Gostinho de recuperação

No ano passado o setor já havia sentido um ligeiro aquecimento no consumo. Para os próximos meses, o clima é de otimismo

Tradicionalmente, o setor de alimentos e bebias é o primeiro a entrar na crise. Mas, quando o cenário econômico começa a melhorar, é também um dos primeiros a sair dela. É mais ou menos nessa transição que a indústria se vê nesse momento. Afinal, as pessoas podem alterar vários hábitos de consumo, mas não vão deixar de se alimentar. O crescimento, embora tímido, já começa a ser observado. “O ano passado foi marcado pela recuperação”, atesta Edmundo Klotz, presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA). “Em meados de 2016 as indústrias passaram a retomar o fôlego e a recuperar a confiança com perspectiva de maior estabilidade no cenário político e econômico e o anúncio das reformas aguardadas pelo setor produtivo”, acrescenta Klotz.

Segundo a Pesquisa Conjuntural divulgada pela própria ABIA, essa tênue retomada verificada em 2016 elevou o faturamento nominal das empresas que atuam na área em 9,3%. Esse resultado, inclusive, fez com que o segmento de alimentação permanecesse com o maior faturamento da indústria de transformação, totalizando R$ 614,3 bilhões. A receita real também mostrou sensível melhora. Em 2015 havia recuado 3,14%. Em 2016, como resultado da recuperação, aumentou 1,02%. As exportações cresceram US$ 1,2 bilhão (US$ 36,4 bilhões em 2016 contra US$ 35,2 bilhões em 2015), o que fez com que a participação do setor no saldo da balança comercial brasileira também fosse expressiva.

Em 2016, a indústria de alimentação contribuiu com saldo de US$ 31,5 bilhões para o superávit total da balança comercial do País, que totalizou US$ 47,7 bilhões. Com relação a investimentos, incluindo fusões e aquisições, em 2016 o setor movimentou R$ 20,6 milhões. “Por ser um segmento muito competitivo, a necessidade de inovação é constante”, afirma Klotz.

Parte desses recursos foi destinada à melhoria do uso de alguns recursos, como energia e água, ao desenvolvimento de práticas de produção mais sustentáveis e na criação de novas tecnologias para a produção de embalagens.

Nova realidade
Como tem acontecido com vários outros segmentos da economia, as empresas que atuam na área da indústria de alimentos e bebidas também têm buscado se adaptar ao momento vivido pelo País. “Nos períodos de crise, o setor tem que buscar inovações no mercado interno e oportunidades no externo. No Brasil, com a queda da renda, o desemprego e o endividamento das famílias, o poder de compra ficou mais restrito. Com isso, o consumidor tornou-se mais seletivo e focou em produtos mais básicos”, aponta Edmundo Klotz, presidente da ABIA. “Por outro lado, as empresas que produzem alimentos de maior valor agregado buscaram diversificar seu portfólio, seja na apresentação de novos sabores ou em embalagens e preços mais competitivos, visando manter seu padrão de vendas”, acrescenta. Já com relação às exportações, os movimentos mais marcantes são de grandes empresas com vocação direcionada a mercados externos, principalmente nas áreas tradicionais de café, açúcar e de proteína animal.

Diante desse cenário, as perspectivas para a indústria brasileira da alimentação em 2017 se mostram mais otimistas. “Pelo lado da demanda, a depender do avanço da agenda de reformas, consideradas fundamentais para a credibilidade do ajuste fiscal e da economia brasileira, a trajetória de queda da inflação e a redução das taxas de juros em curso poderão beneficiar a retomada do consumo e ampliar os investimentos”, finaliza Klotz.

A indústria de alimentos e bebidas é um dos setores da economia que mais geram empregos diretos no Brasil. São cerca de 1,6 milhão de trabalhadores

RETORNÁVEIS: Maior produção de garrafas de vidro continua sendo uma das estratégias da Ambev

Foco na estratégia e investimento nas marcas

Apesar das incertezas econômicas, as empresas apostam em inovação e no bom relacionamento com os consumidores para voltar a prosperar

Ser apontada, pelo terceiro ano consecutivo, como líder da categoria Alimentos e Bebidas no estudo Estadão Empresas Mais, dá à Ambev a certeza de que sua estratégia de sintonia com o gosto do consumidor tem sido bem-sucedida. “O Brasil tem passado por um momento econômico desafiador, com altos índices de desemprego e menor renda disponível dos consumidores, o que impacta diretamente a indústria de cerveja. Mas confiamos na nossa estratégia”, diz Ricardo Rittes, vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Ambev.

De acordo com ele, isso significa que a empresa mantém o foco na perenidade do negócio, independente dos ciclos econômicos. Para isso, segundo ele, a política comercial e o relacionamento com os consumidores são dois pilares fundamentais. “Acreditamos que momentos assim são, na verdade, oportunidades para o surgimento de novas ideias e para fortalecermos as nossas bases para o futuro.”

Planejamento de longo prazo e diversificação de produtos foram algumas das ideias que ajudaram as líderes a atingirem bons resultados

Rittes acredita que, embora o ano de 2016 tenha sido um período bastante difícil para toda a indústria de cerveja, a Ambev continuou a pautar suas decisões pensando no consumidor. “Traçamos um plano de longo prazo, com o objetivo de reforçar nossas principais marcas, acelerar o segmento premium, reforçar a categoria near beer – como chamamos as bebidas à base de malte – e expandir a nossa participação em ocasiões de consumo dentro e também fora de casa.”

Entre as apostas da empresa em 2016, estão o aumento da oferta de garrafas de vidro retornáveis – mais acessíveis aos consumidores, por serem até 30% mais baratas –, a ampliação de portfólio, com as minigarrafas retornáveis de 300 mililitros, e o investimento de R$ 1,5 milhão para o desenvolvimento de uma máquina de coleta própria para a troca das retornáveis. Tudo isso, segundo Rittes, possibilitou a ampliação do volume de vendas para os supermercados: “Hoje, uma em cada quatro garrafas vendidas nesse canal já é retornável”. Outras inovações foram o desenvolvimento da linha Skol Beats e o lançamento do terceiro sabor da bebida, a Skol Beats Secret, que contou também com uma tecnologia inédita para criar o primeiro vidro vermelho industrial.

A terceira colocação do ranking Estadão Empresas Mais na categoria Alimentos e Bebidas ficou com a JBS, considerada a maior empresa privada do Brasil e a segunda maior de alimentos no mundo, com aproximadamente 235 mil colaboradores. Em 2016, de acordo com a empresa, foram adotadas algumas estratégias de diversificação, com ênfase em produtos de valor agregado, alto padrão de segurança alimentar e qualidade, norteados pela excelência operacional. Com essa diversificação e o acesso à matéria-prima em várias partes do mundo, ainda segundo a JBS, foi possível mitigar algumas volatilidades, como as relacionadas aos ciclos das commodities e às barreiras comerciais e sanitárias. No cenário internacional, um dos principais destaques de 2016 veio dos Estados Unidos, com o novo ciclo de disponibilidade de bovinos, que provocou impacto positivo para a rentabilidade da empresa no segundo semestre, prolongando-se para início deste ano.

 

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