É cedo para falar em retomada

Ainda distante de recuperar resultados ruins dos últimos anos, setor aguarda definições da agenda tributária para traçar estratégias

Indústria Elétrica e Eletrônica brasileira registrou em 2016 um dos piores resultados de sua história. O setor, que já vinha desacelerando desde 2014, quando experimentou queda de quase 10% no faturamento em relação ao ano anterior, no ano passado viu sua receita encolher outros 13% na comparação com 2015, atingindo R$ 129,4 bilhões. As exportações também diminuíram 5%, totalizando US$ 5,6 bilhões no período. E o pior: o setor precisou cortar 6% dos postos de trabalho, fechando o ano com 232,8 mil empregos, cerca de 60 mil vagas a menos do que em 2014.

Se 2016 foi um ano para ser esquecido, os resultados registrados até o final do primeiro semestre indicam que 2017 pode ser um pouco melhor, embora analistas ainda não se arrisquem a falar em retomada de crescimento. Dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) revelam um pequeno aumento (1.800) no número de postos de trabalho da indústria entre dezembro de 2016 e junho de 2017. O receio de falar em recuperação se deve ao fato de que a curva de desempenho, que vinha subindo desde janeiro, mudou sua trajetória no final do semestre.

Tempo de investir
A sondagem da Abinee, atualizada em julho, projeta crescimento médio de 3% para a indústria em 2017, quando o faturamento deve ficar em torno de R$ 133,4 bilhões. Os resultados serão puxados pelos avanços nos setores de utilidades domésticas (7%), telecomunicações (4%), equipamentos industriais (4%) e automação industrial (4%). De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom), também para o setor de telecomunicações e tecnologia da informação e comunicações (TIC), que compreende hardware, software e serviços, o ano não trará a recuperação esperada. Entre 2005 e 2015, o segmento registrou crescimento médio anual acima dos 10%. A partir de 2016, porém, não resistiu e começou a sentir os efeitos da crise, que devem se estender também em 2017.

Em 2016, software e serviços de TLC se mantiveram estáveis na comparação com 2015, com faturamento em torno de R$ 82,4 bilhões. O segmento de hardware, por sua vez, teve queda de 8% em relação ao exercício anterior, encerrando 2016 com receita de R$ 65,1 bilhões. Para 2017, a Brasscom prevê crescimento entre 2% e 3%. Sérgio Paulo Gallindo, presidente da Brasscom, avalia que o incremento se deve em boa parte à característica do setor de receber investimentos para lidar com as situações vigentes, sejam elas de aceleração ou desaceleração econômica. “Quando a economia vai bem, pessoas e empresas investem para absorver o crescimento, expandir vendas, criar filiais, entre outras iniciativas de expansão. Em tempos de recessão, investe-se para gerenciar melhor a crise, reduzir custos, otimizar a gestão orçamentária e melhorar processos”, explica.

No entanto, Gallindo alerta para a questão da insegurança jurídica na indústria, gerada pela conturbada agenda tributária. Ele cita a imposição do ICMS sobre software no Estado de São Paulo, que gerou bitributação, já que as empresas já eram tributadas por seus municípios. Além disso – e mais importante –, o executivo fala da Medida Provisória 774/2017, que revê a política de desoneração da folha salarial das empresas do setor, em vigor desde 2011. Segundo ele, a reoneração da folha de pagamentos pode fazer toda a diferença. “Desde 2011, a desoneração permitiu ao setor contratar 94 mil empregados (até 2015). Também se somou R$ 4,2 bilhões às arrecadações na comparação com o valor recorrente de 2011. Não faz sentido reonerar”, observa Gallindo.

