Ainda não será desta vez

Afetadas pela turbulência econômica que atingiu o País, as empresas do segmento acreditam que o cenário deve melhorar apenas em 2018

Não é exagero dizer que, nos últimos três anos, o setor tem respirado por aparelhos. Desde 2014, a construção civil já acumulou recuo de 13,8%, exatamente o dobro do registrado pelo Produto Interno Bruto (PIB) nacional no mesmo período, cuja queda foi de 6,9%. Em um longo período de retração econômica, mesmo quando empresas do setor não estão no centro das atenções da crise política, a indústria da construção civil é um dos segmentos mais atingidos. A situação se mostra ainda mais grave quando as dificuldades repercutem em toda a cadeia produtiva, alcançando indústria e comércio de materiais de construção, serviços, máquinas e equipamentos, além de outros fornecedores, como acontece agora.

“O panorama está muito difícil”, comenta José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), entidade que reúne mais de 80 empresas que atuam no setor. “A prosperidade do nosso negócio está diretamente ligada à credibilidade. No cenário em que estamos vivendo, quem vai se aventurar a comprar apartamento, reformar a casa ou construir uma nova fábrica sem expectativa de arcar com o investimento?”, acrescenta o presidente da CBIC, reforçando que no atual cenário a insegurança do brasileiro aumenta em todas as áreas, o que faz com que se coloque o pé no freio e desacelere eventuais planos de expansão.

Queda na taxa Selic
Diante desse panorama, o importante é buscar soluções e alternativas para que, aos poucos, a indústria da construção volte a respirar, crescer, prosperar e gerar empregos. Nesse sentido, o mercado recebeu como alento a recente redução da taxa básica de juros (Selic) para 9,25%.

Se nos próximos meses cair ainda mais, chegando aos 7,5%, por exemplo, haverá um forte estímulo para a compra de ativos reais, como imóveis, fazendo com que a engrenagem que move a nossa indústria comece a girar um pouco mais”, explica José Carlos Martins. Junte a isso o fato de que o mercado imobiliário também pode vir a receber cerca de 20% a mais do que em 2016, por meio de recursos atrelados à caderneta de poupança e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Já que as grandes obras de infraestrutura que o Brasil precisa não devem sair do papel antes de 2018, o setor da indústria da construção tem se animado com a possibilidade de começar a tocar obras menores relacionadas a concessões públicas municipais, por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs). “Acreditamos muito no potencial desse modelo, pois são obras necessárias relacionadas a saneamento básico, gestão de resíduos sólidos, mobilidade urbana, iluminação pública, entre outros empreendimentos menores”, explica o presidente da CBIC.

Como, ao que tudo indica, o ano de 2017 não trará grandes resultados positivos para o setor, as esperanças ficam à espera de 2018. Até lá, a economia deve voltar a crescer, assim como o emprego, melhorando, consequentemente, o índice de confiança dos consumidores.

Como as grandes obras de infraestrutura não devem sair do papel, o setor vê com otimismo as concessões municipais por meio das Parcerias Público-Privadas (PPPs)

HABITAÇÕES POPULARES: O segmento tem apresentado crescimento contínuo nos últimos anos

Aposta na baixa renda garante bons resultados

Planejamento estratégico, redução de custo e aumento da exportação foram algumas das saídas para driblar a retração econômica

A empresa líder deste ano no estudo Estadão Empresas Mais na categoria Indústria da Construção Civil é relativamente nova. Fundada em Belo Horizonte (MG) em 1979, ela soma 38 anos de atuação no mercado imobiliário, tendo se especializado, ao longo dos anos, na construção de habitação voltada à baixa renda. Seus apartamentos possuem, em média, 45 metros quadrados de área interna e custo aproximado de R$ 150 mil por unidade. Claro que, em algumas localidades, como São Paulo, por exemplo, esse valor pode ser mais alto. “Não é novidade para ninguém que o cenário econômico dos últimos anos na área da construção civil está horrível”, diz Eduardo Fischer, presidente da MRV Engenharia. “Apesar disso, o segmento para baixa renda no Brasil cresce constantemente. O País tem um enorme déficit habitacional. Estima-se que, a cada ano, 1 milhão de famílias precisem de um novo lar. Como a demanda é muito forte e há grandes fontes de financiamento, como o Fundo de Garantia (FGTS), acabamos por sofrer menos. Nesse cenário, podemos dizer que 2016 foi muito bom e 2017 está ainda melhor”, acrescenta o presidente da MRV.

O Brasil possui um déficit habitacional enorme. Os números indicam que, a cada ano, 1 milhão de famílias precisam de um novo lar

Um dos motivos desse bom resultado aferido em um momento em que diversas empresas passam por retração é o fato de que, há cerca de três anos, a construtora tomou uma decisão estratégica que se mostrou acertada: investiu pesadamente na compra de terrenos, o que fez com que esteja presente em 148 municípios de 22 Estados e no Distrito Federal. “Também temos investido bastante em tecnologia e na formação de pessoas, o que tem sido fundamental para a operação. Tudo isso fez com que conseguíssemos um bom crescimento nos últimos anos, o que trouxe ganho de eficiência e crescimento da margem”, observa Eduardo Fischer.

A segunda colocada na categoria é a Elevadores Atlas Schindler. “A companhia trabalha com visão de longo prazo e de forma muito sólida. Estamos preparados para o momento difícil da economia, focando em importantes pontos para manter nossa competitividade e, consequentemente, nossa liderança no País”, afirma Andre Inserra, CEO das Américas da Atlas Schindler. “Antes de qualquer iniciativa pontual, de acordo com o mercado que estamos vivendo, nossa preocupação com pessoas é muito forte. Investimos continuamente em treinamento e o engajamento de nossos colaboradores é muito alto”, destaca Inserra. Entre outros pontos, ele cita a busca constante pela qualidade, tanto em relação à tecnologia como em serviços. “A Atlas Schindler passou a ser a única plataforma de exportação para toda a América Latina. Esta foi uma decisão tomada nos últimos anos e que contribuiu para manter nossos níveis de crescimento. Entre os principais países para os quais exportamos estão México, Chile e Argentina. Acreditamos no Brasil e queremos sempre aprimorar nossa operação. Por isso, nosso plano de investimento de R$ 100 milhões para os próximos anos será mantido”, acrescenta o executivo.

O terceiro destaque é a Thyssenkrupp Elevadores, que também teve de se adaptar aos novos tempos. “Em um ano afetado pela crise, a empresa compensou suas receitas com o aumento das exportações, obras de infraestrutura e serviços”, diz Paulo Henrique Estefan, vice-presidente comercial e de modernização da área de negócios Elevator Technology, da Thyssenkrupp para o Brasil. Estefan também afirma que a empresa teve de fazer uma adequação do portfólio de produtos à nova realidade de mercado, manter administração rigorosa de custos, apostar nas iniciativas de inovação, ampliar a atuação para a América Latina e ter uma operação descentralizada, mais próxima do cliente.

 

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