À espera de uma colheita melhor

Em 2016, o recuo do segmento foi grande. Para 2017, porém, a perspectiva é de crescimento de 9,5%

Nos últimos 22 anos, o agronegócio teve uma participação que oscilou entre 21% e 25% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional – com exceção dos anos de 2003 e 2004, quando o campo teve picos de 28%. Isso significa que, nas últimas duas décadas, aproximadamente um quarto da riqueza brasileira teve raízes na produção rural. No entanto, em 2016, o segmento agropecuário também sentiu os impactos das crises política e econômica que já vinham comprometendo o crescimento de vários outros setores.

Para piorar, na última safra muitos produtores rurais sofreram grande prejuízo por causa dos efeitos das adversidades climáticas, que afetaram várias lavouras, como o caso de produtores de grãos e café. Tudo isso criou um ambiente ruim e fez com que o PIB agropecuário recuasse 6,6% no ano passado. “Até então, vínhamos apresentando bons resultados frente aos demais segmentos da economia. Entretanto, essa quebra de safra apresentou, mais uma vez, a necessidade de uma política de Estado mais eficiente. Ou seja, uma política de seguro rural condizente com as necessidades de um país tropical”, comenta João Martins, presidente da Confederação da Agricultura Pecuária do Brasil (CNA).

A boa notícia é que, apesar do resultado ruim de 2016, as perspectivas para este ano são animadoras. E isso devido a vários fatores. “Um deles é o dinamismo e a aptidão dos produtores rurais que, apesar dos prejuízos passados, fizeram um bom planejamento para a safra atual (2016/2017), adotaram diferentes técnicas de manejo e mantiveram investimentos em tecnologia em busca de ganhos de produtividade”, ex- plica o presidente da CNA. Além disso, neste ano, durante o desenvolvimento da safra na maioria das regiões produtoras, as condições climáticas foram favoráveis. Outros pontos positivos foram a aprovação, por parte do governo, do parcelamento e alongamento das dívidas de custeio e o investimento de produtores de arroz do Rio Grande do Sul, de milho de Mato Grosso e Goiás e dos produtores de soja, milho e algodão da região conhecida como MATOPIBA (Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia). O que, segundo João Martins, presidente da CNA, “era um pleito antigo para reduzir os prejuízos dos produtores que tiveram suas lavouras afetadas. Com a possibilidade de renegociar as parcelas de crédito, eles conseguiram manter os investimentos”.

Aposta no comércio exterior
Diante dessa nova conjuntura e com uma safra recorde de grãos em 2017, acredita-se que o agronegócio apresente crescimento de 9,5%, muito superior ao provável aumento do PIB brasileiro, que deve car em tímidos 0,3% ou até menos. “O que comprova, mais uma vez, que o setor é o responsável em manter o PIB do País em patamares positivos. Além disso, o agronegócio abriu 117 mil novas vagas de emprego no primeiro semestre deste ano, o que demonstra ser o segmento mais dinâmico da economia”, finaliza o presidente da CNA.

O desaquecimento do mercado interno trouxe outra consequência. Ele fez com que os produtores rurais procurassem novos mercados. E, assim, o comércio exterior passou a ser visto como uma boa opção de negócio, provocando interesse de pequenos e médios produtores em se capacitar e conhecer os procedimentos para exportação. Com isso, cresceu a procura pelo projeto InterAgro, da CNA, em parceria com a Apex-Brasil, que capacita produtores e profissionais do agronegócio para comercialização com outros países, o que tem permitido a inserção de diferentes cadeias agropecuárias no ambiente de comércio exterior, como tem sido o caso de pescados, flores, mel, frutas, entre outros.