O segmento de tecnologia e telecomunicações tem potencial para gerar 20 mil novos empregos nos próximos três anos

WHIRLPOOL: De suas linhas de produção saíram equipamentos que estão em cerca de 100 milhões de lares brasileiros

De olho nas oportunidades

Empresas entram em novos nichos e aproveitam tendências de mercado para lançar produtos e investir em inovação

Dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, a Whirlpool foi o grande destaque da categoria Eletrodomésticos, Eletrônicos e Informática. Não significa, no entanto, que a companhia tenha passado com tranquilidade por 2016. Longe disso, sentiu, a exemplo do setor, os reflexos do período de recessão vivido pelo Brasil. Para tentar amenizar os impactos do conturbado cenário político e econômico do Brasil, a Whirlpool manteve foco e investimentos em inovação. “Destinamos de 3% a 4% do nosso faturamento anual a atividades de pesquisa e desenvolvimento”, afirma João Carlos Brega, presidente da Whirlpool Latin America. “A inovação é propulsora de tudo o que fazemos”, completa.

Aquisições, inaugurações de novas plantas e aumento da capacidade produtiva são algumas das formas encontradas para preparar as empresas para os próximos anos

A empresa não abre os resultados, mas afirma que seus produtos estão em cerca de 100 milhões de lares brasileiros. Atualmente, a Whirlpool conta com cerca de 11 mil funcionários no País, distribuídos entre o centro administrativo e as fábricas localizadas em Joinville (Santa Catarina), Manaus (Amazonas) e Rio Claro (São Paulo), além de 23 laboratórios de pesquisa e desenvolvimento e quatro centros de tecnologia. Embora não faça previsões para 2017, João Carlos adianta que a Whirlpool não deve mudar a rota de seus planos, apenas ajustá-la. “Não abrimos mão da liderança das marcas e produtos e da excelência operacional e de pessoas”, indica o executivo. “Como todos os anos, esperamos surpreender os consumidores com novos serviços e produtos”, antecipa.

Sentido contrário
Na contramão do mercado, Intelbras e Multilaser, segunda e terceira colocadas, viram seus resultados crescerem em 2016. E, melhor do que isso: planejam novo incremento dos negócios em 2017. A Intelbras registrou faturamento de R$ 1,3 bilhão em 2016, 16% superior ao de 2015. No ano em que celebrou 40 anos, a empresa consolidou sua liderança no mercado de switches e centrais telefônicas e, no segmento de segurança eletrônica, bateu a marca de 1 milhão de DVRs (gravadores que acompanham as soluções de circuito fechado de televisão) vendidos. Ainda na área de segurança, ingressou nos mercados de incêndio e iluminação, fortalecendo sua marca como opção de fornecedor de segurança para condomínios.

Altair Angelo Silvestri, presidente da Intelbras, diz ainda que a companhia aposta na diversificação de negócios, tanto que investiu em conversores digitais e antenas, aproveitando a demanda gerada pelo recente desligamento do sinal analógico. Silvestri não faz previsões pontuais para 2017, mas observa que os mercados nos quais a empresa atua de forma geral vêm apresentando bons resultados. “O segmento de segurança eletrônica tem boas perspectivas de crescimento. Para o setor de provedores, que chega a superar a marca de 30% de crescimento ao ano, ampliamos a oferta de soluções e, em telecom, nossa liderança em centrais telefônicas se consolida a cada ano”, detalha.

Na Multilaser, o faturamento aumentou 36% de 2015 para 2016, quando chegou a R$ 1,3 bilhão. “Foi um crescimento pautado nos mais de 300 produtos lançados ao longo do ano, no ganho de market share em importantes linhas, como smartphones e automotiva, além da consolidação da liderança em linhas de tablets e acessórios de informática”, resume Crisley Brizzi, diretora de marketing da Multilaser. Para a executiva, os pilares de preços justos e as parcerias nos quais a empresa baseia seus negócios foram cruciais para o bom desempenho. “Esses pilares trouxeram importantes decisões de desenvolvimentos de produtos cada vez mais específicos para atender a necessidade dos consumidores, com o preço que cabe no bolso do brasileiro”, afirma Crisley.

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