À procura de novas fontes de receita
Até mesmo o setor bancário, considerado à prova de turbulências econômicas, tem procurado novos caminhos para aumentar a rentabilidade
Os efeitos da crise que se instalou no Brasil também têm sido observados no sistema financeiro, em geral, não muito afetado por oscilações no cenário econômico. “Um dos principais fatores foi o desaquecimento do mercado registrado em 2016 que, por consequência, provocou o aumento da inadimplência. Com isso, vários bancos resolveram fechar a torneira do crédito, reduzindo em 3,5% o total de recursos da carteira”, diz Sérgio Biagini, sócio da indústria de serviços financeiros da consultoria Deloitte. “Para manter os bons níveis de rentabilidade, os bancos passaram a identificar outras linhas lucrativas, que, embora já existissem, não eram totalmente exploradas. Entre elas destacam-se as vendas de seguros, de planos de previdência, de capitalização, além da receita proveniente das tarifas de serviço”, comenta Biagini.
Há ainda outras medidas para aliviar custos e manter a lucratividade. Uma delas tem sido a redução do número de agências. Segundo dados do Banco Central, entre janeiro e maio de 2017 foram fechados 29 pontos de atendimento em todo o País. “Manter uma extensa rede física tem custos elevados. Além disso, devido ao avanço dos meios digitais, vivemos uma transformação no papel exercido pelas agências físicas, que passaram a ser mais um ponto de relacionamento com o cliente. É quase uma loja, onde se esclarecem dúvidas, se resolvem problemas e se vendem produtos. A elas também está reservado o papel de gerar posicionamento da marca junto ao público”, afirma Biagini.
Outras frentes também têm merecido atenção especial das instituições bancárias, sempre em busca de ganhos de produtividade, eficiência e redução de custos. Uma é investir em tecnologia para promover mais automação do chamado back office, departamentos internos das instituições responsáveis por vários serviços, como manuseios de documento, cheques, numerários para pagamento, processamento de envelopes de depósitos, entre outros. Há, segundo Biagini, muito espaço para soluções de automação desses serviços e sistemas, que, além de reduzir custos, trazem eficiência e confiabilidade.
Crescimento do mobile
As instituições também têm investido forte na capacidade de fazer com que a experiência do cliente nos canais se torne ainda melhor, mais rápida, intuitiva e amigável. Nesse sentido, ganha cada vez mais espaço o uso dos aplicativos para smartphones. Segundo dados de uma pesquisa realizada em 2016 pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), foram registradas 21,9 bilhões de transações bancárias por esses dispositivos – crescimento de 96% em relação a 2015 –, tornando-se o canal preferido dos brasileiros. O universo do estudo envolveu 17 instituições financeiras que representam 91% do mercado. Em termos de participação, o mobile lidera com 34% do total das operações, seguido pelo internet banking (23%).
Ainda de acordo com o estudo, os três principais tipos de transações realizadas pelo mobile banking foram transferências bancárias (DOCs e TEDs), pagamentos de contas e consultas de saldo. Outro dado importante da pesquisa apontou que 9,5 milhões de clientes já são considerados usuários frequentes do mobile banking. Ou seja, realizam mais de 80% de suas operações pelo canal. “O uso dos dispositivos móveis deve crescer ainda mais com o avanço das contas totalmente digitais. O consumidor demonstra confiança nos meios digitais e o setor vem investindo para oferecer cada vez mais funcionalidades e segurança para as transações bancárias”, comenta Gustavo Fosse, diretor setorial de tecnologia e automação bancária da Febraban.
Com a queda na taxa de juros, o mercado acredita que em 2018 possa haver maior crescimento no crédito, tanto para o segmento industrial quanto para o imobiliário
Disciplina para garantir a travessia
Busca por eficiência e menos risco na carteira de crédito ajudaram as instituições bancárias a superar com sucesso mais um ciclo recessivo
O Bradesco conquistou a primeira posição do ranking na categoria Bancos, na edição 2017 do estudo Estadão Empresas Mais, graças a um conjunto de virtudes, que vai da experiência dos seus 74 anos à ousadia na adoção de soluções tecnológicas, passando por altas doses de prudência. Nos momentos mais turbulentos, como os vividos pelo Brasil nos últimos anos, especialmente em 2016, foram esses alguns dos ingredientes que garantiram o sucesso de sua estratégia. “O desempenho do Bradesco em 2016 foi resultado de uma estratégia estruturada a partir de três pilares: a força comercial da rede de atendimento, a disciplina no controle dos custos e a blindagem da qualidade da carteira de crédito”, afirma o presidente, Luiz Carlos Trabuco Cappi. Para ele, esse mix de prioridades permitiu ao banco explorar seus diferenciais competitivos. “Foi importante para enfrentar com sucesso o ciclo recessivo do País. Para o grupo, também foi fundamental a participação da área de seguros.”
Força comercial, rígido controle de custos, inovação e bom atendimento foram algumas das estratégias dos líderes do segmento
Segundo Trabuco, houve ainda outras ações essenciais para garantir os bons resultados do banco, como o trabalho de fortalecimento do balanço. “O critério central foi buscar mais eficiência nos processos, sem perder as oportunidades comerciais. A receita de prestação de serviços cresceu, o lucro se manteve estabilizado e apropriado aos interesses dos acionistas e as despesas de custeio permaneceram sob controle.”
Crédito com menor risco
Outro banco que atravessou sem maiores sustos as turbulências do último ano foi o Itaú, que obteve a segunda posição no ranking da categoria. “Ficamos satisfeitos por conseguir apresentar resultados sólidos nesse cenário adverso. Nossa estratégia se baseou em duas grandes frentes: a ampliação da oferta de produtos de crédito com menor risco e a diversificação de produtos e serviços prestados aos nossos clientes”, afirma Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores. Nesse portfólio de ofertas, ele destaca segmentos como seguros, administração de recursos, adquirência e cash management, menos suscetíveis a ciclos econômicos do que os produtos de crédito.
Essas estratégias fizeram com que, em 2016, as receitas de prestação de serviços do banco crescessem 5,7% em relação a 2015, enquanto as despesas não decorrentes de juros cresceram 4,9%, o que, de acordo com Kopel, demonstra forte disciplina na gestão dos negócios.
O terceiro colocado no levantamento foi o Banco do Brasil, que também se mostrou seguro e competente para atravessar o ano sem sobressaltos. De acordo com a unidade de relações com investidores (URI) do BB, vários fatores justificam os bons resultados. Entre eles a inovação, fruto do investimento intensivo em tecnologia e novas soluções para os clientes, o foco em negócios rentáveis para o banco e o aumento do volume de negócios com os clientes.