Contra o sucateamento da indústria

Diante da maior crise da história, o setor procura meios de incentivar a renovação do parque de máquinas nacional e aumentar a competitividade internacional

“Estamos atravessando a maior, pior e mais duradoura crise econômica da nossa história.” Assim, João Marchesan, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), descreve o momento do setor. Falta de investimentos, redução nas vendas, desemprego, juros elevados e falta de condições de competitividade são apenas alguns dos obstáculos a serem vencidos pela indústria, que experimenta o terceiro ano consecutivo de queda nos resultados.

Os números traduzem bem o cenário: o faturamento da indústria, que em 2013 chegou a R$ 160 bilhões, despencou 50%, encerrando 2016 em R$ 80 bilhões. “No fim do ano passado, a perspectiva para 2017 era de um início de retomada. O que estamos vendo até aqui, no entanto, é um novo encolhimento”, diz Marchesan, revelando que o faturamento previsto para o exercício é de, no máximo, R$ 65 bilhões. As exportações também estão em queda livre: os US$ 14 bilhões registrados em 2014 caíram para US$ 9 bilhões em 2016, e não devem ultrapassar a casa dos US$ 8 bilhões em 2017. Até o final de junho, segundo a Abimaq, foram exportados US$ 4 bilhões.

Estimular os investimentos
Independentemente da indústria, esse desempenho seria motivo de preocupação. Quando falamos do setor de máquinas e equipamentos, porém, o cenário ganha contornos ainda mais preocupantes. Isso porque trata-se de um segmento que respondia por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil – atualmente esse índice não passa de 10%. Mais do que isso, era um mercado que empregava 380 mil pessoas em 2012, número que deve chegar a 290 mil neste ano. “Se considerarmos que a indústria de máquinas e equipamentos tem o potencial de multiplicar por 10 os seus resultados sobre toda a cadeia, perder 90 mil empregos significa gerar corte de 900 mil postos de trabalho na economia”, contabiliza Marchesan.

Como não adianta reclamar sobre o leite derramado, o setor deixa de lado o retrovisor para olhar adiante. Segundo o presidente da Abimaq, é preciso que iniciativa privada e governo estimulem investimentos em máquinas e equipamentos. “O Brasil precisa voltar a investir de 20% a 25% de capital. Enquanto isso não acontecer, não teremos crescimento”, garante Marchesan, destacando que atualmente o índice de investimentos é inferior a 15%.

Sob o risco de viver a desindustrialização do País, o setor tem conversado incansavelmente com representantes do governo em busca do estabelecimento de regimes especiais. “Hoje a indústria brasileira não consegue competir em condições iguais com as concorrentes de fora. Isso é um absurdo”, avalia Marchesan, citando questões como a falta de conteúdo reservado para as empresas locais, o dólar pouco competitivo e a alta carga tributária sobre os equipamentos nacionais. “São erros da equipe econômica, que tem visão míope, de curto prazo e não está olhando o interesse maior do brasileiro, que é geração de emprego e retomada do crescimento”, afirma Marchesan.

Outro fator preocupante está na falta de renovação das máquinas no País. Segundo a Abimaq, a idade média do parque instalado é de 15 anos, enquanto países desenvolvidos renovam seus equipamentos, em média, a cada cinco anos. “A área está perdendo forças e ficando anêmica. Se não mudarmos o curso, quando a economia começar a se recuperar, a indústria não conseguirá acompanhar”, alerta Marchesan. “É preciso mudar o curso – e rápido. É preciso promover a reindustrialização do Brasil”, conclui o presidente da Abimaq.

O setor já foi responsável por 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Atualmente, esse índice não passa de 10%

WEG: 60% dos investimentos são realizados fora do Brasil

Bases para a retomada

Para contornar os efeitos da instabilidade econômica e política em seus resultados, empresas apostam em inovação, diversificação do portfólio e internacionalização

A WEG Equipamentos, dona do primeiro lugar da categoria e grande vencedora do ranking Estadão Empresas Mais deste ano, enfrenta desde 2014 o desafio de se manter em crescimento. Harry Schmelzer, presidente da empresa, revela, que quando os primeiros sinais de turbulência surgiram, a WEG decidiu compensar as perdas locais com a estratégia de perseguir cada vez mais o mercado internacional, que hoje responde por 57% de suas receitas, e trazer para sua cesta novos produtos e negócios, sempre em sinergia com a origem da empresa.

A Jacto, segunda colocada do ranking, é reconhecida pela inovação que embute nas máquinas de agricultura de precisão. E é justamente na inovação que a companhia vem apostando suas fichas – e colhendo bons frutos –, mesmo em tempos de recessão econômica. Em 2016, por exemplo, a Jacto lançou dois modelos de pulverizadores e, no primeiro semestre deste ano, colocou no mercado um novo modelo de adubadeira. Todos os novos equipamentos contam com recursos para agricultura de precisão e são conectados ao mundo digital, preparados com tecnologia de inteligência de dados, nuvem e internet das coisas (IoT, na sigla em inglês).

Investimentos constantes em Pesquisa & Desenvolvimento fazem com que as empresas sempre ofereçam novos equipamentos que proporcionam maior rentabilidade

Fernando Gonçalves, presidente da Jacto, revela que a empresa investe em torno de 5% de seu faturamento em atividades de pesquisa e desenvolvimento. “Essa é uma preocupação constante para podermos oferecer tecnologias acessíveis aos produtores e condizentes com as necessidades atuais da agricultura”, afirma o executivo. Fundada em 1948 na cidade de Pompeia, no interior do Esta- do de São Paulo, tem como um de seus lemas estar sempre ao lado do produtor. “Isso se traduz de muitas formas na filosofia da empresa”, afirma Gonçalves. “Uma delas é tratar como prioridade o atendimento das demandas do nosso público. Assim, nosso investimento constante em P&D está focado em apresentar ao mercado equipamentos voltados à redução de custos de produção, proporcionando rentabilidade maior ao produtor”, acrescenta Gonçalves.

Mercado externo
Essa preocupação contínua da Jacto com inovação levou a companhia a registrar crescimento mesmo em tempos nos quais a confiança do agricultor na economia está abalada. A empresa registrou receita líquida de R$ 1,07 bilhão em 2016, 13% maior que em 2015. A Jacto participa com aproximadamente 70% desse total e o mercado externo respondeu por cerca de 25% dos negócios da companhia no ano passado.

A inovação e o desenvolvimento de novos produtos, somados à ampliação da carteira de clientes, também foram determinantes para que a fabricante de compressores de ar Schulz, terceira colocada no levantamento, chegasse ao resultado positivo em 2016, de acordo com Ovandi Rosenstock, presidente da companhia. A Schulz lança cerca de 15 produtos por ano, além de promover desenvolvimento conjunto, por meio da engenharia simultânea com clientes, de cerca de uma centena de novos itens.

Rosenstock ainda cita o planejamento estratégico de longo prazo da Schulz, o planejamento orçamentário consolidado e o compromisso de gestores e colaboradores com as estratégias definidas
como fatores essenciais para o sucesso dos negócios da companhia. Embora acredite em um 2017 difícil, a Schulz apresentou aumento de 10% nos resultados do primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2016. “Esperamos que o crescimento se mantenha, concretizando o que havíamos planejado”, finaliza o presidente da companhia.