Em busca de um futuro mais sólido
Empresas do segmento enfrentam algumas crises internas e externas e, juntas, torcem por uma recuperação
Mesmo atuando no que parecem ser três setores distintos, essas companhias têm muitos pontos comuns: todas trabalham na base da economia e dizem estar vivendo em 2016 e 2017 os piores anos de suas histórias. As causas variam desde a queda do valor global do barril até o desaquecimento do mercado interno. Muda também a duração da crise. Para o setor de petróleo, por exemplo, os anos de 2012 e 2013 representaram bons momentos. “Não dependemos do mercado local, mas a queda do preço nos afetou tremendamente”, afirma Antonio Guimarães, secretário executivo de E&P do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP).
A redução do custo foi agravada ainda pelo excesso de concentração de comércio na Petrobras e pela falta de visibilidade sobre questões fiscais, o que, segundo Guimarães, tornou o ano passado ruim e fez crer que 2017 deve ser o pior ano do setor desde 1970. “Chegamos ao fundo do poço”, acredita. Quando se fala das empresas de cimento, a situação não é muito diferente. O presidente do Sindicato Nacional das Indústrias do Cimento, Paulo Camillo Pena, lembra que o período mais exuberante dessas companhias ocorreu entre 2004 e 2014. “Praticamente dobramos nossa demanda – de 35 milhões de toneladas para 71 milhões de toneladas”, diz. Nos dois anos seguintes, porém, o segmento acumulou perdas de 19%.
Na área de mineração, também houve decréscimo, mas as companhias demonstram mais otimismo. O diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Walter Alvarenga, aponta que o faturamento caiu 7,5% em 2016. “No entanto, houve manutenção dos volumes de produção dos principais bens minerais produzidos no País”, lembra, ressaltando que boa parte da queda veio da redução no preço internacional das commodities minerais, com a manutenção do volume de vendas.
O fato é que o Brasil é um grande exportador de bens minerais. Segundo dados do Ibram de 2016, o setor de mineração exportou quase 400 milhões de toneladas e gerou para o Brasil divisas de mais de US$ 21,6 bilhões. O desempenho do segmento é fundamental para o superávit comercial do Brasil. “Em 2016, o saldo total do Brasil foi de US$ 47,6 bilhões e o setor mineral contribuiu com US$ 16,1 bilhões, ou seja, representou 33% da balança comercial”, contabiliza.
Busca de alternativas
Enquanto tentam sobreviver à crise, os setores buscam alternativas dentro e fora de casa. As empresas de petróleo, por exemplo, acreditam que ações recentes adotadas pelo governo federal, como a reabertura dos leilões, podem trazer bons resultados. “Será uma guinada do ponto de vista político, mas há uma curva de maturação dos investimentos. Eles devem demorar um pouco mais. Será mais significativo em 2019 e de 2020 em diante teremos isso mais encaminhado”, aposta Guimarães.
No caso das indústrias de cimento, a aposta se mantém na redução de custos até que o mercado interno retome seu crescimento. Neste caminho, o setor tem sido pioneiro no uso de energias alternativas, em substituição aos derivados de petróleo, acelerando o consumo de biomassa, como carvão vegetal, casca de arroz e casca de babaçu, que hoje representam 7% dos combustíveis utilizados.
Já na área de mineração, o objetivo é manter volumes e ampliar o faturamento. Alvarenga lembra que o Brasil possui diversidade de quase 200 tipologias e de grande destaque mundial. “Grandes empresas de pesquisa e investidores estão aguardando a retomada econômica e política do Brasil para incrementarem suas atividades no setor mineral”, diz.
