Internacionalizar e diversificar: uma receita que deu certo
Para escapar dos efeitos da instabilidade econômica, a WEG Equipamentos montou uma estratégia de sucesso e continua investindo em novos negócios
A WEG Equipamentos é a grande vencedora do ranking Empresas Mais 2017. Para se destacar entre as milhares de companhias brasileiras de todos os setores da economia, a empresa demonstrou tremendo poder de resistência à crise que afetou o mercado ao longo do ano passado e que ainda mostra seus efeitos neste ano. A receita para enfrentar turbulências é apostar na internacionalização e na diversificação de sua produção. É claro que a WEG, assim como todas as indústrias de bens de capital, vem sendo impactada desde 2014 por fatores como queda nos investimentos locais e recuo nos preços de petróleo e mineração, que reduziram investimentos em nível global. “Desde 2014 estamos enfrentando o desafio de nos manter em crescimento”, afirma o presidente da empresa Harry Schmelzer.
E o trabalho não tem sido fácil. O executivo reconhece que, em 2016, a receita da companhia decresceu 4%, mas ao mesmo tempo o lucro percentual foi mantido. Como isso foi feito? Quando os primeiros sinais de turbulência surgiram, a WEG decidiu compensar as perdas locais com a estratégia de perseguir cada vez mais o mercado globalizado, que hoje responde por 57% de suas receitas, e trazer para sua cesta novos produtos e negócios, sempre em sinergia com a origem da empresa.
Fundada em 1961, a WEG atua principalmente no setor de bens de capital e é um dos maiores fabricantes mundiais de equipamentos eletroeletrônicos, operando em cinco linhas principais: Motores, Energia, Transmissão & Distribuição, Automação e Tintas. Com operações industriais em 12 países, a companhia atende todos os segmentos da indústria, incluindo petróleo e gás, mineração, infraestrutura, siderurgia, papel e celulose, energia renovável, entre muitos outros. Com mais de 29 mil colaboradores, a WEG atingiu faturamento líquido de R$ 9,4 bilhões em 2016. “Estabelecemos estas duas grandes direções: internacionalização e ampliação do escopo de produtos”, diz Schmelzer, reconhecendo que a estratégia não permitiu que a empresa crescesse em 2016. Ainda assim, o saldo é positivo, em comparação com 2014. “Gostaríamos de estar evoluindo mais, mas essas iniciativas compensaram as perdas nos negócios maduros”, diz.
Não por acaso que, em 2017, a empresa voltou a crescer no Brasil e no mercado externo. Por aqui, o percentual foi de 1,2%, sinal de que o cenário começa a melhorar. O executivo destaca que a WEG é avaliada hoje em R$ 31 bilhões, o que consolida seu reconhecimento. Parte da estratégia adotada pela WEG nos últimos dois anos tem foco na diversificação de seu portfólio de produtos. No Brasil, isso se traduz em investimentos em novos negócios. Essa tática já é uma marca da companhia. Schmelzer lembra que os fundadores da empresa começaram fabricando motores elétricos e hoje produzem uma ampla linha de elementos de máquinas elétricas e eletrificação, automação industrial, infraestrutura e energia.
Esta última, aliás, é uma das áreas que vêm ganhando destaque dentro da WEG, que já produzia geradores e, nos últimos três anos, passou a fabricar também equipamentos para geração de energia renovável. “Compramos plantas e tecnologia e avançamos para a produção de turbinas para sistemas de geração de energia de fonte hidráulica e geradores eólicos. Esses negócios nos levaram a crescer, compensando muitas coisas que deixaram de acontecer em outros setores”, revela.
Agora a empresa tem dedicado parte de seus investimentos para a área de energia solar, onde Schmelzer conta já ter contratos fechados na ordem de R$ 450 milhões. Aqui, a atuação vai desde fazendas solares até energia solar distribuída. No setor de energia, os braços da WEG vão além: a companhia está trabalhando na produção de sistemas de armazenamento de energia, automação da medição, distribuição e cobrança (smart meetering) e na produção de veículos elétricos.
Mercado externo
A empresa não fabrica o carro em si, mas já conta com o chamado “powertrain” (principais componentes para geração de energia) em funcionamento com parceiros brasileiros – basicamente fabricantes de carrocerias e sistemas elétricos para ônibus. “Acredito que o Brasil pode ser inovador fabricando ônibus e caminhões elétricos para transporte urbano. Estamos investindo nisso também para mostrar aos governantes e investidores que temos muito potencial e podemos exportar produtos e tecnologia para esse tipo de negócio”, provoca, lembrando que não imagina a companhia deixando os motores elétricos de lado.
O outro pilar que sustenta o crescimento hoje é o mercado internacional. A empresa vende para mais de 100 países e tem 38 fábricas instaladas em 12 países: Brasil, Argentina, Colômbia, México, Estados Unidos, Portugal, Áustria, Alemanha, Espanha, China, Índia e África do Sul. As fábricas no México e na China contam com 3 mil e 2 mil colaboradores, respectivamente. Com o acirramento da crise no Brasil, a WEG redirecionou seus investimentos e hoje 60% deles são realizados fora do Brasil. Como resultado, a companhia conquistou, nos últimos dois anos, posições importantes de market share com quase todos os produtos que comercializa, mas ainda há oportunidades, como o mercado norte-americano de motores para aplicações de uso comercial. A WEG já estava no setor, mas, com a crise por aqui, decidiu avançar mais rapidamente.
