Ajustes garantem rentabilidade
Crescimento de 0,6% em 2016 já é boa notícia em um momento tão complicado da economia brasileira
Com a recessão do ano passado, no qual a maioria dos setores econômicos encolheu ou, no máximo, empatou, até que o resultado obtido pelo setor de Atacado e Distribuição merece comemoração. Segundo levantamento divulgado pela Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), em 2016 o segmento cresceu 0,6% em termos reais e 6,9% em termos nominais, atingindo faturamento de R$ 250,5 bilhões. A Associação entrevistou 572 atacadistas e distribuidores de todo o Brasil, cujos dados foram analisados pela Nielsen em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA). O resultado, embora se aproxime da estabilidade, é considerado satisfatório, já que no ano passado o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu 3,6%.
A análise dos últimos três anos mostra que as empresas do setor têm procurado fazer os ajustes internos necessários para enfrentar a queda no consumo, puxada pelo desemprego resultante da retração econômica. “É um círculo vicioso: menor consumo, menor produção, menos empregos, menor renda, menor consumo… Enquanto o ambiente político-econômico não se estabilizar e os consumidores não recuperarem a confiança, as empresas que desejam sair fortalecidas deste período recessivo precisam ganhar eficiência e produtividade”, atesta Emerson Destro, presidente da Abad.
Lojas de bairro
Chama a atenção, na pesquisa, o crescimento de 11,3% do chamado “atacarejo” (que alia vendas por atacado e varejo), consolidando o modelo, principalmente neste período de alto desemprego e busca por preços mais baixos, como importante canal de abastecimento das famílias. Desde o início da década, quando os consumidores deixaram de fazer grandes compras, os hipermercados perderam força. São mais custosos e demandam tempo. Além disso, como precisam de grandes áreas para erguer uma loja, competem na busca por terrenos com o mercado imobiliário, o que dificulta sua expansão. “Aliás, neste momento, muitos varejistas estão repensando esse modelo de negócio. Já as lojas de rua, de vizinhança, passam pelo efeito contrário, principalmente nas grandes cidades, onde o formato tem crescido bastante”, aponta Reynaldo Saad, sócio-líder da área de bens de consumo e produtos industriais da Deloitte Brasil.
Outro ponto importante do estudo mostra que, nos últimos anos, o setor vem passando pela tendência de descentralização. Embora o Sudeste ainda concentre mais de 40% do faturamento, o Nordeste, desde 2015, o Norte e o Centro-Oeste, nos dois últimos anos, têm apresentado taxas de crescimento superiores à média nacional. Nas operações regionais, os custos com logística diminuem, o agente de distribuição está mais próximo ao cliente varejista e ao consumidor, podendo adequar melhor o seu portfólio de produtos. “Alguns ainda têm a vantagem de estarem em regiões que sofrem menos com a recessão, como é o caso do Centro-Oeste, que concentra grande parte da produção agrícola nacional e possui municípios que, apesar da crise, são verdadeiros oásis de crescimento, graças ao agronegócio. Tudo isso ajuda as empresas a prosperar”, explica Emerson Destro, da Abad.
Quais são as perspectivas para o setor nos próximos meses? O próprio Destro acredita que, com os ajustes feitos nos últimos anos, as empresas que sobreviveram ganharam musculatura e resiliência, estando mais preparadas para uma sólida recuperação no momento em que houver a retomada econômica. “A retomada já poderia estar encaminhada, não fosse a persistente turbulência no campo político, que influencia diretamente a confiança de consumidores e empresários.”
Desde o início da década, quando consumidores deixaram de fazer grandes compras, os hipermercados perderam força. Quem vem ganhando com isso são os chamados “atacarejos”
Lições e conquistas de uma tricampeã
Investimento em equipe, disciplina, controle de custos e inovação estão entre os principais fatores responsáveis por gerar bons resultados
A Raízen é, pela terceira vez consecutiva, a vencedora do estudo Estadão Empresas Mais na categoria Atacado e Distribuição. A empresa atua em várias áreas, como cultivo de cana-de-açúcar, produção de açúcar, etanol e geração de energia, além de comercialização, distribuição, varejo e exportação de combustíveis. Detém ainda uma rede formada por mais de 6 mil postos de serviço com a marca Shell, responsável pela comercialização de combustíveis e mais de 950 lojas de conveniência Shell Select. Com esse portfólio tão diversificado, faturamento de R$ 79,2 bilhões no ano passado e cerca de 30 mil empregados, a Raízen pertence ao rol das maiores empresas do País. Em 2016 teve forte crescimento em resultados financeios e operacionais, foco no desenvolvimento de pessoal e sucesso cada vez maior na atração e retenção de talentos. “Também ressalto a importância de termos mantido nossa disciplina de capital, desde os controles de custo e produtividade até a assertividade de nossos investimentos em infraestrutura, inovação e novos negócios orgânicos”, explica Leonardo Pontes, vice- presidente executivo comercial da companhia. “Aumentamos nossa participação no mercado em mais de um ponto percentual. O EBITDA cresceu 17% em relação a 2015, fruto da nossa estratégia de expansão aliada à firme gestão de custos, excelência operacional e inteligência em suprimentos”, acrescenta Leonardo Pontes.
Ética, inovação, investimento, expansão, visão de longo prazo e modernização são características comuns das empresas líderes
Sobre as dificuldades encontradas no setor, o executivo relata a questão da sonegação fiscal. “Não somos de reclamar e buscamos fazer o melhor sempre. Mas um tema que nos preocupa bastante é a competição desleal, com devedores contumazes de impostos que fazem disso seu principal negócio. Estimamos que cerca de R$ 5 bilhões por ano são sonegados somente no setor de combustível”, afirma Leonardo Pontes. E quanto ao futuro? “Para o próximo ano, seguiremos a agenda de sucesso que nos trouxe até aqui. Queremos encantar e fidelizar parceiros e clientes por meio da relação ética e profissional e, claro, também pela preocupação com inovação, aprimorando a relevância da nossa marca, dos produtos e serviços”, finaliza Leonardo Pontes.
Diferenciação e inovação
O segundo lugar na categoria Atacado e Distribuição coube à Ipiranga, que possui 7.743 postos de combustíveis localizados em todas as regiões do País, além de 54 bases e pools. “Temos uma visão de longo prazo, mantendo os níveis de investimentos com foco no ritmo acelerado de expansão e na modernização de nossa rede, de nossas franquias, de nossos centros de distribuição para abastecimento da rede AM/ PM e na ampliação da nossa infraestrutura logística”, comenta Leocadio Antunes, diretor superintendente da Ipiranga. Ele destaca ainda a estratégia de negócios voltada para a diferenciação e inovação, com foco na diversificação de produtos e serviços e na experiência positiva dos consumidores.
Entre as iniciativas mais importantes de 2016, Antunes ressalta lançamentos do Abastece Aí, aplicativo que oferece descontos no combustível pelo smartphone, e da nova gasolina aditivada (a DT Clean), ampliação da linha verde de lubrificantes Ipiranga – que ganhou versão voltada para o segmento de motores diesel leve, do Ipiranga Faz, com soluções customizadas para clientes do mercado empresarial –, de novos formatos de lojas AM/PM, tanto para postos da cidade quanto para de rodovias, e de novos produtos na linha de marca própria.