No primeiro semestre de 2017 foram abertos 117 mil novos postos de trabalho, o que demonstra a força e o dinamismo do campo

FAZENDA TANGURO (MT): Localizada em Querência, a fazenda tem 87 mil hectares. Cerca de 37 mil hectares são dedicados ao cultivo de milho e soja. O restante é reserva legal preservada

Chegou a hora da terra voltar a dar lucro

Tudo indica que as nuvens pesadas foram embora. Agora, a previsão é de que o sol deve voltar a brilhar no agronegócio brasileiro

Em um cenário adverso, como foi o registrado em 2016, nem o agronegócio, que durante vários anos somou resultados positivos, escapou ileso. Até mesmo a Amaggi, que atua simultaneamente em várias etapas da cadeia, como produção, logística, transformação e comercialização, primeira colocada no levantamento Estadão Empresas Mais na categoria Agricultura e Pecuária, tem sentido os reflexos da crise. Entre 2015 e 2016, a empresa viu seu faturamento anual cair de US$ 3,8 bilhões para US$ 3,4 bilhões. “Mesmo diante das limitações impostas pela crise, mantivemos nosso trabalho de estímulo ao desenvolvimento de nossos produtores parceiros e fornecedores, bem como o empenho por uma cultura mais e ciente em nossas lavouras, com aumento de retorno nas áreas plantadas e maximização no uso das áreas de segunda safra”, aponta Waldemir Ival Loto, presidente da Amaggi.

Aumento da produtividade, revisão de custos e despesas e desaceleração de alguns investimentos foram as saídas para driblar os desafios

Em 2016, além das incertezas na economia, outros fatores afetaram os resultados financeiros de quem atua no segmento. Um deles foi a seca prolongada. Outro, segundo o presidente da Amaggi, foi a chegada de novos concorrentes. “Apesar de tudo, temos expectativa de crescimento dos volumes de grãos movimentados, embora com margens menores, e acreditamos na ampliação de parcerias para superar as dificuldades do cenário. Diante dessa expectativa alta em torno da produção de grãos e fibras no Brasil para 2017 e em função do posicionamento logístico conquistado pela empresa, acreditamos que temos tudo para atingir melhores resultados neste ano”, acrescenta Loto.

Em busca da prosperidade perdida, a empresa não parou de investir. Recentemente, a Amaggi iniciou a operação de uma nova misturadora de fertilizantes em Comodoro (MT), ampliou a atuação no Corredor Norte para escoamento de grãos por meio da aquisição de 50% da Estação de Transbordo em Miritituba e do Terminal Portuário de Barcarena (ambos no Pará), elevou a capacidade de armazenagem de grãos em 200 mil toneladas, expandiu o plantio de algodão em 25% se comparado ao ano anterior e ampliou a frota fluvial para elevar a capacidade de transporte no corredor Madeira-Amazonas de 3 milhões para 5 milhões de toneladas de grãos.

Novos horizontes
Dificuldades semelhantes foram encontradas – e superadas – pela SLC Agrícola, segunda colocada no estudo. “2016 foi difícil para o agro. Por isso, tornou-se ainda mais importante nos apoiarmos em nossos pontos fortes para atingirmos um resultado satisfatório, mesmo em um ano de grandes desafios. Tivemos de agir de forma assertiva e revisar nossos planos, cortando investimentos não cruciais, focando no controle de custos e despesas e na gestão inteligente do capital de giro. Com isso, conseguimos encerrar o ano com lucro e com indicadores financeiros confortáveis. São nesses momentos difíceis que vemos como é importante ter uma empresa bem organizada e estruturada para responder aos desafios e suportar os períodos de menor rentabilidade”, analisa Aurélio Pavinato, diretor presidente da SLC Agrícola, cujo foco é atuar na produção de algodão, soja e milho em suas fazendas nos Estados de RS, MT,MS,GO,BA,PIe MA.

Com relação ao futuro, Pavinato também acredita em dias melhores. “O ano de 2017 está sendo extremamente favorável. Colhemos uma safra de soja muito boa e estamos colhendo uma excelente safra de algodão, atingindo recordes de geração de caixa e lucro. Nossa alavancagem financeira deverá encerrar o ano em patamares que permitam investimentos mais altos no futuro próximo. Temos focado nossos esforços em otimização da operação existente, na venda de ativos e na busca de iniciativas que permitam agregar valor a nossos produtos”, comenta o diretor presidente da SLC Agrícola.

 

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