“Em 2016, adquirimos a Bluffton Motor Works, especializada em motores para esse tipo de aplicação. A aquisição acelerou nosso avanço nesse mercado”, diz Schmelzer, lembrando que o negócio trouxe três ou quatro segmentos onde a WEG não atuava, além de um quadro pessoal que vai adicionar conhecimento de demanda e produto para toda a companhia. Também nos Estados Unidos, a WEG adquiriu em 2016 uma empresa de transformadores focada em energia eólica e solar, segmento em que não atuava nos Estados Unidos, e, neste ano, uma fábrica de transformadores, que vai ajudar a suprir o mercado norte- americano, juntamente com as duas que a empresa já tinha no México.
Schmelzer explica que a estratégia da WEG prevê forte atuação no Brasil, México, China e Índia. “São países que enxergamos não apenas como grandes mercados potenciais, mas como locais que podem gerar benefícios muito grandes para a companhia em todos os setores: cadeia de suprimento, desenvolvimento e engenharia.”
Nem mesmo a chegada de Donald Trump e seu foco no fortalecimento da indústria americana parecem desviar a WEG da rota. Sobre eventuais riscos às suas operações no México, Schmelzer afirma que a maioria de seus competidores não fabrica nos Estados Unidos e que, por isso, qualquer medida restritiva atingiria a todos da
mesma forma. Além disso, um potencial fortalecimento da indústria naquele país abriria ainda mais mercado para a empresa.
Crescimento
Com esses dois pilares bem definidos e operando, o foco da WEG é continuar perseguindo o crescimento, que não virá fácil. A companhia trabalha com a perspectiva de que 2017 continuará sendo um ano difícil e que 2018, apesar de melhor, ainda não será um ano bom. “Mas acredito que o pior já passou. O que precisamos agora é crescer mais rapidamente e, para isso, é preciso encontrar uma forma de transformar as indústrias nacionais, incentivá-las a exportar”, defende.
Uma iniciativa nesse sentido traria resultados em curto prazo, mas a percepção é de que esta não é uma preocupação imediata da esfera federal. Schmelzer acredita que o governo está no caminho certo, mas alerta para falta de complementos. Apesar da determinação em realizar as reformas, faltam prioridades e, do lado do Congresso, agilidade para aprovar as reformas exigidas hoje pela sociedade. Um exemplo citado por ele é o ajuste fiscal que, mantido como vem sendo apresentado até aqui, não deve estimular as empresas nacionais. O ponto é que qualquer sinal de oneração da produção desanima os empresários. “Eu acredito muito no Brasil, mas não há país rico sem indústria forte. É possível inovar e ter desenvolvimento tecnológico e a WEG é um exemplo disso”, conclui.
“Acredito que o pior já passou. O que precisamos agora é crescer mais rapidamente.” Harry Schmelzer, presidente da WEG
Um pouco de história
Desde sua fundação, a WEG busca fidelizar clientes e investir em novos mercados
Criada em 1961, a WEG iniciou suas atividades na cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, fabricando
motores elétricos. A companhia foi fundada por Werner Ricardo Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus em 16 de setembro daquele ano, quando os três fundaram a Eletromotores Jaraguá. Algum tempo depois, a empresa ganharia uma nova razão social, a Eletromotores WEG S.A. O nome é a junção das iniciais dos três fundadores: Werner, Eggon e Geraldo.
Desde os primeiros anos de atuação a companhia adotou como estratégia de negócio a criação de uma ampla rede de assistência técnica altamente qualificada, para melhor atender os clientes e divulgar os produtos. Os primeiros assistentes técnicos da companhia foram credenciados ainda na década de 1960. Em 1968, acompanhando o rápido crescimento da produção de motores e a falta de mão de obra qualificada na região, a empresa criou o CentroWEG, escola profissionalizante que até hoje oferece acesso à educação técnica e oportunidade de ingressar na empresa após o término do curso.
A década de 1970 foi marcada pelo processo de expansão e pelos primeiros passos da empresa no mercado internacional. Foi o início da negociação das ações WEG na bolsa de valores e da exportação para países da América Latina. Em setembro de 1975, a empresa atingiu a marca de 1 milhão de motores elétricos produzidos, consolidando o nome WEG no mercado.
Na década de 1980 foram criados novos negócios: a Unidade Máquinas, especializada na produção de máquinas elétricas girantes de grande porte; a Unidade Acionamentos, para a fabricação de componentes eletroeletrônicos; e a Unidade Transformadores, para a produção de equipamentos de distribuição. Em 1983, a empresa ingressou no mercado de tintas industriais e eletro isolantes, com a criação da WEG Química, atual Unidade de Tintas. Finalmente, em 1986, foi criada a Unidade Automação, para desenvolver, produzir e comercializar produtos de automação industrial e pacotes elétricos.
A consolidação no mercado internacional progrediu na década de 1990, com a inauguração da filial de distribuição nos Estados Unidos e a aquisição de uma empresa na Bélgica. Em 1996 a WEG atingiu a marca de 100 milhões de motores produzidos, tornando-se a maior fabricante de equipamentos elétricos da América Latina.
A primeira década dos anos 2000 é marcada por uma série de aquisições internacionais (Argentina, Áustria, África do Sul, Alemanha, Colômbia, China, Portugal, México e Estados Unidos) e outras tantas no Brasil. A companhia também amplia sua participação no mercado de tintas e entra nos segmentos de energia eólica e de transformadores elétricos.
Em 2015 a companhia anunciou a aquisição da TSS Transformers (Pty) Ltd., fabricante de transformadores de alta tensão, mini-subestações, disjuntores moldados e serviços correlatos, em Heidelberg (Gauteng), África do Sul, e da Suntec, companhia fundada em 1979 na Colômbia, com ampla experiência na fabricação de transformadores a óleo e secos.