A produção de cimento saltou de 35 milhões de toneladas para 71 milhões entre 2004 e 2014. Em 2016, porém, o setor fechou o ano com 57,5 milhões de toneladas
Foco em novos mercados
As empresas do setor de mineração, cimento e petróleo investem na ampliação de sua capacidade produtiva como forma de diversificar fontes de receita e escapar da crise
As campeãs do ranking Estadão Empresas Mais na categoria apresentaram ao longo de 2016, e neste ano, uma tremenda capacidade de reação frente à crise econômica e à instabilidade política. Diante do recuo do mercado local, elas foram em busca da diversificação, investindo pesado no aumento de produtividade para atender novos mercados. Foi o caso da Vale, líder do ranking na categoria e maior produtora mundial de minério de ferro e níquel. A companhia fechou o ano passado com lucro líquido de US$ 4 bilhões, EBITDA ajustado de US$ 12,2 bilhões e recorde de produção em minério de ferro, níquel, cobre, cobalto, ouro e carvão. Além do bom resultado, a Vale iniciou em 2016 o chamado projeto S11D, maior complexo minerário da história da companhia, com capacidade nominal de 90 milhões de toneladas.
Crescimento na produção de minério de ferro, níquel, cobalto, ouro, carvão, petróleo e gás natural e abertura de novas fábricas de cimento possibilitaram o reaquecimento do segmento
Já em 2017, a companhia passou por uma mudança de diretor presidente em maio, o que a fez revisitar sua estratégia. O recém-empossado Fabio Schvartsman já anunciou que a geração de valor na Vale será baseada em quatro pilares: performance (revisão dos ativos com geração de caixa negativa, retorno do capital empregado, gestão matricial de custos e eliminação de silos); estratégia (diversificação de geração de caixa operacional, desalavancagem e pagamento de dividendos); governança (transformação da Vale em corporação e mudanças no conselho administrativo); e sustentabilidade (ser reconhecida como a companhia mais sustentável do setor).
A segunda colocada na categoria foi a Repsol Sinopec, joint-venture entre a espanhola Repsol e a chinesa Sinopec e uma das maiores produtoras de petróleo e gás natural do Brasil. Atuando há 20 anos no mercado brasileiro, a companhia registrou em 2016 seu melhor resultado desde 2010, com receita líquida de mais de R$ 3,08 bilhões, 4% a mais que em 2015. O CEO da companhia, Leonardo Junqueira, atribui o resultado ao aumento de produção de petróleo e gás conquistado com o início das atividades do campo de Lapa, na bacia de Santos.
Além disso, a Repsol Sinopec superou a marca de 85 mil barris de óleo equivalente produzidos por dia, o que a consolidou como um dos atores mais relevantes no setor de petróleo e gás do Brasil, figurando entre as empresas com maior produção no País. “Fechamos 2016 com 23,1 milhões de barris de óleo equivalente”, ressalta, lembrando que outro fator importante para o resultado foi a implementação do Programa de Eficiência de Custos, que é parte do plano estratégico 2016-2020 do grupo Repsol e tem o objetivo de buscar eficiência operacional e organizacional para as empresas do grupo. Para este ano, a companhia segue trabalhando na consolidação de seus ativos no País, principalmente em atividades remanescentes para o desenvolvimento do campo de Lapa e em atividades para preparar o desenvolvimento de Pão de Açúcar, uma das áreas mais promissoras para produção de gás no pré-sal brasileiro.
Na Votorantim Cimentos, terceira colocada entre os destaques da categoria, o ano de 2016 foi marcado pelo enfrentamento na crise, principalmente no mercado de construção civil. De acordo com o CEO da companhia, Walter Dissinger, a estratégia adotada foi a diversificação geográfica, com foco em mercados desenvolvidos (Estados Unidos e Canadá) e com alto potencial de crescimento (Europa, Ásia e África).
“Em 2016, como parte do nosso plano de investimentos, inauguramos uma nova fábrica em Primavera (Pará), que adicionou à capacidade de produção da empresa 1,2 milhão de toneladas de cimento por ano, e uma em Yacuses (Bolívia), que começou a operar no último dezembro com capacidade de 1,1 milhão de toneladas por ano. Neste ano, inauguramos uma nova unidade em Sivas, na Turquia”, comenta.