectivas ainda são cautelosas. Por conta do cenário econômico ainda desafiador, Vendramini acredita que o setor industrial de papel e celulose ainda deverá sofrer com a redução na demanda nacional do consumo de diversos tipos de papel, principalmente dos utilizados na produção de embalagens. Serão impactados também os pedidos de papel para fins sanitários e de imprensa (papéis para imprimir e escrever), estas devido à retração do nível de emprego e da massa salarial.

“Por outro lado, as exportações, que são o principal meio de escoamento do excedente da produção local de celulose, continuarão nos mesmos níveis de 2016”, afirma. De acordo com o executivo, dados da Lafis (Latin American Financial Investment Services), em termos de produção, preveem um aumento de 3,5% em 2017, o que potencialmente levará o Brasil do quarto para o segundo lugar em produção mundial de celulose já no início de 2018, ultrapassando Canadá e China e cando atrás apenas dos Estados Unidos.

Elizabeth confirma a tendência e lembra que o setor está num momento de expansão no comércio com os países nos quais já atuava. Até meados de 2018, o Brasil passará a produzir mais 5,5 milhões de toneladas de celulose. Ela lembra que a China passou, desde julho de 2016, a ser o principal destino do insumo brasileiro, ultrapassando os países europeus. Entre 2013 e 2016, o país asiático saltou de 30% para 39% em participação no valor das exportações, atingindo no último ano um volume de US$ 2,1 bilhões.

“Vale ressaltar que o Brasil já é referência mundial em celulose. Fomos o país que mais se desenvolveu no quesito rendimento florestal, realizando investimentos contínuos em tecnologia, silvicultura e manejo, que permitiram triplicar o índice de produtividade florestal nas últimas três décadas”, diz. Não por acaso, a produtividade média dos plantios de eucalipto no Brasil é superior a 36 m3/ha ano, bem maior que a do segundo colocado, a China.

Em 2016, o faturamento do setor de celulose apresentou aumento de 0,6%. O de papel cresceu 6,6%. E o dos painéis de madeira deu um salto de 30,9%

PAPEL: O portfólio da Suzano é composto por quatro linhas do produto e mais de 20 marcas diferentes

Um período de recordes

O ano de 2016 foi de produção campeã no mercado global de papel e celulose, traduzido em resultados positivos para as empresas brasileiras

O setor desconhece o significado da palavra crise. Sinal disso é que o ano passado foi marcado pelo anúncio de um novo recorde mundial de produção e venda de celulose no mercado: a movimentação chegou a 3,5 milhões de toneladas. Para as companhias nacionais, mercado em alta significa resultados positivos. Foi o caso da Suzano Papel e Celulose, primeira colocada no ranking Estadão Empresas Mais na categoria. No ano passado, a companhia alcançou R$ 2,75 bilhões em geração de caixa operacional, resultado conquistado também pela política de controle de custos e despesas adotada pela empresa.

Novos modelos de negócio, redução de custos, crescimento nas vendas e parcerias com startups e universidades têm sido algumas das razões dos bons resultados alcançados pelas líderes do segmento

Somente no segmento papel, a geração de caixa operacional da Suzano chegou a R$ 960 milhões, muito disso em razão do Programa Suzano Mais. “Um novo modelo de negócio que permitiu a ampliação de nossa base de atendimento para mais de 35 mil clientes ativos”, explica Walter Schalka, CEO da instituição, destacando também uma redução de 3% no custo/caixa de produção de celulose, que no último trimestre de 2016 chegou a R$ 570 por tonelada.

“Chegamos ao final de 2016 com o menor custo/caixa de produção de celulose da indústria brasileira”, comemora o executivo. E Schalka aposta que os bons resultados devem se manter em 2017, ano em que a Suzano deve concluir o processo de migração para o novo mercado e continuar focando seus esforços no que chama de três pilares estratégicos: redesenho da indústria, competitividade estrutural e negócios adjacentes.

A Fibria, segunda colocada na categoria, também não tem do que reclamar. A companhia registrou em 2016 volume de vendas de 5,5 milhões de toneladas, 8% a mais que no ano anterior. Boa parte do resultado é creditada ao crescimento na demanda global por celulose de eucalipto, ao baixo nível de estoques e à perspectiva de curto prazo mais balanceada sobre a entrada de novas capacidades. Estes fatores levaram a empresa a registrar o maior volume trimestral de vendas de sua história, no final do ano passado.

Para manter o ritmo, a Fibria implementou agora uma plataforma de inovação aberta, chamada Fibria Insight, que tem o objetivo de estimular o trabalho e a parceria com startups, empresas, universidades e centros de pesquisas na busca por novas ideias, soluções, tecnologias e desenvolvimento de novos negócios.
Na terceira colocação do ranking, a Eldorado Brasil fechou 2016 com um volume de produção de 1,6 mil toneladas, 3% acima do registrado em 2015, o que lhe garantiu lucro líquido de R$ 288 milhões e EBITDA de R$ 1,6 bilhão. Para o presidente da empresa, José Carlos Grubisich, o resultado é reflexo da obstinação dos profissionais da empresa, que buscam fortemente a excelência operacional, o equilíbrio e a responsabilidade no uso dos recursos.

“Com apenas quatro anos e meio de operação, a Eldorado já é uma das mais competitivas do setor e se tornou referência”, afirma Grubisich, destacando a relação direta com os clientes, o portfólio diversificado e o foco em parceiros com alto potencial de crescimento como fatores-chave para o desenvolvimento. Tanto é assim que, de janeiro a março deste ano, a empresa conquistou a maior produção trimestral desde o início de suas operações, com 433 mil toneladas de celulose. Por tudo isso, Grubisich avalia que as expectativas para o desempenho do setor e da companhia são muito positivas. “Acreditamos que a demanda por fibra de eucalipto continuará a crescer acima das demais fibras, pela elevada percepção de valor em relação às suas características técnicas por parte dos diversos segmentos produtores, com destaque para o lenço de papel e algumas especialidades”, diz.

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